sexta-feira, 31 de outubro de 2008

as mulheres & o amor

Agora, nessa madrugada, lendo o "Nossa Senhora da Pequena Morte" da Averbuck, eu percebi que todas as mulheres são iguais. Pode ser intensa, tempestuosa, culta, inteligente, o caos. Ou pode ser burra, ingênua, limitada, torpe. No fundo, todas as mulheres sofrem do mesmo mal: amor incondicional, paixão doentia. Não importa a mulher, ela sempre acredita que o aquele amor é o mais forte & puro & verdadeiro & que vai durar para sempre. Os meus amores nunca foram fortes nem puros. Sempre foram verdadeiros (por um curto período de tempo). E eu sempre soube que nenhum deles seria para sempre. Mas elas acreditaram que sim, que a eternidade seria como aquele abraço, aquele beijo, aquela noite, aquele "eu te amo". Mentira. Se não foi mentira na hora, tornou-se depois. As minhas sinceridades absolutas sempre foram tão efêmeras. Não há salvação para as mulheres. Elas vão continuar acreditando, vão acontinuar amando. E eu vou contiuar sentindo o que me cabe: esta eterna culpa.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Considerações Sexuais

Na minha vida não havia drogas nem putas. Mas havia muita bebida e ex-namoradas, o que, no final, era praticamente a mesma coisa. De manhã, sentado na minha cama, batendo punheta e encarando uma caranca que soltava fumaça de sândalo pela boca, eu pensava como era estranho tudo aquilo. Séculos se passavam e as vaginas continuavam as mesmas. E eu sempre querendo alguma coisa diferente, alguma coisa a mais, alguma coisa sagrada no sexo animal. Queria a divindade em dois corpos se esfregando, resfolegando, ofegando. Mas não havia nada. Só o gozo, o vazio e uma ereção desfeita. Eu gostava dos cheiros. Acho que ainda gosto. Cada mulher com seu cheiro, com seu gosto, com sua textura. Todas tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Banais. Vaginas em série, com algumas diferenças na embalagem. Intelectos amorfos & fantasias sadomasoquistas. "Paquitas", como diria Juliano Guerra. Paquitas sedentas de porra e nada mais. Afinal, a Xuxa fez filmes pornôs e deu pro Pelé, quem sabe desse certo pra elas também. Mas o pior é que nem isso elas queriam. Elas queriam o sexo pelo sexo. E eu sempre buscando alguma coisa além. Santidade, um momento perfeito, uma cena hollywoodiana. Eu viajava em citações de poetas malditos enquanto elas sugavam minha porra, sedentas, como um aspirador de pó na última velocidade. Eu me contorcia em espasmos e empurrava a cabeça delas. Era deprimente. E não havia nada. Gozava sem sentir. Um insensível de corpo e alma. Sozinho, num apartamento vazio, batendo punheta em meio à fumaça de incensos. Eu rezava para todos os meus deuses & invocava alguns demônios. De nada adinatava. Havia estado desesperado, mas agora nem o desespero fazia mais sentido. Experiências múltiplas. Sensoriais. Sexuais. Taças de vinhos, blues lentos, solidão. Nunca me faltou sexo, o que sempre faltou foi a companhia. Eu ouvia sirenes lá fora e adormecia no meio da punheta. O problema é que os detalhes sempre significaram muita coisa, e o todo nunca me valeu de nada.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Tempo

