quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A história de Mr. John

John Ravenway era um homem rico e respeitado. Herdara grande fortuna de família e seguira a tradição política de seus antepassados. Era um dos “homens fortes” do parlamento britânico. Morava em uma mansão, que ele mesmo comprara após a morte de seu pai, no mais respeitável bairro londrino. Com exceção do grande número de empregados, a única pessoa que morava com ele era a sua jovem esposa. Sir John era um homem alto e demasiado gordo. Tinha cabelo e barba grisalhos, pois já passara dos 60 anos. Sua esposa possuía 19 anos, mas casara-se aos 15. Fora praticamente comprada, sendo que viu Sir John poucas vezes antes do casamento. A jovem era de média estatura. Tinha grandes olhos negros, e seus cabelos caíam em pesados cachos de ébano até a cintura. Seu rosto era de uma beleza clássica, e seu corpo parecia modelado à perfeição. Chamava-se Kat.

Kat Ravenway sofria frequentemente seções que podem ser definidas como estupros. Além de ser espancada, também com freqüência, pois Sir John acreditava ser dela a culpa pela ausência de filhos do casal. Kat possuía uma criada destinada única e exclusivamente a atendê-la. Chamava-se Lisa, e era um ano mais nova que Kat. Era uma jovem alta e excessivamente magra. Possuía longos cabelos louros que pareciam um véu da mais fina ceda a cair sobre ela. Sua pele era de incrível palidez, e seus olhos de um magnífico azul-celeste. Lisa tornou-se a confessora de Kat, e elas tornaram-se melhores amigas. Afinal, dividiam certas angústias, uma vez que Lisa também era vítima dos freqüentes estupros de Sir John. O político respeitável e grande benfeitor da sociedade londrina, para elas não passava de um monstro. Unidas pela dor, um grande amor nasceu entre as duas jovens.

Por um ano manteram seu relacionamento em segredo, e continuaram a viver sob domínio de Sir John. Quando chegou a época de eleições no parlamento, Sir John tornou-se demasiado ocupado, a ponto de raramente aparecer em casa. Foi nesta época que as jovens decidiram fugir. Kat entregou todas as suas jóias à Lisa, e ordenou que ela vendesse-as secretamente. Feito isso, ainda sob as ordens de Kat, Lisa foi ao porto e comprou duas passagens para a América, com partida marcada para o dia das eleições do parlamento. Kat sabia que nos dias próximos à eleição Sir John certamente não teria tempo de ir para casa.

O dia finalmente chegara, e Sir John Ravenway fora eleito primeiro ministro britânico. Toda a ambição de uma vida fora coroada naquele instante. A comemoração foi até altas horas da madrugada, nos bordéis mais luxuosos de Londres. Sir John chegou em casa junto com os primeiros raios da aurora. Todos os empregados esperavam-no na porta, exceto Lisa. Mas ele não deu muita importância ao fato. Mais tarde ele teria a sua comemoração com a loura. A ausência de Kat causou-lhe uma grande curiosidade, e ele considerou tal atitude um enorme desrespeito. Haveria de dar um corretivo em sua esposa. Mas o que mais lhe chamou a atenção não foi a ausência das duas moças, mas sim a expressão dos empregados que vieram recebe-lo. Ele esperava grande alegria e entusiasmo, mas os seus empregados estavam visivelmente constrangidos, poder-se-ia dizer, até mesmo, apavorados.

– Que caras são estas? – Indagou Sir John. – Hoje o dia é de festa! Vamos comemorar a minha vitória!

Então Charles, o mordomo, deu um passo à frente e disse, como se anunciasse um enterro – Lady Kat e sua criada pessoal Lisa desapareceram. Inicialmente pensamos que elas pudessem ter sido seqüestradas para forçar o senhor a desistir da eleição, mas após examinarmos os aposentos das moças, tornou-se evidente que elas fugiram. Levaram suas roupas e objetos pessoais, inclusive as jóias de Lady Kat. Todas elas.

Transcorreram cerca de dez minutos, que mais pareceram uma eternidade, até que Sir John se recuperasse do choque e conseguisse falar. Com um brado furioso ele ordenou: – Encontrem-nas! Procurem na estação de trem e no porto! Eu as quero aqui antes do meio-dia! Encontrem-nas! E não ousem voltar de mãos vazias! Encontrem-nas! – Mas já era tarde demais. O navio havia partido para a América no início da noite.

Sir John, utilizando a influência de seu novo cargo, conseguiu rapidamente as listas de passageiros dos navios que haviam saído do porto naquele dia. Não tardou a encontrar o nome de duas mulheres, estando elas na mesma cabine, Kat utilizando seu nome de solteiro, Angwood. Sir John ficou tão transtornado ao confirmar que sua esposa e sua concubina haviam fugido juntas, que destruiu seu quarto em um ato de extrema fúria.

No mesmo dia Sir John Ravenway renunciou ao seu cargo de primeiro-ministro e à sua posição no parlamento. Antes mesmo do dia terminar, demitiu todos os empregados e vendeu sua casa em Londres, mudando-se para um hotel, levando apenas duas mudas de roupa e seus objetos pessoais. Ao final daquela semana, Sir John havia vendido todas as propriedades da família na Europa, e na noite do sétimo dia após a fuga das jovens, Sir John pegou a fortuna que tinha em mãos e embarcou para a América. Em sua mente havia um só pensamento: vingança!

Já fazia seis meses que Kat e Lisa moravam na América, e sua vida era tranqüila. Ao chegarem ao porto de Boston elas decidiram dirigir-se à Nova Iorque, onde se estabeleceram. Usaram o que sobrara da venda das jóias de Kat para comprarem um casarão, em um bairro calmo da cidade, e ali abriram uma pensão. As moças viviam bem, mas sabiam que jamais poderiam assumir o seu relacionamento, pois a sociedade moralista nunca admitiria o amor entre duas mulheres. Então, continuavam a amar-se em segredo. Elas souberam da renúncia e do desaparecimento repentino de Sir John, mas jamais cogitaram a hipótese dele ter vindo atrás delas. Não pensaram mais nele, elas queriam deixar as lembranças ruins no passado, e viver uma vida feliz.

Ao chegar ao porto de Boston, Sir John Ravenway chamava-se John Crow. Um simples empreendedor inglês que veio tentar a vida na América. Encontrou dificuldades para seguir os passos das moças, e somente após passar três meses em Boston, descobriu que elas haviam se dirigido para Nova Iorque. Lá chegando, John levou mais um mês para encontrar a pensão. Mas ele não se revelou às jovens. Descoberto o seu paradeiro, ele não precisaria ter pressa. Comprou uma mansão em um bairro próximo ao da pensão, e abriu uma firma de advocacia, a Crow Law & Order, cujo símbolo era um grande corvo negro que levava uma balança prateada no bico. John era formado em direito, e sua notável habilidade mostrou-se de forma intensa, sendo que ao final de um ano em Nova Iorque, a Crow Law & Order era uma das mais reconhecidas empresas de advocacia da cidade. Sua enorme habilidade como advogado só era superada pelo seu incomparável talento com as finanças. John havia aumentado de forma imensurável sua fortuna, e ficara tornara-se um dos advogados mais ricos da América. Ao final de um ano naquela cidade, já tendo consolidado o nome de sua firma, ele deixou-a nas mãos dos advogados que cuidadosamente escolhera. Agora ele poderia dedicar-se ao verdadeiro motivo de sua existência: a vingança!

John Crow era agora um homem de magreza esquelética. Os olhos negros eram encovados, e ele não possuía mais barba. Seus cabelos, outrora grisalhos, estavam completamente brancos, e ele andava levemente curvado. Com intenso treinamento, ele extinguira seu sotaque britânico, substituindo-o pelo falar típico dos nova-iorquinos. Era provável que nem sua própria mãe o reconhecesse. Isso facilitaria a sua aproximação das moças.

Kat e Lisa dormiam no terceiro andar do casarão. Seus quartos possuíam uma porta que os interligava. O quarto de Kat era mobiliado com uma cama de casal, onde as duas jovens secretamente dormiam juntas todas as noites.

John Crown havia contratado um detetive particular para informar-lhe sobre as moças. Este senhor, de nome Paul, estava hospedado na pensão delas já haviam seis meses, sendo que entregava um relatório semanal ao senhor Crown, de forma que John já conhecia toda a rotina das jovens inglesas.

Certa noite, já passado das onze horas, John Crow estacionou uma carroça em frente à pensão das moças. Todas as luzes já se encontravam apagadas. John esperou alguns minutos, até que Paul, silenciosamente, abriu a porta lateral do casarão. Os dois carregaram várias caixas ao porão. Quando acabaram, John deu uma significativa quantia ao homem, e mandou-o desaparecer da cidade, para sempre. Paul já estava com a sua mala pronta, e partiu imediatamente, deixando John Crow no porão da pensão, com dez caixas fechadas. Ao ficar sozinho, John sentou-se em silêncio por alguns minutos. Finalmente, abriu uma das caixas e retirou uma dentre muitas bananas de dinamite. Ele emendou a esta um longo pavio, que chagava até a porta lateral da velha casa. Já do lado de fora, ele pegou uma caixa de fósforos, e os seus olhos se iluminaram com o prazeroso sabor da vingança.

