terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Merda-movediça

Foi num dia qualquer da semana passada ou retrasada, eu acho. Não consigo me lembrar se foi durante a semana ou no final de semana, eu tenho andado sempre muito bêbado ultimamente. Ela chegou em minha casa dizendo que tinha duas notícia pra mim, uma boa e outra ruim. Eu não queria ouvir nada, só queria comê-la, mas quando vi o sangue que escorria por entre suas pernas, manchando a calça clara e quadriculada, sentei-me, abri outra cerveja, acendi um cigarro e disse em tom contrariado:
– Fala.

A notícia boa era que eu não seria pai, e a má era que se eu quisesse comê-la teria que fazer uma baita sujeira. Ela estava louca pra me dar, mas conversando comigo percebeu – e não falou nada – que tinha abortado – e eu também percebi – e não falei nada – e ela teve uma crise de consciência pesada e começou a chorar.
Eu tive vontade de espancá-la, mas ela gostava de apanhar.

Bate que eu gosto... – Ela sussurrava no meu ouvido, e eu virava ela de bruços e batia com força naquela bunda grande e mole – embora ela ainda fosse muito gostosinha.

Deitamos. Eu comecei a masturbá-la com nojo, mas com muito tesão pra conseguir parar. Poderia ter pedido um boquete, mas ela não sabia fazer. Era agoniante. Ela mordia, passava os dentes, beliscava e não fazia nada que prestasse. Há certos boquetes que enternecem o coração da gente. O dela dava vontade de dar-lhe um belo chute no traseiro.

Quando tirei minha mão d’entre suas pernas, ela estava toda manchada de vermelho e fedia. Mas não era fedor de porra: era fedor de sangue velho.

A tentativa de foda não rendeu. Deitamos de novo. Ela chorava e dizia que não merecia estar viva e eu torcia para que ela se atirasse pela janela e agradecia ao meu anjo da guarda por ter decapitado meu filho com sua espada flamejante, enquanto passava a mão na cabeça dela e dizia:
– Não fica assim...

Eu a detestava profundamente. As suas certezas, as suas verdades absolutas, o seu amor, o seu “para sempre”. Ela era uma adolescente problemática e eu não tinha mais paciência para crianças. Mas foi quando ela disse:
– Me come. – Com um olhar que significava:
“Vamos ter um filho?” Foi que eu tive vontade de jogá-la nua porta afora e trancá-la do lado de fora da minha vida para nunca mais abrir.

Não adianta. Eu já tentei. Eu não tenho o dom. Eu não tenho aquela coisa melosa e bonitinha que se precisa ter para que os relacionamentos funcionem.

Eu gosto de uma boa foda, de um cigarro e de uma cerveja. O resto é um monte de merda. Um monte de merda em que estou atolado, e que daqui a pouco vai cobrir a minha cabeça e me matar sufocado. Como areia-movediça. Estou preso em um monte de merda-movediça.

sobre a impulsividade

A impulsividade, no limite, é uma forma de lógica, pois ser impulsivo não é nada além de seguir suas próprias vontades, e não há nada mais lógico do que isso.

sábado, 24 de janeiro de 2009

no fear

Preciso me livrar dos meus medos. Entregar-me de corpo e alma à esta coisa vertiginosa que é escrever.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Crise

Acho que pela primeira vez em muito tempo eu estou enfrentando uma crise de verdade, que não foi forjada e tem força própria.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Epifania-desabafo

Tive uma epifania brutal hoje, da qual eu não estou conseguindo me recuperar. Chorei horrores, como há séculos não conseguia chorar.

Sabe aqueles desenhos da Disney, onde os personagens param em frente a uma bifurcação, onde um dos caminhos é plano, ensolarado e florido; e o outro é tortuoso, escuro, com raios & trovões? Pois é, hoje percebi que eu escolhi o caminho tortuoso, sei lá eu porquê, escolhas sem escolhas, e eu queria tanto estar no outro caminho, tanto...

Bem, vou contar o que desencadeou a minha epifania.

Tudo aconteceu hoje quando, meio sem querer, por descuido, desatenção ou tédio, sei lá, eu acabei parando no orkut de um velho amigo, o George – que eu sempre conheci como Gê. O Gê foi o meu grande amigo de infância, aliás o meu único amigo de verdade até a sexta série – ou doze anos, tanto faz –, e eu sou muito grato à ele por isso até hoje. O Gê sempre foi o meu grande exemplo de tudo o que eu sempre achei que uma pessoa deveria ser para que fosse uma boa pessoa. Educado, gentil, inteligente culto, sempre disposto a ajudar. Acho que ele foi uma ótima influência pra mim – eu seria bem pior hoje se não tivesse conhecido o Gê naquela época. Mas daí eu entrei hoje no orkut do Gê e fiquei tri feliz, porque ele tá muito bem, tá estudando, viajando,fazendo amigos, levando uma boa vida – como sempre esperei que o Gê fosse levar, ele merece. Me bateu até uma nostalgia, saudades de conversar com o Gê, assistir anime, jogar Playstation e futebol no pátio do prédio. O Gê é um cara de muita sorte, ele merece tudo de bom.