Eu andava pensando em decapitar passarinhos e espremê-los, colocar todo o seu sangue em uma tigela e escrever com ele. Também andava pensando muito sobre Lúcifer. Eu achava que se ele era o espírito mais perto de Deus, ele devia saber bem mais do que os outros, e provavelmente não tinha se rebelado à toa. E também, se Lúcifer era um espírito puro, ele era bom, e partindo do pressuposto de que os espíritos não regridem, ele não poderia ter se tornado mau. Acho que ele teve um conflito com Deus, pois não concordava com a forma como Ele administrava as coisas. Então Deus, do alto da sua ditadura nazista, expulsou baniu exilou Lúcifer. Agora, só porque o cara foi banido, não significa que o cara seja ruim. Então eu ficava pensando que Lúcifer estava lá no seu exílio fazendo coisas boas, mas à sua maneira. Ele era um puta de um injustiçado, o coitado. Naquela época, dos passarinhos e de Lúcifer, eu andava com uns bloqueios meio bestas. Andava com dificuldades na ficção. Eu só conseguia escrever o que eu vivenciava. Não conseguia mais fingir, não conseguia mais inventar. Foi aí que pensei nos passarinhos, e meu pai tinha uma criação de canários que viria bem a calhar. Mas no fim desisti, achei que seria mais ou menos como na vez em que eu comprei uma caneta de R$60,00 e fiquei bloqueado. Nunca consegui escrever nada com aquela porra. No fim, acabei dando a caneta pra alguma das menininhas que eu comia naquela época. Era uma bela caneta. Ela deve ter se masturbado com ela. Mas Lúcifer, passarinhos & bloqueios à parte, eu andava emputecido com a reforma ortográfica. Queria matar quem inventou aquela merda, queria enfiar aquela lei no cu deles. Sei lá, talvez Lúcifer fosse mesmo um cara mau e eu pudesse oferecer-lhe passarinhos decapitados para que ele levasse para o inferno os caras da reforma ortográfica. Naquela época eu também andava às voltas tentando resolver o meu vazio pós-coito - sem aplicar as novas regras gramaticais. Uma amiga havia me dito que sexo era apenas sexo, e que não havia nem nunca haveria nada depois. Eu ainda tinha umas idéias meio românticas e precisava acreditar que havia um depois. Mas toda vez que comia alguma adolescente sadomasoquista, eu ficava, ao final de tudo, lembrando da minha amiga dizendo que não havia mais nada, e apesar da insatisfação & contrariedade óbvias, eu começava a compreender. Parece que foi há tanto tempo tudo isso. Parece que foi ontem. E foi.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Pois é

É, e eu que já estava me achando grande coisa. Não sou nada, só uma imitação barata de artista, cópia frustrada de escritor. Um merda, em suma.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Espera

Eu lia Dostoiévski e ficava com uma depressão absoluta e incompreensível. Eu sempre gostei das minhas depressões absolutas, mas não conseguia conviver com nada que me fosse incompreensível. Então eu parava de ler Crime & Castigo, sempre na segunda parte, sempre por volta da página 110, e ia procurar contos beats na internet. Procurava algo que me dissesse alguma verdade besta, amarga e plenamente compreensível. Andava numas nóias de escrever contos de um intimismo nojento, meloso e doentio, sobre um amor platônico por uma menina de Porto Alegre. A minha relação com a palavra amor sempre foi muito engraçada. Eu, escritor maldito, showman de uma desgraça forjada, andava sempre pregando aos quatro ventos que o amor não existia. Não perdia uma oportunidade.

– Eu não acredito nessas coisas.

Mas qualquer menininha idiota que via os meus textos na internet se dava ao direito de vir me dizer “e tu ainda diz que não acredita no amor...” Eu ficava furioso. Eu decidia minhas crenças, e nenhum texto canalha & cretino iria mudar minhas falsas verdades. Digo falsas, porque eu nunca acreditei em verdades. De nenhum tipo. Mas daí eu estava naquela nóia de escrever contos intimistas para a menina de Porto Alegre. Ela era meio filósofa, e me influenciava com a sua prosa estranha. Nós chegamos à conclusão de que éramos, ambos, viciados em drama. Apesar disso, ela não falava – nem escrevia – com clareza sobre o que acontecia. Eu mandava mensagens bêbado e ela permanecia em silêncio. Às vezes, não atendia o telefone. Eu já estava ficando de saco cheio e com vontade de mandá-la se foder. Eu nunca fui um cara de amores platônicos. Eu não tenho paciência pra isso. Descontava minhas frustrações em tardes & noites de sexo esporádico com duas ex-namoradas, alternando os dias. Mesmo assim, tesão andava sendo uma coisa difícil pra mim. Eu já havia feito o Kama Sutra completo com as duas, e não havia mais novidades. Até tentei convencê-las a fazer um ménage, mas não rolou. Permanece até hoje como minha única fantasia não realizada. Mas o problema principal era o tédio daqueles dias. Eu havia voltado de Buenos Aires há um mês, e nesse mês não havia acontecido absolutamente nada de interessante – fora o meu consumo descomunal de bebidas alcoólicas diversas. Funcionava assim: eu ficava entediado e bebia. Eu não trabalhava e havia trancado a faculdade de jornalismo. Passava as madrugadas bebendo e os dias dormindo. Não conseguia dormir à noite, estava com umas paranóias a respeito de fantasmas. E havia um gnomo no meu apartamento. Pelo menos ele cuidava das plantas, já que eu sempre fui muito relapso com isso. Eu só não estava usando drogas mais pesadas por falta de oportunidade. Às vezes me sentia meio fake nesse papel de escritor maldito, a la Caio F., que no fundo tinha uma paz espiritual, adquirida das religiões orientais. Às vezes me parecia que eu estava sufocado numa agonia, meio a la Juliano Guerra, eu que nem sou tão canalha, que dissimulo e finjo não acreditar no amor. O que aconteceria depois eu não sabia. Tinha planos de me mudar para Porto Alegre, lançar um livro, exercitar a minha paciência em um ou dois semestres de uma faculdade de letras qualquer. No fundo, eu tinha 21 anos, três faculdades trancadas e nenhuma perspectiva de futuro. Minha mãe ficava quase louca, e tentava desesperada fazer com que eu me interessasse por alguma coisa. Não adiantava. Eu me interessava por uma filósofa gostosa de Porto Alegre, boa literatura & alucinógenos. O resto não me importava. No fundo, eu estava cansado. Às vezes olhava os meus amigos formandos, com suas vidinhas bem estruturadas, e sentia pena e inveja. Na mesma proporção. Mas eu sabia que aquilo não era pra mim. O que eu não sabia era o que eu estava procurando. Eu não sabia quem eu era. E por muito tempo isso me causou desespero. Mas o desespero passou e só restou o cansaço. Eu ria sozinho no meu jk alugado e cheio de fantasmas. Mas era um riso amargo. Eu fumava um cachimbo que me ardia na garganta e bebia mais. Estava esperando. Só não sabia o quê.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Caminhada Noturna