– Finalmente: vingança! – murmurou para si mesmo. Então abaixou-se, riscou um fósforo, acendeu o pavio, e saiu em uma corrida desenfreada. Já estava longe quando a descomunal explosão fez tremer o chão aos seus pés.

– Finalmente: vingança! – murmurou novamente, com o brilho da loucura em seus olhos, enquanto observava a grossa coluna de fumaça que se erguia onde fora a pensão das moças.

As investigações da polícia não chegaram a nenhuma conclusão relevante, motivo pelo qual o inquérito foi arquivado. Depois daquela fatídica noite, John Crow reassumiu seu posto na Crow Law & Order, e voltou a ser o respeitável advogado de Nova Iorque. Menos de seis meses depois do assassínio, ele casou-se com uma senhorita nova-iorquina, de 18 anos de idade. Chamava-se Mary. Nos dois primeiros anos de casamento tiveram duas filhas, de nomes Katherine e Elisabeth. No terceiro ano, Mary Crow não resistiu à tuberculose, e veio a falecer.

John Crow era um dos homens mais ricos da América, dono da maior empresa de advocacia do país. E agora, aos 71 anos, estava viúvo, com duas filhas de 2 e 1 anos para criar. John mal parava em casa após a morte de sua mulher, a quem realmente amara, e tratara como uma rainha. E ela também o amava, o que tornou ainda mais dolorosa a perda de John. Ele não conseguia olhar para as meninas sem lembrar-se de sua querida Mary. Justamente por isso, após enviuvar, John não dava nem uns poucos minutos de atenção e carinho para elas.

Aos 80 anos John parou de advogar, embora conservasse o controle acionário da Crow Law & Order. Decidira dedicar-se à literatura jurídica. Katherine tinha 11 anos e Elisabeth, 10. A primeira possuía longos cabelos, negros como ébano, que lhe caíam em cachos até a cintura. Tinha olhos negros de azeviche e um corpo demasiado curvilíneo para a idade. Era uma linda menina-moça. Elisabeth era demasiado alta para sua idade. Seus longos cabelos louros extremamente finos assumiam um tom muito claro de dourado. Era mais magra que sua irmã, e possuía os olhos de cor azul-celeste. Elas assemelhavam-se muito com Kat e Lisa, o que deixava John profundamente perturbado, e constituía mais um motivo para ele evitar a presença delas.

Em certa noite de tempestade, John dormia profundamente em seu quarto, após algumas doses de brandy. As meninas entraram, silenciosamente, arrastando um grande saco de estopa. Elas amarraram as mãos e os pés do John com lenços de seda negra. Devido ao brandy, ele só acordou quando já estava sendo amordaçado. Tentou gritar e livrar-se furiosamente, mas seu fôlego já não era o mesmo de outrora, e em pouco tempo aquietou-se. Ficou deitado, imóvel, observando as meninas com olhos arregalados, num misto de raiva e medo. Elas estavam calmamente sentadas na beirada da cama, com um sorriso sinistramente perverso. Sem dizer uma palavra sequer, elas entregaram-se a um longo beijo. Sem nenhuma pressa, deliciando-se com o momento, elas vieram a ter, em cima do velho amarrado e amordaçado.

Passadas duas horas, elas levantaram-se e vestiram-se. Katherine aproximou-se de John e disse-lhe com um sorriso de satisfação – adeus pai – e deu-lhe um beijo na testa. Elisabeth permanecia imóvel ao lado da cama. Katherine remexeu o grande saco que estava sobre o tapete, e dele tirou uma navalha suja e enferrujada. John entrou em pânico. Tentava soltar-se freneticamente. Mas seus abafados gritos de horror mal eram ouvidos no aposento. As meninas ficaram paradas a observar-lhe. Quando John perdeu as forças Katherine aproximou-se dele, e com um golpe certeiro cortou sua garganta de um lado a outro. Elas ficaram imóveis assistindo John contorcer-se enquanto o sangue encharcava os lençóis de seda. Até que, finalmente, ele aquietou-se.

As meninas retiraram do saco um mendigo de horrível aparência. Em suas costas havia algo cravado, algo com o cabo de prata encravado com rubis. Elas jogaram-no sobre o corpo de John. Katherine colocou a navalha com que matara John na mão do mendigo, e recolheu os lenços de seda e o grande saco, entregando tudo a Elisabeth. Elas despediram-se com um longo e ardente beijo. Elisabeth foi para o seu quarto, onde guardou os lenços de seda, e jogou o saco de estopa pela janela. Os cachorros imediatamente entreteram-se com ele, rasgando-o e levando os pedaços para o canil, onde se perderam entre os panos velhos que forravam suas camas.

Katherine permanecera no quarto de John, e após exatos 10 minutos, começara a gritar desesperadamente.

O relatório da polícia chegou à seguinte conclusão: “Um mendigo, de identidade desconhecida, invadira a casa do senhor John Crow e subira ao seu quarto, onde cortara sua garganta com uma navalha enferrujada. A filha do senhor John, Katherine Crow, acometida por uma insônia, ao sair de seu quarto em direção à cozinha, deparou-se com a porta do quarto de seu pai totalmente aberta. Como este não era um fato comum, ela encaminhou-se para o quarto do senhor John e, ao chegar à porta, deparou-se com o mendigo debruçado sobre o corpo ensangüentado de seu pai. Num impulso, a senhorita Katherine pegou seu prendedor de cabelos e enterrou-o nas costas do mendigo. O mendigo caiu morto sobre o corpo do senhor John, e a senhorita Katherine começou a gritar desesperadamente, o que levou os empregados da casa e a senhorita Elisabeth Crow, também filha do senhor John, ao quarto. Como já foi dito, a identidade do mendigo é desconhecida, mas estipula-se que era um homem que fora prejudicado pela ação do senhor John Crow como advogado, e em virtude disso perdera todos os seus bens, vindo a se tornar mendigo. Isto constituiu o provável motivo. É desconhecido o modo como o mendigo entrou na mansão Crow.”

John Crown não possuía um testamento, de modo que Katherine e Elisabeth, como suas únicas filhas, herdaram toda a sua fortuna. Uma semana após o enterro de seu pai, as meninas venderam todas as ações da Crow Law & Order. Em um mês venderam todas as suas propriedades na América. De posse de imensa fortuna, compraram uma grande casa de campo nos arredores de Londres, e para lá se mudaram, a fim de viver suas vidas na tranqüilidade do campo, livres para deliciarem-se com todo o amor que possuíam uma pela outra...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Na falta de inspiração, eis o que me inspira

"O exagero pra mim não há. Na verdade, ele sai de uma pura comparação com os outros. Mas vocês, também seres humanos, escolheram isso. Eu não. Eu escolhi viver na desgraça ou na euforia. E é essa maldita escolha que me pesa todos os dias, com qualquer palavra ou ato ou olhar que possa parecer atravessado. O mundo termina fácil, e a vida recomeça num instante."

"Não sou feliz. Ninguém é. E isso não é ruim. Não é, acredite. Meu "quero tudo, e quero agora" tem um sentido, objetivos e planos, mas sem deixar de vivê-los agora. Quero o extremo da euforia, da alegria, do prazer; e quero também o extremo da tristeza, do desespero e da dor. Só isso nos transforma; e é pra isso que eu vivo agora. Pra me transformar, e transformar quem quiser. Não mais um rosto inchado de mágoa, não mais muros, não mais máscaras: Minha face limpa, e um sorriso apenas. E muita vontade de ir além do que é permitido, de ultrapassar os limites da razão e da loucura, e de não se arrepender. Somente aprender, e ensinar."

Textos by Carla Marcolin, "bailarina, egocêntrica, escandalosa..."



P.S.: Sexta vou-me embora para Vila Tamanduá.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Vincent

And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted - nevermore!


terça-feira, 27 de novembro de 2007

Tarja-preta

Eu falei que era muita cafeína. E sempre me aparece uma mulher tarja-preta. Cara, de onde elas vêm? Esta, em especial, vem lá de longe. Vício. Na certa. Ainda mais pra alguém como eu. Parado aqui, esperando alguma coisa em que se viciar. Dança, dança, dança. Cara, o que foi aquilo? Foi ilusão. Foram os efeitos de alguma daquelas drogas. Não, não é real. É só mais um conto do Kafka. É só um ópio contemporâneo. De primeira qualidade. Foge cara, foge enquanto é tempo. Bebe mais. Dança, dança, dança. Luzes. Que coisa doida! Pega, puxa, beija, foge, transa, volta, bebe, dança, delira. Já tá viciado. Aqueles olhos, cara. Fissura! Aquela boca. Aquela dança que mais parece uma transa com aquelas outras meninas. Fodam-se as outras! Cara, que corpo. “Demasiado humana.” Cheia de vontades e desejos e luxúrias. Deixando todos alucinados. Cara; tarja-preta. Me deixa alucinado como leão que sente o cheiro de leoa no cio. Sinto seu cheiro, sinto seu gosto. Química, é coisa de pele. Quando tu pega, tu já sabe. É tarja-preta. Um beijo é letal. Tu sabe, quando as suas línguas molhadas se tocam, que tu vai morrer. Seja por overdose ou por crise de abstinência. E ela vai continuar viciando meninos e meninas por aí. "Mulheres tarja-preta, contra-indicadas, que causam dependência física e psíquica." E eu já estou viciado.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Compreensão