Para onde vou? Belíssima questão. Nós sempre nos perguntamos para onde vamos, sem nunca prestar atenção de onde viemos. A noite está agradável. Há uma brisa leve e fresca, que faz as folhas escuras das árvores farfalharem. Meus passos ecoam pelas ruas desertas. Nietzsche já dizia que os únicos pensamentos válidos são aqueles que temos caminhando. Andando agora, nesta madrugada deserta por estas ruas solitárias, isso começa a fazer sentido. As cidades de interior, em dias de semana, morrem à noite. Vez em quando uma que outra viva alma cruza o meu caminho; fora isso, tudo é deserto. É complexo, sabe, essas coisas de andar por ruas desertas. Já é tarde, quase cedo. Alguns passarinhos já se atrevem a dar alguns piados. E eu pensando numa moça distante, e lembrando da imagem de Caio dizendo pra escrever tudo que vêm à cabeça. Devaneios, delírios. Acho que estou ficando louco. Esquizofrênico, até. Às vezes tenho alucinações, sabe. Vejo pessoas que não existem. Sabe, elas me atormentam. Passo por uma loja onde há manequins na vitrine iluminada. Eles parecem vivos. De início eu tomo um susto, mas depois aquilo me dá uma opressão, os manequins que parecem vivos, as pessoas que não existem, tudo me apertando o peito, e eu quase choro. Mas bem no momento em que eu vou derramar a primeira lágrima, um passarinho canta bem alto. É um canto bonito. Não sei que pássaro é, eu nunca soube distinguir o canto dos pássaros, embora eu tenha sido criado no interior, no meio do mato, onde meu avô e meu tio sabiam distinguir e imitar com perfeição o canto de todos os pássaros que ali haviam, sabiam cantar como pássaros, cantar para atraí-los, cantar para matá-los. Atrair & matar. De uma forma ou de outra, estes verbos sempre estiveram presentes na minha vida. Mesmo quando meu pai ficava dormindo, ou então andando de roupão pela casa de campo dos meus avós, meu pai sempre tão urbano, enquanto meu avô e meu tio iam cantar e matar passarinhos. Sabe, aquele canto sempre me pareceu algo ritualístico, algo entre uma marcha fúnebre e uma ode à morte. Vai ver era mesmo isso. E eu sigo caminhando pelas ruas desertas. Embora ainda seja noite escura, fechada, os pássaros já anunciam a manhã como se ela estivesse aqui. Vai ver está, eu que não vi. Passo numa rua secundária, mais deserta do que as outras, e ouço urros, que a primeira vista me parecem lamentos melancólicos, talvez uma mulher recém-estuprada chorando suas mágoas ao vento, talvez alguma dor forte & funda, algum coração despedaçado. Depois os gritos me parecem algazarra de adolescentes, alguma festa com sexo, drogas & rock'n roll, em plena madrugada de terça-feira, desafiando as regras de cidade pequena, há quanto tempo eu fazia isso também? Não deve ser muito, não sou tão velho... ou sou? Não consigo me lembrar. Por fim percebo que é apenas o choro de uma criança, e por entre cortinas esvoaçantes vejo a luz de uma televisão sem som em um apartamento térreo. Eu nunca entendi porque as crianças choram à noite. Algo a ver com o escuro, algo a ver com pessoas que não existem, monstros embaixo da cama... A noite calma faz minha mente voar mais do que qualquer droga. Eu caminho alienado enquanto os vigias das ruas me observam com atenção, eu, um tipo tão estranho, todo de preto, com longos cabelos cacheados e um chapéu destes que não se usam mais. Talvez achem que eu estou drogado. Ou tentando assaltar alguma casa. Provavelmente os dois. E os passarinhos continuam cantando. Tem um poema famoso que fala alguma coisa assim, sobre passarinhos, alguma coisa como "você passará, eu passarinho", nem me lembro mais... Vejo as placas de rua e viro para o lado oposto, só por diversão. As placas não são para pedestres mesmo, mas eu exercito a minha tendência natural à contrariedade. Eu sempre fui tão contrário a tudo e a todos. Passo agora em frente a uma mini-pracinha, em frente a uma casa colorida, uma creche provavelmente, e isso me lembra os dias felizes da minha infância. Está tão nostálgico esse passeio. Mas há aqui, em frente à essa creche, o cheiro forte de alguma árvore desconhecida, que me desperta mil lembranças, me atirando de volta com força à minha infância, junto com o colorido dos brinquedos. Já é primavera e os mosquitos me comem vivo, enquanto na casa ao lado da creche um cachorro se movimenta e se agita, inquieto por detrás do muro, sentindo a minha presença aqui parado, a minha presença, que eu sempre desconfiei não ser muito boa. Acho que não há cachorro algum. Devem ser apenas passarinhos. Ou gansos. Ando pelas ruas e ouço portas rangendo, mas não há nada. Já estou perto de casa agora. Sinto a manhã se aproximar, embora não haja resquício dela no céu. Deve ser só impressão, uma impressão errada, mais uma... Os pássaros são agora bem mais numerosos, e cantam cada vez com mais força. Passo por uma prostituta em uma esquina e agradeço o convite, mas sabe como é, estou sempre sem dinheiro e ela pode ser um travesti. Ando no meio da rua. Sempre gostei disso. Talvez pela transgressão, talvez pela solidão. Sento-me em uma escada perto de casa. Uma placa balança violentamente, embora o vento pareça ter diminuído. Agora os carros já começam a aparecer. E as vozes. É hora de ir para casa e trancar-me até a próxima noite solitária, trancar-me até que a próxima noite revele o seu esplendor só para mim. E ainda preciso ir tomar o café da manhã com minha mãe. Levanto-me e sigo. A luz de um poste apaga quando passo. Isso acontece sempre. Imagino que deva haver alguma explicação científica, mas prefiro acreditar que são os meus fantasmas. Eu gosto deles. Pessoas que não existem, princípio de esquizofrênia, essas coisas... Não vou contar as páginas, não vou olhar a hora, nada. Alguma coisa eu já devo ter escrito, só espero que seja bom. Vejo a lua alta no céu, pela primeira vez na noite, e ela não parece anunciar a manhã. A luz de uma vitrine pisca incessantemente, e quando eu passo, ela apaga. Fantasmas, esquizofrênia... O vento aumenta agora, estou quase em casa... É tudo mentira. Eu ainda não me levantei daquela escada. Embora a lua, a luz da vitrine, os fantasmas, o vento, as palavras, tudo isso seja real. Agora eu vou-me de fato. Na primeira quadra passo por uma bandeira do Brasil tremulando no alto de um edifício. Escarneço. Acho engraçado, mas daqueles engraçados amargos. Nunca gostei destas porcarias de "ame uma pátria forjada a sangue escravo e venha para o exército". Tampouco fui revolucionário ou esquerdista, sempre gostei de vinhos chilenos e tabaco dinamarquês. Na adolescência tive uns flertes com aquela porcariada toda de República Rio-Grandense, mas já passou. Aliás, todas as pseudo-tentativas de lutas ideológicas da adolescência já passaram. Se é que houve alguma. A verdade é que eu sempre fui um acomodado. Começa a ficar frio agora. A lua continua alta e a manhã parece que não virá hoje. Tenho efeitos retardados de drogas variadas e vejo luzes que não existem cruzando o meu caminho. Um duende joga uma semente no meu chapéu. Duendes são sempre tão brincalhões. Dou voltas pelas quadras ao redor da minha casa procurando prolongar o caminho o máximo possível. Está muito frio agora, mas a noite continua maravilhosa. Quando estou quase chegando em casa um passsarinho pousa aos meus pés e começa a catar umas sementes pelo chão. Acho engraçado, mas desta vez sem o amargor, apenas com nostalgia. É um engraçado com um sorriso meio triste. Quando chego na esquina do meu apartamento todos os passarinhos cantam de uma só vez, e desta vez eu não consigo conter as lágrimas. Tenho vontade de matá-los todos, um a um, esmagando-os entre meus dedos, vendo suas vidas pequeninas esvaírem-se, e suas belas vozes calarem-se. Antes de entrar em casa olho para o céu pela última vez e vejo que um azulado claro começa a surgir. A manhã finalmente chegou. Eu chego em casa gelado. Encontro o elevador no térreo. Eu fui o último a sair, eu sou o primeiro a chegar. Ao entrar no elevador e apertar o botão do sexto andar, tenho a sensação de que algo morre em mim. E o pior é que eu nem sei o quê. Agora não importa mais, já se foi.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ela