Sentei-me aqui novamente. Como nos dias de outrora. Sentei-me no mesmo lugar. As duas almofadas de couro nas costas. O tapete felpudo sob mim. A velha e conhecida dor de cabeça permanente. A dor na nuca por se debruçar horas a fio em cima de livros e cadernos sem sentido. O estômago revirado de álcool e comprimidos variados. O gosto de café amargo quase doce, com muito açúcar, na boca. O suor. O cheiro de suor. A camisa encharcada. Chegou um novo verão. Que é como os velhos verões. Todos os verões são iguais. Quentes como desertos. Quentes como o inferno. Também chegaram novas angústias e amarguras. Elas sempre chegam. Culpas severas. Dilacerando a alma em mordidas pequeninas. Segundos que se tornam minutos que se tornam horas. E as mordidas pequeninas continuam. Até que se forma um buraco enorme dentro de mim. E eu caio naquele abismo infinito de dentro de mim querendo voltar e não querendo votar e querendo me segurar e não querendo me segurar e as mordidas pequeninas continuam e o buraco vai aumentando e eu vou caindo cada vez mais fundo até me perder de vista. E quando eu me perco de vista há dois caminhos possíveis: a morte ou aquele caminho que me é desconhecido. Geralmente quando as pessoas caem tão fundo elas optam pela morte. O outro caminho parece ser muito mais difícil, parece não valer a pena tanto esforço pra voltar a esta vida miserável que temos aqui. E isto é tudo o que temos aqui: uma vida miserável. Por mais que tenhamos muito, de qualquer coisa, dinheiro ou talentos, nós somos miseráveis, por condição básica de existência, e nós temos vidas miseráveis, pois é tudo que podemos ter.

O tempo passa. Passaram-se anos e eu voltei para o mesmo lugar com os mesmos sentimentos e pensamentos. Solidão e fascínio pela morte. Afinal, a morte pode ser um fim ou pode ser um novo começo. E as duas idéias me parecem extremamente agradáveis. Fatalidade ou liberdade.

Estas percepções de hoje, por mais variadas que possam ser, não me satisfazem mais. Novas ou velhas, intensas ou superficiais, permanentes ou passageiras, a verdade é que eu estou cansado das minhas percepções. Até hoje elas só me levaram a um mesmo lugar, sempre. Este velho buraco escuro, que eu conheço tão bem, em seus mínimos detalhes, cada rachadura negra, e eu aqui, jogado pelas minhas percepções, aprisionado por mim mesmo, sozinho neste velho buraco escuro de rachaduras negras. Jogando xadrez com a morte. De quantos xeques eu conseguirei me salvar? Não sei.

Fecho os olhos e tento dormir sabendo que não vou conseguir. Minha boca seca. Penso em amores perdidos e ilusões despedaçadas. Suo, estômago e cabeça doem. Estou sozinho. Sempre e para sempre. O que há de tão glorioso em ser? Em existir? Acho que estou deixando de ser existir e talvez de viver, esperando que esta não-vida, esta aceitação de tudo que não é, me leve a algum lugar, algum lugar quase próximo de... de mim mesmo. Não há que se entender nada disso. Há que se buscar ou aceitar ou fazer qualquer outra coisa dessas que não sei se vai entender mesmo. A ação é contrária ao entendimento. O cérebro e o corpo não funcionam ao mesmo tempo. Você nunca entende porque age a sempre age sem entender. Isto é viver existir ser. E quando você opta pelo contrário, não se sabe o que acontece. Porque é assim que as coisas são. E é assim que as coisas não-são. O sentido da vida está na não-vida. E quem deseja encontrar a si mesmo deve optar por algo diferente de tudo. De tudo que existe. De tudo que é. E aí, talvez saiba. O que ninguém mais irá saber. Nunca. Assim é a vida.

Por mais que as pessoas sejam seres por demais complexos para serem entendidos, há algumas características em comum que podem ser notadas. Por exemplo: tristeza e crueldade são armadura e proteção das pessoas mais fracas, das pessoas que mais necessitam de carinho afeto compreensão aceitação essas-coisas. Quando olhamos no espelho, vemos apenas o queremos ver, não vemos o conjunto. Vemos apenas o que acreditamos ser no momento. Por isso nossa imagem no espelho é diferente a cada dia. Seja melhor ou pior. E quem vê todos os dias a mesma pessoa no espelho? Quem tem uma vida vã, inútil.

Os seres humanos são essencialmente sentimentais e isso os torna fracos e desesperados. Sentem-se incompletos, e por afobação, procuram nos outros o que deveriam procurar em si mesmos. E obviamente nunca encontram. Aí está o desespero: nas eternas buscas frustradas. A fraqueza está no sentimento em si. Sentimentos, independentemente de sua natureza, nunca são bons para as pessoas. Não dizem que anjos são seres assexuados? Pois eu digo que anjos são seres “assentimentalizados”, por isso são anjos, por isso são perfeitos. Sentimentos são o castigo que a humanidade inflige a si mesma. O mal das pessoas são muitos sentimentos e poucos pensamentos. Pensamento é produto em falta nos seres humanos.

Existe aquela coisa de se pensar diferente – para os que pensam – como forma de fuga da realidade ou fuga da existência, que na verdade não passa de uma fuga de si mesmo, uma vez que nós somos a nossa própria realidade existência, eternamente aprisionados em nós mesmos, como uma condenação: seja você mesmo. Sem direito à apelação na Corte da Vida.

Minha cabeça dói absurdamente. Tento dormir e fico pensando nas coisas ruins que me aconteceram, tentando esquecê-las. Bobagem! São as coisas ruins que realmente importam, através delas que aprendemos e crescemos. As “coisas boas” são insignificantes para as nossas vidas. Na verdade, as “coisas ruins” é que são as “coisas boas”. E todo mundo passa a vida inteira tentando evitá-las.

O problema acontece no momento em que perdemos a paciência para criar assuntos. Aquela coisa de se construir e reconstruir, dia após dia, tentando dar algo de bonito e interessante para os outros, para que pensem que a nossa companhia vale à pena, e que é melhor que a solidão, mesmo que no fundo todos saibamos que nenhuma companhia é melhor que a solidão. A solidão nos dá a chance de conviver com nós mesmos, uma convivência muito mais intensa que qualquer outra. E muito mais válida. Houve uma época em que eu gostava de pessoas ao meu lado. Quase me lembro a razão. Como eu era ingênuo.

E tem aquela coisa de Ler Clarice e chorar. Sentir aquela agonia doída de viver. E pensar. Desvendar a alma humana em todas as suas baixezas e se ver dentro de tudo isso. Perceber que há inúmeras possibilidades, eternas promessas vazias feitas por nós para nós mesmos, mas não há fuga. Perceber que podemos passar a vida sem nos conhecermos, e que mesmo assim, não conseguiremos fugir de nós mesmo. É aquela coisa de verter sentimentos em lágrimas e pensar até a exaustão em uma solução que não existe. É viver. E se saber vivo, pessoa, ser humano. Sendo e existindo. Imundo de corpo e alma. Buscando o vazio por não agüentar mais a exaustão das agonias de viver existir ser sentir. Por isso: eu choro.

Tenho sentido muitas dores de cabeça ultimamente. Mais que o normal, mais intensa que a minha dor-de-cabeça-permanente. Na parte de trás da cabeça, como se o cérebro quisesse explodir pela nuca. E talvez queira. Afinal, deve estar exausto e fatigado. É por isso que insiste em me dizer: “Por que você não pode ser como as pessoas comuns e me deixar em paz?” Desculpe-me, não posso. Preciso de você, o tempo inteiro, não exploda ainda, ainda temos um caminha à trilhar, agüente firme ao meu lado – ou na minha caveira – companheiro fiel, seremos eu e você que traremos alguma luz à esta escuridão perpétua que envolve à tudo e à todos, e acordaremos os seus companheiros descansados. Ou pelo menos tentaremos. Daremos o melhor de nós... até o fim.

As obviedades que me matam. A subjetividade que me salva.

De certa forma, a dor é o que nos faz sentirmo-nos vivos. E o medo. E a raiva. E o ódio. E todos os sentimentos ruins. Os bons também, mas não com tamanha intensidade. Todos queremos viver, é bom, é um êxtase. O que eu quero dizer é que viver vicia. Sentir vicia. E neste tipo de vício as drogas mais pesadas são o medo, a dor e o ódio. Sucessivamente. Primeiro vem o medo de que algo ocorra, depois a dor por ter ocorrido, e por último, o ódio do motivo pessoa que fez ocorrer. E pronto: sente-se vivo. Está viciado. Em viver. E em sofrer. Pois a forma mais intensa de se viver é sofrendo. E é a dor que sempre fica, cicatriz marcada a ferro e fogo na alma, para sempre, que lateja nos dias de melancolia.