Incrível como uma única palavra é capaz de me desmoronar por inteiro. Não entendo de onde vêm essas toneladas de dramas desnecessários. Uma palavra, um gesto, um sorriso meio errado são suficientes para fazer desabar um torrente de lágrimas sem sentido, choro convulsivo e inexplicável, por desejos ainda mais inexplicáveis. Tentativas vãs de achar alguma lógica, algum sentido na falta daquilo que nunca tive, na ausência desesperadora de uma presença que eu não conheço, embora reconheça, delírios de vidas passadas. "O mundo termina fácil, e a vida recomeça num instante." Traduzir em palavras sentimentos que não compreendo é tarefa árdua, e cada vez mais eu me perco em labirintos de idéias vãs, em caminhos que não levam a lugar algum, sabendo que o único lugar para onde quero ir é - talvez - inalcançável. Loucura desvairada perturba minhas noites, tira meu sono, não me permite descansar nem mesmo em sonhos, loucura desvairada de sentimentos sei lá eu por quê dilacerados... Uma palavra, uma ausência... só isso basta. O mundo cai. Assisto a (re)construção que eu fazia pacientemente de mim mesmo ruir - de novo. Até onde isso vai? Gatilho maldito de emoções que dispara quando eu menos espero. Gatilho maldito de sentimentos, e essa mão invisível, cruel e sempre pronta a acabar comigo. Essa menina tão bela e tão distante, intocável, sempre a dilacerar-me em versos sem rima nem métrica, a retalhar-me em prosa solta e perfeita, a filosofia da (auto)destruição. Ah... todo esse drama disparado de longe, como se fosse perto, como se fosse a queima roupa, chego a sentir o calor, o rubor das faces, o sangue pulsante, a emoção vibrante em cores vivas e olhos azuis. Uma libertação escondida atrás do exagero em pessoa. Uma salvação. Outro drama, lágrimas, desesperos, os eternos círculos viciosos de que me falaste tanto, não há escapatória, é só ilusão, mas nós vamos construindo nossas ilusões cada vez melhor, e acreditamos cada vez mais nelas, e quando se desfazem como bruma ao sol, morremos, um pouco em cada ilusão, e cada vez mais, nossas ilusões andam tão reais, nosssas mortes andam tão profundas, meu Deus, aquela dor forte e funda lá dentro, cada vez mais, de novo e de novo e de novo, em círculos sem fim. Toda essa dramaticidade, nós dois, belos sentimentais desperdiçados, atropelados pelo mundo que nos distancia e nos rouba um do outro. Tempo desgraçado, que não permite horas a mais para nos aproximar, algumas horas extras para nós, não para o mundo, deixa o mundo com seu tempo, dê-nos mais horas, só para nós dois, nosso tempo particular, nosso mundo particular, nossa eternidade em um segundo perdido. Nossa eternidade, sempre tão efêmera, tão frágil, tão fugidia. Mas nossa, e por isso intensa, multicolorida, brilhante. Nossa eternidade perdida em um segundo sem dramas, o segundo que buscamos desesperados no meio de tantas horas inúteis de choros desgarrados e vontades suicidas. O nosso segundo. Tudo por uma palavra disparada sem dó... Tudo por uma emoção na hora errada, numa noite, estirado em uma calçada, quando alguém me disse o seu nome e eu pensei: "ela!" E foi ela desde então, sempre ela, e o drama, e os segundos perdidos, e a eternidade. Depois de tudo, é difícil admitir que, para mim, ela sempre foi uma ausência. E é nessa ausência que sempre esteve a minha redenção. Nas suas palavras distantes, no seu pulso firme dedilhando um gatilho imaginário. No fundo dos seus olhos azuis, como duas poças de água cristalina, como uma passagem para a eternidade. Uma palavra. O gatilho. Ela.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

...

tanta coisa, tanta coisa...

sábado, 11 de outubro de 2008

Drama

O drama é essencial. Mas em excesso mata. Como uma overdose. Overdose de drama. Overdose de sentimentos dilacerados. Overdose de solidão. Essa necessidade pelo drama afasta todo o resto. Afasta tudo o que é realmente importante. Afasta todos os que realmente se importam. O drama é um veneno. Uma droga que vicia - e como é difícil largar! Como tudo é difícil...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Marcelo Camelo e Mallu Magalhães - Janta

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Eu sempre tive o meu mundinho meio à parte. Foi o que me salvou e me amaldiçoou até hoje.

o belo

Nós temos implícito - ou explícito - em nós a eterna busca pela beleza. É como um instinto, enraízado bem fundo no nosso subconsciente. Milan Kundera já falava alguma coisa sobre o eterno senso de beleza que guia a todos nós, pobres mortais desejosos. Mas essa beleza não pode ser apenas estética, ela também precisa ser tão - ou mais - bela em seu interior. Mas não pode ser um belo vazio, pura bondade e ternuras. Necessita-se de um belo machucado, com cicatrizes por dentro, um belo deformado, que só se mostra belo quando observado em certo ângulo. Eu sei que parece ridículo falar dessas coisas de beleza interior nos dias de hoje. E quem lê e me conhece deve estar achando isso uma farsa.

- Cara, mataram o Ryan! Alguém invadiu o apartamento dele, e agora tá postando no blog dele!

Mas não, eu não morri. Apenas a vodka que me fez ir um pouco (ou muito) mais fundo, cavocar, revirar lá no fundo escuro e poeirento, abandonado. E lá, assim, não sei explicar muito bem, acho que eu encontrei algo como um resquício de esperança. Esperança de que, eu não sei. Talvez da vida.

Mas por algum motivo que eu desconheço, tudo isso me fez lembrar do velho Kundera, com o seu sentido estético de beleza, com seu Tomas e sua Sabina.

Mas o que eu queria dizer mesmo é que eu não consigo encontrar o belo, por mais que eu procure. Um vislumbre aqui, outro ali, mas é só névoa sob a luz de mercúrio. Talvez tudo isso seja porque o belo morreu em mim. Lá dentro. Morreu de fome. E sem ter a sua própria beleza inteior, é impossível sentir a dos outros.

sorrir

Eu acho que eu não sei mais sorrir. Sabe, eu sabia quando era criança, mas com o tempo eu acho que eu esqueci como se faz, desaprendi. Sorrir é uma coisa difícil, árdua, precisa de muita técnica e prática. Eu não tenho nada disso. Pelo menos não pra sorrir. Sei lá, às vezes eu tenho a impressão que apenas os sorrisos das crianças são verdadeiros. E hoje em dia elas estão aprendendo a dissimular tão cedo, meu Deus!

Sei lá, um sorriso não ia me servir de nada mesmo.

"Não mais um rosto inchado de mágoa, não mais muros, não mais máscaras: Minha face limpa, e um sorriso apenas."

Sabe, é uma imagem bonita isso. Mas nunca vai ser verdade. Não importa quantas máscaras tu tirares, sempre vão haver mais. Não existe vida sem máscaras, é uma simbiose perfeita, indissolúvel.

E quanto ao sorriso...

são coisas...

"Comentei com Ryan que também já escrevi um poema
e um texto com esse tema: Alma Gêmea...
É, encontrar uma identificação imensa & intensa
com alguém que tanto se buscou, assusta sim.
E penso que nem sempre as almas gêmeas ficam juntas..."
(Sonia Regina Cancine)

Desabafo

Sabe, eu li uma coisa hoje que me fez pensar.