Tenho uma alma muito pesada. E por mais que eu tente, não consigo fugir à isto. Não consigo livrar-me deste peso. Eu sou este peso escuro dolorido. Então, o que me resta? Parar de tentar fugir. Aceitar-me. Por pior que seja. E esperar que isto tudo meio embaçado que sou eu me leve a algum lugar. A uma compreensão. A mim mesmo. A mais um eu, escondido em outra profundidade mais profunda, um eu mais escuro e mais sábio, para juntar-se à todos os outros eus que já habitam em mim.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Bêbado

Ok. Não me deixe falar, pois estou bêbado. Completamente bêbado. Mas o importante é que as coisas são assim. Insolúveis. E as lágrimas brotam nos meus olhos. Eu sou aquilo que não podia ser e sou aquilo que os outros não são. Eu sou o caos. Eu sou, simplesmente, eu mesmo.

O Personagem

A partir do momento em que você cria um personagem, você perde o controle sobre ele. Um personagem é em si. Ele tem sua própria história e sua própria vida. A partir do momento em que um personagem é criado, ele ganha autonomia. Um personagem não faz o que seu criador quer que ele faça, ele faz o que precisa fazer. Um personagem faz o que foi criado para fazer, independentemente da vontade consciente ou inconsciente de seu criador. Um personagem, simplesmente, vive a sua vida.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Coisas.

Por que a intensidade dói?

Vou até a sacada sentir o cheiro da noite. Cheiro de poluição suja e de vidas imundas. Gosto amargo de canela na boca. Desejos e ânsias. O corpo quase não cabe em si mesmo de tanta vontade. Sei lá de quê.

Talvez de se jogar. De cabeça. Lá embaixo. No asfalto escuro.

A noite traz saudades.

Saudades de passados, presentes e futuros. Saudades de cores e amores. Saudades de dias entre as noites e de momentos entre os vazios. Saudade de calor no meu coração frio. Saudade de vida na minha existência.

Tudo isto que sou eu é um grande nada. Vazio. Abstrato. Além do entendimento.

Escuro e frio.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

...

você acaba com o meu frágil equilíbrio.

é.

bah, que merda. machuquei os joelhos transando no chão do corredor.

domingo, 11 de novembro de 2007

by Cris

"As mulheres agem com a coragem cega dos sonâmbulos."

quer saber, e daí?

eu sei que não devia. eu realmente não devia. mas foram os beijos mais gostosos da minha vida.

08/12/2006 - 11/11/2007

sábado, 10 de novembro de 2007

escolha.

É uma questão de escolha. As pessoas querem casar, ter filhos, um jardim com flores e um cachorro babão. Eu quero um apartamentozinho alugado em uma metrópole poluída e, no máximo, um gato.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

¬¬

eu não tenho escolha. eu tenho que ser quem eu sou.

...

todos os dias eu digo e repito pra mim mesmo: cara, a tua fase depressiva e suicida foi há dois anos. já passou.

as vezes eu quase acredito. (ou não)

Tipo... tudo isso... saca?

– O que tu tá fazendo?

– Tô procurando uma parede pra socar.

(Tédio absoluto. Tão absoluto que desespera.)

– Pra quê?

– Pra ver o que acontece...

– Não vai adiantar nada...

(Nada adianta nada. Tudo adianta menos que nada...)

– Acho que tu estás muito caótico ultimamente...

– Vai te fuder!

– E muito agressivo...

– Quem se importa...

– Um monte de gente...

– Ninguém se importa!

(Ninguém entende. Então ninguém se importa. Quem é que consegue se importar de verdade com algo que não entende?)

– Fica tranqüilo...

– Eu vou fugir.

– Pra onde?

– Pra qualquer lugar bem longe... pro Peru, pro Nepal, pra Nova Guiné, pro Piauí...

– Não vai resolver...

(Eu nunca consigo fugir de mim mesmo...)

.

- E tu, vai chorar as tuas mágoas também?
- Não, eu sou insensível.

(Pseudo-diálogo comigo mesmo)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Aconteceu.

- O que tu estás fazendo perdido no mundo, Ryan?
- Eu sou perdido no mundo.
- Graças à Deus.

(Diálogo com a professora Rosane nos corredores da Univates)

domingo, 4 de novembro de 2007

Fuck.

Fuck all this shit. Fuck the coffee. Fuck the love. O que me importa? O que te importa? Fuck. Consciência de si mesmo e dos outros e do mundo... não serve pra nada! “Nós ainda somos os mesmos...” Pra que tudo isso? Todas estas angústias e desesperos. É tão mais fácil só se divertir e viver. Esquecer planos e objetivos. Viver um pouco. Viver muito. Eu só queria não ter mais que ser... fugir de mim mesmo. Morrer e renascer. Outra pessoa. Que não seja este conjunto de intensidades extremas. Não mais uma fera escura com sede de sangue e sentimentos. Uma outra coisa qualquer. Uma pedra ou uma árvore. Mudança mudança mudança. “Não tem volta.” Eu sou o que sou. Eu vivo na minha própria maldição. Então... fuck all this shit. Vou dançar tango e me dolorir. Vou dançar rock e chorar. Vou dançar aquilo e viver. Vou agoniar a mim mesmo e a todos à minha volta até quê. É o meu dom: a agonia. É a minha existência: o desespero. Boto álcool no café. Tomo um banho e saio na noite. Ando, danço, me alucino. Vivo! E me dôo todo, até a última gota. “...depois deito, depois durmo...

sábado, 3 de novembro de 2007

Cena 1 – O Diálogo (by Ryan & Pam)

Bate na porta.

Ele: – Tá aí?

Ela: – Ahm... Acho que sim...

Ela sorri por trás da porta.

Ele: – Acha? O que que tu tá fazendo? Ele tá aí?

Ela sorri de novo.

Ela: – Não. Ele tá viajando...

Ela sorri ainda mais, e se segura para não gargalhar, escorada com as costas na porta.

Ele: – Hum... O que que tu tá fazendo? Não vai dormir? Não vai sair?

Ela: – Não... Adivinha...

Ela sorri. Chama seu nome três vezes.

Ele: – O quê?! O quê?!! O quê?!!!

Ela abre a porta. Eles se abraçam e se beijam no rosto. Vão para a sala e sentam-se no sofá macio. Há uma garrafa de vinho pela metade e duas taças na mesinha de centro.

Ele: – Vinho! Vamos beber... E vamos aproveitar a noite que não traz nada de bom... A noite vazia parada entediante...

Ela: – Ai meninooo!!! Tô fazendo a análise daquele livro, tu não lembra...

Ele: – O quê? Vamos beber vinho gelado e esquecer a falta de corpos quentes...

Ela: – Eu estou em casa fazendo trabalho. Amanhã eu tenho que acordar às oito da manhã e viajar pra ir ver o meu avô que está no hospital. Vou ter que ficar lá até domingo. Sábado vou visitar minha amiga. Não dá pra beber hoje!!!

Ele: – Então não vai amanhã... Tu nem quer ir... Por que tu faz coisas que não quer? Não faz sentido... Então conversa comigo até a manhã chegar... Me conta a tua vida... As tuas desilusões passadas, os teus medos futuros... Os teus desesperos presentes... Me conta tudo!!! Ou não...

Ela passa a mão devagar no rosto dele.

Ela: – Hey... O que foi menino?

Ele: – Nada não... Só desespero sei lá de quê...

Ela: – Hum...

Ele: – Eu só queria um pouco de... Algo que eu não tenho...

Ela: – Hum... Só não fica achando que tu é o único a se sentir assim... Porque não é.

Ela sorri pra ele.

Ele: – É que eu to me encontrando comigo de novo... E isso é... Desesperador... Eu tinha me esquecido de mim mesmo... E estava tudo naquela calma entediantemente serena... E daí, eis que no meio de uma taça de vinho, eu me deparo comigo mesmo, e o pânico vem. E agora o que faço?

Ele olha para ela com desespero.

Ela: – Se aceite.

Ele: – “Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?”, saca? Tudo isto que sou eu é tão... Absurdo... E dolorido... Eu sou desespero... Todo eu...

Ela: – Todos somos... Mas você não consegue ver dentro de todos... O absurdo é a vida... Pra mim pelo menos...

Ela olha para a janela com um olhar melancólico.

Ele: – Não! O absurdo somos nós! A vida é fácil... Nós que não nos encaixamos nela... Provavelmente porque pensamos...

Ela: – É... Pode ser... Eu não acho que devamos pensar muito... O muito nos faz absurdos... Ou sei lá também...

Ele: – Não é questão de muito ou pouco, é pensar! A vida não foi feita pra pensar. É o pensar que nos destrói... Nos desespera... Mas ao mesmo tempo... Nós somos o que pensamos... É tudo que nos resta... Então ficamos neste eterno dilema: viver ou ser?

Ela: – Sim... E por que tu pensa nisso então?

Ele: – Eu já fiz a minha escolha. Eu não vivo. Eu sou... E o que me resta se todos os outros vivem enquanto eu sou?

Ela: – Então não é hora de parar de pensar? Se a escolha está feita... Mas eu não acho que esteja...

Ele: – Não tem volta. Eu já fui longe demais, eu já fui fundo demais... Não tem volta pra mim... E mesmo que tivesse...

Ela: – Tu não quer.

Ele se desespera.

Ele: – O que eu poderia querer do mundo?! E das pessoas?! Não quero nada... Eu sou o desespero. E mais nada. Eu não pertenço ao mundo.

Ela: – Tu tá te fazendo assim... Tu não é assim...

Ele: – Não sei... Sinto aquilo que não consigo explicar... Mas não é bom... Nunca é bom... Não pra mim...

Ela: – Ninguém explica o que sente.

Ele: – Eu não nasci pra ser feliz, esta é a verdade. É fato consumado. E que assim seja.

Ela: – É tu que tá dizendo... É tu que tá fazendo ser assim...

Ele: – Sou eu que sou... O tédio da vida consome. O pensamento transcende e salva. Felicidade é ilusão... Tudo o que existe são perspectivas, pontos de vista... Não há realidade...

Ela: – É... E tu sempre escolhe a pior perspectiva... O pior ponto de vista... É tu que escolhe a tua vida... E no fundo tu sabe que ela não é tão ruim... E que tu não é tão ruim... E que todos sabem disso...

Ele: – Eu sou uma pessoa horrível... Mesmo que tu nunca admita... Ou saiba de verdade... Eu sei que bem lá no fundo tu consegue sentir... Eu sou uma pessoa horrível...

Ela levanta-se violenta.

Ela: – Tu vai ficar com este sentimento de culpa pra sempre?! Eu sei que tu não é assim como tu fala!!! Tu criou isso e acredita!!! Mas tu não é!!!

Ele: – Culpa não existe. Não me sinto culpado. Eu apenas sei o canalha que sou. Não por fatos que aconteceram. Mas pelo simples fato de eu ser eu mesmo. E saber disso.

Ela: – Isso não...

Agora ele levanta-se violento.

Ele: – Eu sou uma pessoa horrível!!!

Sentam-se. Pegam as taças. Bebem o vinho.

Ele: – “Tu já pensou nos átomos. E no espaço entre os átomos. É nada. Nós somos feitos de nada. Tudo é feito de nada. Tudo não existe. Nós não existimos.”

Ela: – É... De que me serve isso?

Ele: – Para eu me esquecer de mim mesmo... Vai dormir pra ir ver o teu avô amanhã...

Ela levanta. Anda até o início do corredor que dá para os quartos.

Ele: – Mas guarda esta conversa... Tu pode precisar um dia...

Ela: – Pra que pensar nisso? É uma merda... De qualquer jeito...

Ele: – “De qualquer jeito...”

Ela: – É... E daí? Não resolve nada mesmo...

Silêncio.

Ele: – O vinho acabou... Tu precisa dormir... Vou pra casa tomar um banho quente...

Ela: – Até um dia...

Beijam-se no meio da sala.

Ela: – Não esquece de mim...

Ele: – Nunca...

Eles se afastam. Ela para na entrada do corredor que dá par os quartos e olha para ele. Ele para em frente à porta do apartamento e olha para ela.

Ele: – Dorme bem... E não pensa em mim... Boa noite...

Ele manda-lhe um beijo.

Ela: – Hey... Eu te adoro, sabia?

Ela sorri cansada.

Ele: – Eu te amo...

Ela sorri, mais uma vez, com ar cansado e compreensivo.

Ele: – Dorme bem...

Ele sai e fecha a porta. Ela entra pelo corredor. A sala fica vazia, como a garrafa de vinho em cima da mesa.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Extraordinary Machine

♫ If there was a better way to go then it would find me
I can't help it, the road just rolls out behind me
Be kind to me, or treat me mean
I'll make the most of it, I'm an extraordinary machine ♫


terça-feira, 30 de outubro de 2007

The Man

Porque quando te dói tudo desta forma tão excruciante e você não compreende ou pior, compreende o que é estar vivo. Você quase morre. Você vai para outro lugar. Você sente. Mais, diferente. E daí você cai naquele abismo sem fundo. E tem toda aquela agonia de ser o que ninguém entende e não poder fugir de si mesmo e não poder mudar porque você já foi longe demais e não poder voltar atrás porque você já foi fundo demais. Toda aquela agonia e toda aquela dor. Fuck them all. I don’t need this shit. E correr e correr e correr e cansar de correr e parar e afundar. E enlouquecer. E morrer.

sábado, 27 de outubro de 2007

Um conto... ou algo parecido (by Su & Ryan)

A melancolia tomou conta do meu lar. Decidi sair, procurar o que não estava ali. Mas ela parece me perseguir. Chovia incessantemente. Eu não conseguia ver mais nada, mas o sentimento era cada vez mais dilacerante. Eu precisava de algo para me acalmar. Acendi um cigarro para tentar relaxar. Posso estar doente da alma? Ora, e desde quando almas ficam doentes? Ficam? É, acho que sim... e as doenças de alma são muito piores que as doenças de corpo. As doenças de corpo a gente cura com remédio. As doenças de alma não tem cura... As doenças de corpo acabam na morte. As doenças de alma podem viver e morrer comigo... muitas vezes. Preciso de um bálsamo. Ou de um caminho. Não sei ao certo o quê, mas preciso de algo. Talvez de uma luz... mas saberia eu reconhecê-la, se ela aparecer? Dizem que a gente só sabe depois que ela já se apagou... E se for assim comigo? Será que a minha luz já surgiu? E eu conseguirei vê-la antes que se apague? Ou talvez... minha luz não possa encontrar-me... pois estou eu apagado... Não sei não sei não sei... mas estou cansado, cansado de gritar e ninguém ouvir... Minha melancolia é a minha escuridão, e estou cansado de não ver luz alguma. No que isso vai dar? Não sei... como poderia eu saber? Eu luto por vezes, fujo por outras... mas de nada adianta: acabo sempre voltando ao ponto de partida. Meu universo de pequenos nadas... todos os olhares, que nunca foram mais do que simples olhares, mas que para mim, foram muito mais... cada palavra que lembro até hoje... esse meu círculo vicioso de eternas buscas frustradas... Quando vou aprender? Quando vou crescer? Não, eu não quero crescer. Crescer é mau, é sujo, é feio! Eu quero... simplesmente... ser diferente... eu quero... viver. Ou não. Eu quero um amor... mas o que é amor? Acho que há muito perdi o jeito de amar... Mas ainda assim me pergunto: onde está o meu amor? Talvez... eu nem saiba o que é o amor... não de verdade... E me pergunto: irá existir um alguém capaz de me entender? Eu acho que estou buscando nos lugares errado, da maneira errada... talvez... eu nem saiba o que realmente estou buscando... O que é o amor? É compreensão? É amizade? É sexo, bom, carinhoso ou selvagem? Talvez seja simplesmente algo que ninguém esteja disposto a dar. Algo que não tem nome... que não tem explicação... mas que se sente... E será que eu estaria disposto a dar o meu amor para alguém? Como saberei... De certa forma, a minha melancolia me dá uma agradável proteção... e um confortável distanciamento... de tudo... de todos... Um dia ainda viro essa página. Hoje não. Hoje eu quero... chorar. Mas nem chorar eu consigo! O que há comigo?! Minha armadura já me sufoca. Eu acho que... eu não consigo mais sentir. E não há ninguém aqui comigo. Está tudo tão árido e seco. Minha alma, meu coração, eu estou árido e seco! Mas eu não escolhi ser assim, apenas tive que aceitar. Essa vida e esse mundo e essas pessoas me transformaram no que sou hoje. Não, eu não tive escolha. Precisei da minha armadura para me proteger. E se hoje ela entra na minha carne e tira a minha vida, eu só posso dizer: não foi culpa minha. E não me venha com soluções. Só eu sei pelo que passei, só eu sei o que sofri. E por mais que eu tente, você não vai deixar. E por mais que você tente, eu não vou deixar. Esse é o meu destino, quer tenha eu o escolhido (como dizem), quer tenha ele sido imposto a mim. Então procuro uma estrela e faço meu pedido e saio feliz achando que tudo vai melhorar, mas eu sempre caio, e cair dói tanto... E deixo de acreditar nas estrelas, deixo de acreditar em fadas e duendes, deixo de acreditar em deuses e seres mitológicos... deixo de acreditar na magia das coisas... e então vejo esse mundo sem mágica, e me vejo caído sozinho e com uma dor dilacerante, no meio desse mundo sem mágica... Então todos dizem que sou louco, mas sou apenas sentimental. Mas se eu não for sentimental, eu vou ser como qualquer pessoa... e se for para ser como qualquer pessoa, prefiro o meu caixão. Morrer sempre foi tão mais glorioso pra mim. É tão mais fácil! E me parece tão mais lúcido do que viver nesse mundo insano. Por um momento de paz, eu iria... para acabar com as minhas divagações... “Mas não tem volta!” me diz aquela vozinha interior. O que me conforta ainda mais. E eu grito: não quero voltar!!! Mas então... o que me impede? Covardia? Não... deve ser algo mais forte... mais profundo... Sucessivas tentativas fracassadas? Ou a esperança em algo... Mas em quê? Não sei ao certo... Ou sei, e é justamente aquilo que eu mais temo. Mudança. Eu como eterno insatisfeito que sou, sempre espero que as coisas mudem. Mas eu devo ter esperança em quê? Em dias melhores, em pessoas bacanas, em amor de verdade... eu acredito que um-amor-de-verdade possa me "consertar". Mas talvez... eu tenha medo de amar. E tenho! O que faço? Fujo! E me arrependo... É do meu feitio, é o meu instinto. E eu sei que nunca vou ser feliz assim...
(tá doendo)

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Busca, reconstrução ou algo a ser feito...