"Algumas respostas precisam ser sentidas sem que haja uma palavra sequer. E são essas que devem valer realmente a pena."

Eu descobri - na verdade eu sempre soube, mas somente agora eu pude aceitar - que eu me apresso muito. Têm coisas que precisam evoluir naturalmente, lentamente, coisas que precisam de uma construção dura e penosa (ou não), e que não se pode simplesmente resolver em um estalo. Este sempre foi o meu problema, os estalos. Às vezes simplesmente me dá um estalo, e o mundo cai. Sou uma pessoa de paixões muito curtas e muito intensas, e é por isso que eu não posso me dar ao luxo de perder tempo, pois assim como o estalo vem, ele vai. E quando não há mais o efeito daquele maravilhoso - maldito - estalo, não há mais paixão, não há mais companheirismo, não há mais nada. Somente a eterna frustração. Sei lá, talvez seja só orgulho ferido, e tu sabes, eu sou leonino, e todo felino fica perigoso quando está ferido.

Bom, eu sempre acabo me envolvendo na minha eterna teia de explicaçãoes desnecessárias, mas eu sou assim mesmo. O que eu queria dizer mesmo é aquilo ali:

"Algumas respostas precisam ser sentidas sem que haja uma palavra sequer. E são essas que devem valer realmente a pena."

Eu não entendo minha pressa e minhas urgências. Mas esse sou eu, (in)felizmente.

Que os nossos deuses saibam nos guiar. Amém.



http://isabelaguiar.blogspot.com/2008/10/still-i-wonder-why-it-aint-right.html

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

...

Poucas pessoas entendem a magia de uma xícara de chá e de um cachimbo.

Almas Gêmeas

Bah, eu só faço merda mesmo. Já passei da fase de conversar por blogs. Até que era divertido, mas eu não tenho mais o feeling. E além do mais, tem coisas que não se diz, que não se escreve, que não se faz. Tem coisas que tu te obrigas a deixar no campo do inconsciente, numa espécie de auto-preservação, pois tu sabes que se aflorar vai ser um caos dolorido e incontrolável, e tu não sabes se terás forças pra segurar mais essa. Minhas forças andam tão parcas ultimamente. Então tem coisas que não se diz, tem perguntas que não se faz, a não ser pessoalmente, independente de quantas horas se passe ao telefone. Mas às vezes a auto-sabotagem supera a auto-preservação, e tu deixas escapar algo, algo que sempre esteve ali e tu fingistes não existir, dissimulastes, mas às vezes tu deixas escapar algo, e ao tomares consciência, mesmo que seja só um vislumbre de consciência, o mundo cai. Eu sei que não se pode tocar o caos e sair ileso. Muito menos possuir a eternidade. Sei que as tentativas vão gerar feridas fundas que talvez não cicatrizem nunca mais. Sei de tudo isso e todos os outros muitos males que não citei. Aliás, eu só sei de males. Nunca acreditei no lado bom das coisas, esse sempre foi o meu defeito, sempre foi a minha fraqueza, embora tenha me poupado muitas decepções. Outro (falso?) mecanismo de auto-preservação, talvez. Eu sei que não estou chegando a um ponto de raciocínio claro, mas também sei que isto é passível de entendimento para quem vivencia. No fundo, o que quero dizer é o que digo sempre: eu sei que tudo vai dar errado, mas eu vou lá e faço mesmo assim. Contra a vontade do mundo, contra a minha vontade, contra a tua vontade. Eu faço para arder, para viver, e depois... bom, eu já sei - já sabemos - o que acontecerá depois. Chegará um ponto em que algo lá dentro vai se quebrar, o amor vai morrer, o pequeno coração de cristal vai se espatifar e nós saberemos que nunca mais nada vai ser igual. Mas mesmo sabendo, tentaremos desesperados, doídos, sofrendo, tentativas cheias de emoções e vazias de sentidos, tentaremos até o esgotamento recuperar aquilo que sabemos irrecuperável. Tentaremos simplesmente porque se não tentássemos não seríamos nós mesmos... Mas isso são apenas previsões vazias. Delírios de uma esperança falsa e forjada a sangue inutilmente derramado, forjada a lágrimas desesperançadas. Uma farsa, essa esperança, essa previsão, tudo. Uma grande farsa, que nem mesmo eu que quero acreditar com todas as forças consigo perceber real. Uma ilusão. Um castelo de cartas. Mais uma foto de um momento que nunca acontecerá para o meu álbum. Para a minha vida. Eu nunca acreditei em milagres mesmo, e meus deuses não vão muito com a minha cara. Então eu repito pra mim na noite vazia, como uma tentativa de consolo, como se servisse de alguma coisa, eu repito baixinho "toda tentativa é válida, mesmo que o final seja amargo", e lembro de todos os meus finais amargos, e de todos os finais que não aconteceram, mas que imaginei amargos, e lembro, por fim, que o amargor forte se assemelha a ardência, que significa vida. Então eu quase consigo sorrir. Todos os meus finais foram de vida, mesmo que cada um representasse uma morte para mim. O fato é que eu nunca encontrei alguém que construísse histórias tão bem quanto eu, alguém que encaminhasse sua vida rumo ao desastre com tamanho capricho e perfeição, alguém que se auto-preservasse e se auto-sabotasse tanto que se reduzisse a uma pessoa intocável para o mundo e para si mesma, uma pessoa tão intocável e tão solitária, com toneladas de uma compreensão tão bonita e tão sangrada, uma pessoa que não se deixa amar, que não se permite viver, mesmo sendo pura intensidade. Nunca pensei encontrar uma pessoa assim tão eu, e agora que encontro, olho e me assusto. Me assusto com ela, me assusto comigo, me assusto com a possibilidade de estarmos juntos e me assusto ainda mais com a possibilidade de não estarmos. No fundo, sabemos como tudo acabará. Conhecemos de cor todo o caminho tortuoso. Conhecemos o fim amargo que, mesmo sendo de vida, deixa um gosto ruim na boca. No fundo, nós sabemos que acabaremos sozinhos, intocados, intocáveis, vivendo nossas grandes e maravilhosas mentiras, gritando pro mundo a nossa vida maldita escolhida a dedo, mostrando a todos a nossa superioridade sagrada, não deixando ninguém ver lá dentro, o buraco vazio, oco e escuro, não deixando ninguém ver o nosso coração.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Confissão