Fazia tempo que eu não ouvia uma coisa tranqüila e agradável. Aquela coisa de tentar fazer algo para se sentir bem, saca? Aquela coisa de ouvir musiquinhas tranqüilas com historinhas de amor. Aquela coisa de colocar canela e chocolate-em-pó no café. Aquela coisa de ler livros lisérgicos e fugir da realidade.

Quem sabe até mesmo aquela coisa de procurar algumas noites, com algum rock, com algumas pessoas, com algumas cervejas, com algumas andanças. Talvez algumas conversas e, quem sabe, até alguns sentimentos perdidos.

É tudo isso: aquela coisa de tentar se curar. Buscar uma vida nova. Ou a velha. A anterior. Mais uma busca. Tentar se reconstruir. Por dentro e por fora. Voltar.

Não sei. Mas algo há de ser feito...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Rehab

♫ They tried to make me go to rehab
But I said 'no, no, no' ♫



Porque eu gostei.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Menina-moça

Ela é aquela menina-moça, de pele branquinha, que se veste de preto – às vezes com listras brancas ou bolinhas vermelhas – e pinta as unhas e a boca de vermelho-vivo. Ela anda sozinha pelas madrugadas, dançando e cantando com uma cerveja na mão. Ou anda com loucos, bêbados, drogados e outros subvertidos sociais. Ela gosta de tomar vodka. Adora a roda gigante e o barco viking. Gosta de brincar com balões – de preferência amarelos.

Ela é aquela de quem as meninas falam mal,

Pois queriam ser igual,

E não têm coragem para tal.

Ela é aquela que os meninos desejam, coitados – ela nem os vê. Ela só quer dançar e beber e delirar. Sim, “ela dorme com um drink na mão”. Sim, ela é estranha. E livre livre livre. Ela lê muito e pouco se importa. Ela gosta de música e não liga pra ninguém.

Ela é em si,

Pra si,

E pra mais ninguém.

Ela roda e rodopia pelas ruas vazias. Seu coração está vazio e ela é feliz. Ela não tem medo de sentir prazer, e sexo faz com maestria. Ela é uma criança em corpo de mulher. Ela é uma deusa com carinha de criança. Ela gosta de provocar e de partir corações. Ela é menina-moleca e sapeca. Ela é mulher fatal. Ela é um pouco de tudo. E ela tem o que eles querem.

Ela sai por aí,

Fazendo o que quiser,

E imaginando o que puder.

Ela pode tudo. E faz. De novo e de novo e de novo. De todas as formas. Ela vibra, treme, chora, grita, ri. Ela é. Ela grita, xinga e diz palavrão. Ela beija, lambe e chupa. Ela tem os olhos profundos. Ela tem a vagina profunda. Ela gosta de andar na chuva e pular nas poças d’água. Ela é uma típica menina pós-moderna. E ela não ama. Ela vive feliz a sua vida de Cinderela despedaçada, à espera de um príncipe que nunca virá.

Ela é o desespero.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

(Des)Considerações

Nós temos esta concepção. Essa clareza de conceitos tão maior que as pessoas comuns.

É aquela coisa de “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”, saca? Será que há algo que (realmente) valha a pena cativar?

É cansativo. Dor de estômago constante. Dor de cabeça permanente. É muito clichê dizer: dor na alma e no coração. Hoje em dia nossa alma está vendida, e nosso coração está marcado a ferro e fogo pela luxúria.

Velhos sonhos, com molduras bonitas, espalhados pelas paredes, juntando poeira.

Não consegui te segurar. Caiu. Te vi ali, no chão. Pareceu-me tão distante. E não quis te trazer de volta. Pra quê? Era só sofrimento. Pra mim e pra ti. Tu parecia tão... em paz. Tão serena. Longe de mim.

“Eu te amo!” “Eu também te amo!”

E quando eu converso com Caio, ele me diz que não é nada de mais: “Tudo bode.” Mas eu sei que é.

Eu sou muito intenso, portanto viverei pouco.

Sabe, há todas estas percepções pseudo-disformes. Tudo isto que tenta nos levar à algum lugar que... simplesmente... não existe. “O tal de inconsciente coletivo...

É. Eu me repito e eu me perco. Eternamente. Acho que o dia em que eu me encontrar, estarei perdido.

O cheiro podre de cérebros se decompondo em cabeças vazias.

O vazio.

Eu: me derretendo por dentro.

Ou para usar a minha própria linguagem, essa de gente que vive amontoada entre outras gentes, mesmo quando se retira, porque a vida incha lá fora, invadindo as janelas fechadas, sobreviventes de uma série descolorida de fracassos iguais e mesmas tentativas, idênticas queixas, esperas inúteis, magoas inconfessáveis de tão miúdas.

“Tá tudo rodando rodando rodando.”

E eu aqui: sentado na cama vazia dela, sentindo o cheiro dela, com o gosto amargo do café muito forte que ela faz, coisa lá da terra dela, e eu aqui ouvindo a chuva. Lendo coisas mundanas ao lado de uma deusa egípcia e de uma fada celta. Toda esta mística. O cheiro de incenso sobrepondo-se ao cheiro do nosso sexo. Como um pedaço de chocolate. O doce contra o amargo. Ouço cantos de pássaros lá fora. Desejo morrer.

Tudo é inspiração. Tudo o que é realidade. Todas as coisas do “mundo da vida”. Tudo pode ser transformado em arte. Mas tudo depende da visão do artista. Se ele só vê coisas más, sua arte será desesperadora.

Os artistas deveriam ser educados à só verem coisas boas. Domesticação da percepção.

Se uma gota Divina cai na Terra, o que nós fazemos é apreciá-la e consumi-la até o fim. É isso o que nós somos.

A traição é um momento de reflexão: Deve-se continuar?

São tantos os questionamentos que fazemos a respeito de nós mesmos.

A palavra “se” não exprime possibilidade. Exprime apenas algo que não existe. Ou seja, “se” representa a não-realidade. “Se” é um modo de fuga. E fugir é o que todos queremos. Fugir de alguma situação, fugir de alguém, fugir das nossas vidas, fugir de nós mesmos.

O que eu represento?

Tentativas.

O que é a luz na escuridão? Por que este conceito de que o escuro é mau? Por que esta série infindável de perguntas sem respostas?

Sabe, eu acho, simplesmente, quê.

There is no shortcut for happiness.

Desenho corações pelo seu corpo. Procuro o meu coração perdido.

Isso faz algum sentido pra você?

Os lençóis sujos estão jogados em um canto do quarto. Bebo um copo de água limpa para me purificar. Sinto o gosto acético do cloro. Aquela purificação que não é espiritual, mas sordidamente higienizada. O cobertor, com traços que se cruzam perpendicularmente, lembra-me as grades de uma prisão. Grades coloridas, é verdade. Mas ainda assim: grades. O cachorro de pelúcia olha-me com olhos vazios, e eu olho para ele: vazio. Ambos, nós dois, o cachorro e eu: nos olhamos. Ambos: vazios.

Saio.

Andar pelas ruas de madrugada é saudável. Sentir o ar da noite... diminui a vontade de gritar. Caio me dizia outro dia que também tinha esta vontade de gritar. Sempre. Assim como eu.

Os barulhos das madrugadas desertas nos amedrontam e nos distraem. E.

Quando olho para ela deitada assim: tão indefesa. tão impotente. tão incapaz de fazer mal. tão incapaz de me fazer sofrer. tão incapaz de trazer toda essa dor. eu quase tenho vontade de.

Parece que faz anos que não choro.

Chorar alivia o peso da alma.

Minha alma é tão pesada.

Tudo isto pode não significar nada. Mas eu creio que há uma significação implícita, maior, como se a resolução deste enigma universal que aflige todas as almas estivesse contida em uma gota de orvalho. Em todas as gotas de orvalho. Em nós mesmos. Na ponta da minha caneta.

Somos bárbaros. Todos nós. Não há música Divina que possa elevar nossas almas a ponto de serem salvas. Não temos ouvidos para tais melodias. Assim como não temos intelecto para a paz nem coração para o bem. O mal da humanidade são os seres humanos. Eu e você incluídos nestes.

Você entende que tudo isto é inútil? Por mais que consigamos compreender a nossa consciência original, jamais conseguiremos fugir a ela.

Por que o ser humano não é melhor? Porque não é da sua natureza ser melhor. Se fossemos melhores, não seriamos humanos. O que nos humaniza são justamente as nossas fraquezas de instinto e as nossas maldades de sentimento.

Ser humano: animal, bicho. Movido pelo instinto. Controlado por necessidades naturais. Mente perversa. Intelecto maligno. Egocêntrico. Sentimentos inconstantes. Mau, por condição básica de existência.

Tudo bem, o mundo não está perdido. Nós sempre fomos assim, e construímos civilizações milenares. Tudo é apenas constatação. As pessoas têm defeitos (muitos e graves), pois é da nossa natureza. E a humanidade continuará existindo em perfeito desequilíbrio.

O caos.

Não adianta (tentar) fugir. Não há para onde fugir.

Eu sei que vai doer, mas eu preciso dizer: é impossível fugir de si mesmo. O seu duplo sempre o encontrará.

– Você venceu e eu me rendo. Todavia, doravante você também estará morto – morto para o Mundo, morto para os Céus e morto para a Esperança! Era em mim que você existia – e, na minha morte, veja por esta imagem, que também é a sua, quão completamente você assassinou a si mesmo

Há várias noites que não durmo, nem sonho, nem permaneço acordado: para onde vou?

A cada piscar de olhos uma nova frase me atormenta.

Vive-se em busca de libertação. Mas vive-se com medo da morte. Embora todos saibam que a morte é a libertação.

As pessoas vivem com medo de libertarem-se!

Não há nada mais cômodo que continuar. Qualquer um pode continuar. É só seguir em frente. Não é preciso pensar. Não é preciso sentir. É só continuar, buscando uma libertação que nunca virá, e temendo a morte que sempre é certa.

“Eu quero correr na beira da praia com um cachorro peludo e babão!”

...e eu dizia que no meu túmulo queria um anjo desmunhecado...

A insônia: é simplesmente um mal: que aflige os desesperados: e desespera os aflitos.

“Não há nada mais chato que pseudo-existencialismo.”

Eu fui tocado por um anjo de fogo que me disse: “a salvação pertence apenas àqueles que aceitarem a loucura escorrendo em suas veias.

Tenho as mãos pequenas, com as juntas grossas e os dedos pintados de tinta. O que eu significo?

Ninguém se importa com o que eu tenho a dizer. E o que eu tenho a dizer não se importa com ninguém.

I just want to sleep. Forever.

A frustração nos torna canalhas. Ela acaba com a noção de caráter.

Eu olhei nos olhos do diabo e vi.

Uma taça de sangue. Bem vermelho. Bem vivo. Bem morto.

Nós não vivemos em contos de fadas: as pessoas traem. Não porque querem magoar as outras, mas porque, simplesmente, acontece. Sem premeditações mirabolantes, sem intenções maléficas. Simplesmente: bate o olho e trai. Às vezes por burrice, às vezes por impulso, às vezes por coisa nenhuma. Às vezes por simples falta de.

Carinho amor afeição sexo algo-mais.

O querer é um deus maligno que nos manipula à seu bel-prazer.

Sinto um vazio existencial. E não é fome.

Buscando em qualquer lugar um resquício de. O que era. E não é mais. Ou é, e apenas tenta disfarçar-se com sorrisos bobos e alegrias bonitas. Disfarce. “no fundo permanecia aquela pobre estopa desgastada

Vesti meu moletom velho e amassado. Saí para respirar o ar frio. Acho que tenho febre.

Ele é vermelho, o moletom. Cor de fogo. Cor de sangue. Cor de rubi incandescente, elevado para que a luz do sol o faça brilhar rubro.

E fica ecoando na minha mente again, again and again: “There is no shortcut to happiness.

Tenho marcas nos pulsos. Tenho esta compreensão sangrada de tudo.

Um mundo novo, cheio de possibilidades, se abre à minha frente. Um universo de novas percepções.

Os pingos de chuva correm pela janela. O vento é frio e úmido. Mas ainda sujo.

Cai uma gota de chuva no meu lábio inferior. Lambo-a. Sinto o gosto. Gosto de chuva urbana. Diferente do gosto da chuva nas montanhas, e da chuva na beira do mar. Dá até pra distinguir um leve gosto de poluição. Amargo. Como o gosto destes constantes fracassos urbanóides.

A realidade é ilusão. O mundo é pensamento.

Todos reclamam.

Áries com ascendente em Leão. É problema na certa.

Cansaço.

Fazer a vida valer a pena. A cada segundo.

O problema são estas pessoas imundas. Tenho nojo delas. Seriam dignas de pena, se pena fosse um sentimento digno. A imundície destas pessoas consiste em suas limitações. Elas são mais propriamente um conjunto de limitações do que seres humanos. E estes limites são tão baixos que não encontro uma expressão que defina melhor estas pessoas do que: imundas. Incapazes de ver o sol brilhar. Incapazes de ver a luz. Incapazes de pensar. Incapazes de possuir qualquer tipo de conhecimento significativo. E acima de tudo: cegas e surdas a quem o possui. Limitadas ao seu mundo imundo de baixezas mil, eternamente, sem chance de fuga por escolha própria. O problema são estas pessoas imundas.

Há homens que já nascem póstumos.

O mundo é um lugar embaçado. Algumas pessoas possuem uma lente em suas mentes, que lhes possibilita ver o quão miserável e degradante é a nossa realidade. Não quereis, advirto-lhes, nunca, possuir tal lente!

O que podemos fazer?

Todo caminho leva à algum lugar. E quando chegamos neste lugar, tudo o que nos espera é outro caminho. E assim é a nossa vida: uma infinita sucessão de caminhos. Alguns certos, outros errados. Mas todos válidos.

Não existe o Certo e o Errado.

Deito na minha cama e durmo: pois os sonhos sempre me dizem algo quê.

A humanidade está condenada. Só pode estar. Que propósito haveria em salvá-la? Nenhum. A humanidade simplesmente não merece ser salva.

E qual o papel dos falsos profetas?

Enganar, iludir, mentir. Fazer-nos acreditar que merecemos algo melhor. E nós não merecemos. E não teremos.

Serei eu, um falso profeta? Não.

Eu sou, simplesmente: uma pessoa horrível.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Esta é a minha vida

É essa coisa de se entregar alucinadamente aos desejos, sabe? É esta agonia de sentir. Tudo isso me parece agora tão desnecessário.

Sinto a água correr. Primeiro pelos cabelos. Depois pelo corpo todo. Lavando minha alma. Meus pecados indo embora pelo ralo em um dia de verão. A água lava os cheiros, os gostos, as lembranças. O vapor quente entorpece. Um banho para limpar-se. Para esquecer-se dos outros e de si mesmo. E ser. Apenas apreciar, em sua plenitude, o fato de existir, ali, embaixo d’água, em meio aos vapores brumosos do banheiro de azulejos beges.

Saio do banho e tomo uma xícara de café sombrio. Foi-se a pureza. A realidade violenta-me em minhas intensidades.

Ainda sinto o cheiro da pele molhada. Até quando? Logo vai se perder neste universo de artificialidades que tenho que criar para sair à rua. Só mais uma fantasia. Só mais uma máscara. Só mais um dia. E outro e outro e outro.

O telefone me agride no silêncio do quarto. Não atendo. Apenas fico ali. Imóvel. Não sendo. Um corpo vazio e oco. Apenas um objeto no meio do quarto, quebrando a harmonia do lugar. Até o telefone cessar e o silêncio me trazer de volta.

Saio. O bafo quente e sujo é como um soco na cara. Desejo desesperadamente voltar para baixo d’água, para o meu banho purificador, onde eu poderia ser. E esquecer. Não volto. Pego o ônibus. Vou à lugares. Encontros pessoas.

Volto pra casa. Não lembro de nada. Nada faz sentido. Nada tem importância. Preciso desesperadamente de um banho. Tiro minhas roupas. O sono me derruba primeiro. Durmo o sono pesado dos mortos.

Uma mão suave toca meu rosto. Um olhar doce vem ao encontro do meu, ainda atordoado pelos pesadelos dos quais não me lembro. Um beijo macio me faz dormir. Ela deita-se ao meu lado. Quem é ela?

Acordo. Já é noite. Será que hoje é sábado? Os dias têm passado tão corridos ultimamente. Vou à cozinha. Tomo um copo de água enquanto a angustiante cafeteira vomita lentamente pingos de café. Quase lembro-me de um sonho com uma leve estranha.

Preparo o café com canela e chocolate-em-pó. Pego morangos na geladeira. Sento na sala. Abro o livro que estava embaixo do controle-remoto. Tomando café-com-canela-e-chocolate-em-pó e comendo morangos, eu leio: “Tanto sangue dentro do meu derramado coração, era assim? Talvez fosse, mas não se trata disso. Lamúria insuportável, o corpo, esse que se arrasta com suas carências. Não precisa pressa, calma lá. A porteira está fechada para quem quiser passar, era isso? Já te disse que não responderei. Quero saber, e depois?

Tomo um banho. Desta vez não é místico. Só água correndo sobre o corpo. Lavando aquele monte sujo e inútil de carne e pêlos. Visto-me, perfumo-me e saio. Pela noite.

É então que encontro aquela linda menina de longos cabelos louros, vestida em sedas e cetins roxos púrpuras lilases. Ela dança suavemente enquanto entoa mantras indianos. Parece que está em transe.

Já no apartamento dela, aquela Índia perdida no meio da selva urbana, ela me diz que o sexo não deve ser selvagem. Deve ser a união do Divino que há nela com o Divino que há em mim. Deve ser sublime. Senão é coisa de bicho, de animal. Sem sentido nenhum. Só carne entrando e saindo de outra carne. Entre sedas e cetins e mantras indianos, nós unimos os nossos Divinos.