Putz, eu sou insano. Te aquieta coração. Isso é aquela história de cruzar dois pombos volteadores de altitude. Os filhotes irão voar muito alto, e ao darem a volta baterão no chão e irão morrer. É ilusão. É mil vezes ilusão e tu sabes disso. Não adianta ficar repetindo sobre hipérboles/intensidades/exageros/compreensões/e-tudo-que-há-de-mais-sagrado-e-bonito. É ilusão. É suicídio. É perigoso demais. Mas o abismo sempre cativa, não há como resistir. Não é pra fazer sentido, é mais como uma auto-advertência, do tipo "tu já sabes o que vai acontecer, então porque tu insistes". Porque eu sei que se houver sofrimento, será o sofrimento mais absurdo que poderá existir; sei que se houver drama, será mais dramático que a pior das novelas mexicana; sei que se houver dor, será a mais excruciante de todas as dores. E eu preciso dessa intensidade/liberdade/visão-de-mundo/presença. Porque, embora eu nem acredite mais nisso, pode have outra coisa também, aquela coisa de olho-no-olho, aquela compreensão sangrada de tudo, aquele saber inconsciente arrasador, pode haver até mesmo, quem sabe, numa hipótese remota, veja bem, isso não é um pedido, é apenas uma divagação hipotética, mas pode haver amor. E amor nessa intensidade sempre é fatal. E por ser fatal dá a única e verdadeira sensação de vida. Como a ardência. A ardência te faz sentir-se vivo. E esse amor deve ser ardido, doído, dramático. Um amor sem limites e com função filosófico-criadora. Um amor que (quase) ninguém vai entender, mas que todos irão saborear. Um amor saboroso. De dar água na boca. Uma vertigem, um turbilhão. Não há como sobreviver a isso. Não há como negar-se às possibilidades inerentes à intensidade compartilhada. Não há como explicar. Não há como explicar, só há como sentir, mas este sentimento é para poucos. Para explicitar, feche os olhos e imagine um vulcão entrando em erupção... agora imagine um maremoto... agora um furacão... agora uma bomba atômica... No fundo, são apenas representações do caos. Mas o caos original está no amor. No amor original, fatal. O que eu quero dizer com tudo isso é que eu não seria eu mesmo se não me jogasse de cabeça. Como eu disse, eu já sei o resultado e não me importo nem um pouco. O importante é o caos que vai explodir até chegar lá.