Saio de lá leve como uma pluma. Pareço estar pisando em nuvens. Cheiro à incenso e não à sexo. Sinto-me... sublime. Não me lembro, em nenhuma outra noite da minha vida, de ter dormido tão bem. Pela manhã, quando acordo, não tomo um copo de vodka e abro a janela para o sol entrar.

É incrível como os dias sempre me passaram em branco. Se eu fosse escrever um livro sobre mim, eu só me lembraria das noites. Parece até que minha vida não teve nenhum dia. Foi sempre uma sucessão de noites. Semanas, meses, anos, décadas... de noites.

O último dia de que me lembro, foi aquele em quê.

O pote de sorvete derretido. A xícara de café frio. Estrelas no céu. Sometimes I feel so happy Sometimes I feel so sadSaudades no coração. Dor de cabeça na mente turva e confusa.

Sabe, eu preciso de uma razão. Pra viver. Pra ser alguém diferente de quem eu sou. Pra vestir outra fantasia e sair à rua de novo. Pra vestir outra máscara-e-óculos-escuros e sair ao sol de novo.

É impossível ser feliz. É impossível ser livre. É impossível ser algo diferente disto tudo quê.

Ando ando ando e não sou atropelado. Às 5 da madrugada não há balas perdidas. Um gato preto cruza o meu caminho, como um sinal divino, abençoando a minha existência escura.

Tudo piração, tudo bode, saca? “O tal de inconsciente coletivo...

Amanhã não vai ser diferente. Todos os dias – ou noites – são sempre uma sucessão de coisas diferentes que ao final acabam no mesmo lugar. “A ordem dos fatores não altera o produto.” E os fatores são sempre os mesmos.

Bebo o sorvete derretido com o café frio.

All you need is love, gin and tonic.”, vejo escrito em algum lugar. Compro um gim com tônica. Na falta de amor, pago por um pouco de sexo.

A vida é um eterno círculo vicioso. Alguns vícios são bons. Outros são meus.

Vomito o sorvete frio e o café derretido.

I’ll be your mirror Reflect what you are in case you don’t know I’ll be the wind, the rain and the sunset The light on your door to show that you are home

Já cansei de fugir. Já cansei de tentar tudo de novo outra vez.

Pego a garrafa de vodka escondida atrás da lata de biscoitos. Saio e compro bolinhas brancas. Vejo bolinhas coloridas. Vejo cores na chuva. Vejo arco-íris nas poças de lama. O s carros passam e me molham, mas eu continuo quente e ardido. Caio na calçada. Deito e durmo. Alguém me leva pra casa e fecha as cortinas para o sol quase não me acordar. “Thank you, my friend.”

Sei lá pra que tudo isso. Não importa mesmo.

Mais dias em branco. Mais noites de caos. “Tudo isso tem que ter um sentido!”, eu penso.

Dançar dançar dançar. O mundo sem música não tem graça.


E digo mil vezes: não

Quero tudo isso de novo e

De novo e de novo! Não

Quero escrever. Não

Quero beber. Não

Quero sair. Não

Quero dormir. Não

Quero dançar. Não

Quero amar. Não

Quero viver.

Tudo o que eu quero é ser:

O que eu não sou.

Ou morrer:

Pela vida que sempre quis ter,

E que nem mais consigo ver.


Então eu pinto o que ninguém consegue ver de preto, e saio. Sigo adiante, sempre em frente, direto para onde não quero ir.

E daí vem todo mundo me perguntar “Pô, cadê a tua espiritualidade?”, e dizer “Deus salva, Deus salva!”, e eu digo: Estou muito bem aqui.

Eu cheguei a uma conclusão: eu sou um conjunto de exageros. Um conjunto de intensidades por demais intensas para conseguirem formar uma harmonia.

Mas se o exagero é pura comparação: o que sou eu? Não quem. O quê?

Sinto como se quase soubesse quê.

Eu poderia ser um bilhão de coisas, mas não poderia ser quem eu sou. Não deveria, ao menos.

Como é que uma pessoa pode ser?

Sabe, ser é só um conceito. Na verdade, tudo são apenas conceitos. A realidade não existe.

Certo e errado. Bem e mal. Céu e inferno. É tudo ilusão.

Nossas mentes pervertidas e desvirtuadas precisam de uma certa ordenação lógica para que possamos fingir não ser apenas animais estúpidos e degenerados.

E isto: animais estúpidos e degenerados: isto somos nós: todos nós.

A culpa é anti-natural.

Eu não sinto culpa por nada. Pelo menos, não deveria.

Medo é instinto. Medo é sobrevivência. Medo é a realidade nos dando um soco na cara.

O medo é assustadoramente real. Tanto, que dá medo.

O amor eu não sei: eu só ouço falar.

As dores são psicológicas.

Psicologias fracas têm mais dores. Psicologias insensíveis também.

Quem foi o idiota que convencionou que ser insensível é ruim?

Pessoas que têm muitas dores são pessoas que possuem um excesso em comum: a falta. Lhes falta tudo: principalmente elas mesmas. E os outros. A partir daí o mundo desaba. Geralmente estas pessoas acabam por suicidarem-se. “Love is a battlefield.” Or a butterfly. Or... something like... the death.

Saí pela noite em busca de. Não há nada de realmente importante, ou interessante, a ser buscado durante o dia.

Na noite está o caos: no caos estão todas as respostas. A questão é: quais são as minhas perguntas?

Eu deveria estar fazendo.

Por que tudo acaba sempre em uma eterna sucessão de “por quês”?

Corro desesperadamente em meio à chuva da noite sem estrelas.

Desespero.

É o sentimento elementar.

É o que move o mundo.

Me desespero. Me movo. Eu sou o mundo. E “Eu saúdo o Divino que há em mim.” Mas já é tarde demais. Eu estou perdido. O mundo está perdido. O desespero absoluto seria o caos completo. E é no caos que estão todas as respostas. E assim eu renasço.

Levanto. Escovo os dentes. Tomo banho. Visto uma fantasia. Visto uma máscara. Coloco os óculos escuros. Saio para o mundo. Esperando não despertar de novo. Ou.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Considerações

"nada de café: o café nos torna sombrios." Frase de Friedrich Nietzsche. Em alguma coisa eu teria que discordar dele, não é? Bem, na verdade eu não discordo, apenas aceito este aspecto "sombrio" que o café nos dá. A cafeína é a minha droga. Quase tanto quanto a literatura.

Eu preciso viajar. Me exilar. Fugir do mundo conhecido para me encontrar. De novo. Incrível a facilidade que eu tenho em me perder de mim mesmo. Eu preciso viajar.

Por que as pessoas tem tanto medo de cemitérios? São só pedras frias e flores murchas. No máximo, é um lugar de libertação. "Vamos cremá-lo e espalhar suas cinzas pelo mundo!"

Ponto final. Apesar de não acabar nunca...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Tudo.

Eu simplesmente acho que é inútil tudo isso. Não. Não serve pra nada. Este querer ser. Todas estas agonias e angústias. Todo este imediatismo. “Eu quero ir embora: Agora!” De que me serve isto? Tudo para acabar como qualquer outro que tentou e não conseguiu. Eterna frustração. Again, again and again. Não importa. Não mais. Acho que na verdade nunca importou. Queria que importasse: “Nossa, se eu fizer isto eu vou virar aquilo, já pensou?” Sabe, tudo isso é... ilusão. Pura e simples. E falsa. De que me serve tudo isso? Se a minha loucura me impede de ter uma vida razoavelmente aceitável. E eu digo de novo e de novo e de novo: Eu quero! Pra que? Pra isto? Não faz sentido nenhum. Não mais... ou faz? O que eu perdi? O que eu ganhei? O que permaneceu? Algo de valor? Sabe, isso tudo é muito confuso, e embora todas as respostas estejam no caos, as vezes é difícil encontrá-las. Quase impossível... Mas daí eu paro e penso: só o que eu tenho feito na minha vida é parar e pensar. E agora? Não há ninguém para culpar. Não culpo nem a mim mesmo, como fiz outrora. Já carrego tantas culpas. Algumas desnecessárias. Mas as pessoas são assim. E mesmo sendo tão diferente delas, sempre encontro alguma coisa em quê. Talvez seja fatalismo. Talvez comodismo. Talvez um monte de ismos que não servem pra nada. Mas eu continuo. De uma forma ou de outra. Vou ler. Vou escrever. Vou ouvir aquela música tão bonita e tão triste. E o que é que ficou? Valeu a pena? Perguntas difíceis de se responder... Acho que sempre fica alguma coisa. Às vezes alguma coisa importante. Nem sempre vale a pena. Mas a gente aprende com os erros. Pelo menos é o que dizem. Ou a gente repete os erros e daí a gente aprende. Ou não. Tá tudo tão diferente. Este dia de sol tão triste como um dia chuvoso. Não tenho mais nada que valha a pena dizer. O que tiver que ser, será. Eu só espero quê.

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Blog novo. Vida nova.

The Exile (05/05/2006 - 03/10/2007)
Cenas de um Cotidiano Pós-Moderno (10/11/2006 - 14/09/2007)

Obrigado a quem leu.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

teste.

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