Mas daí eu me toquei de uma coisa. O Gê seguiu pelo caminho bonito e ensolarado, méritos dele – é claro. Mas foi aí que eu me dei conta de que eu segui pelo outro caminho, e o contraste foi muito grande – assim como o choque.

O Gê tem a mesma idade que eu, 21, eu faço aniversário em agosto e ele em outubro. Ambos nos formamos no terceiro ano em 2004. Ambos fizemos vestibular na UFRGS em janeiro de 2005, eu pra Relações Internacionais e o Gê pra medicina, e ambos não passamos. Coisa normal, colégios de interior, essas coisas. Mas daí o que aconteceu? O Gê fez um ano de cursinho e passou em medicina na UFRGS – eu sempre soube que ele ia conseguir, o Gê é o cara – e eu... não fiz nada. Pois é, aí que entra a minha epifania. Pois foi a partir do momento pós-vestibular-da-UFRGS que tudo se encaminhou ao desastre e me trouxe ao momento exato em que me encontro agora. Pela lógica, eu deveria ter feito – também – um ano de cursinho e passado em Relações Internacionais na UFRGS. E o que aconteceu ao invés disso? Uma sucessão de erros grotescos na minha vida. Um semestre de Administração na Unisc, morando numa pensão desprezível em Santa Cruz. Um semestre de Comércio Exterior na Univates, trazido à força pra Lajeado – minhas mudanças sempre foram à força, todas elas –, com direito a trancar cadeiras no meio do semestre & à crises suicidas, cortes nos pulsos, caixas de sedativos com cerveja, depressão profunda, psicólogos, psiquiatras, terapeutas, antidepressivos e todo esse caos. Depois o primeiro semestre de 2006 – estão acompanhando? – de total marasmos, sem nada nem ninguém, apenas Legião Urbana e pilhas de livros do Edgar Allan Poe. E depois jornalismo, Univates, Lajeado, cinco semestres, muitos surtos, muita literatura, eu me afirmando como escritor, uma fuga para Buenos Aires, muita bebida e eu assumindo a minha total decadência.

Vocês acompanharam o quadro, não é? (Desastroso.) Então a pergunta da epifania: Por que eu não fiz um ano de cursinho e fui cursar Relações Internacionais na UFRGS? Sabe, eu teria sido feliz sendo um estudante de Relações Internacionais da UFRGS. Sabe, naquele tempo, do ensino médio, terceiro ano, formatura, cursinho, essas coisas todas, naquele tempo eu queria ser diplomata. Por isso Relações Internacionais. Acho que se eu realmente cursasse, além de ser feliz, depois de alguns anos eu realmente conseguiria entrar na escola do Instituto Rio Branco. Eu sempre fui meio inteligentezinho, e com umas forças de vontade aqui e ali, as coisas dariam certo – não é idealização, eu sei que dariam, uma espécie de realidade alternativa, universo paralelo. E eu tenho certeza que eu também seria muito feliz na minha vida de diplomata. Sonhos adolescentes com tudo para se realizarem. Mas então por que eu não fiz a droga do cursinho depois do terceiro ano?!

(Observação: Ok, agora eu vou fazer uma coisa que não se faz, mas que se tornou inevitável diante da situação: eu vou culpar alguém. E não serei eu mesmo. Se tens problemas com isso, pare de ler agora.)

A culpa é da minha mãe. Veja bem, eu não costumo culpar a minha mãe. Eu gosto muito da minha mãe, e eu sei que ela já fez vários sacrifícios por mim, mas nesse caso, a culpa é – quase – inteiramente dela. E a culpa dela se dá em um fato empírico, inegável e que independe de interpretações: ela não quis pagar o cursinho. E o ato de não pagar o cursinho me jogou com a cara no chão do caminho tortuoso e fechou as portas do caminho ensolarado pra mim. Aquilo foi o começo de todo o caos já citado acima, que foi a minha vida nos últimos anos. Aquilo originou toda a depressão, todos os surtos psicóticos, toda a descrença e, por fim, me jogou de corpo & alma no mundo dos livros – a única fuga que me restou.

Se hoje eu sou um escritor decadente, bêbado, que não acredita no amor, nem nas pessoas, nem em nada, que mora sozinho com um gato e decorações estranhas, que é anti-social e não gosta de quase nada, a culpa é, invariavelmente, da minha mãe.

Ok, já desabafei.

Eu ainda estou me recuperando de todas essas percepções repentinas e não tenho mais nada a dizer por enquanto.



P.S.: Desculpem pelos erros de português, não tenho cabeça pra revisar isso agora.

P.S.II: Gê, muita sorte pra ti, porque tu merece. Tu ainda vai ser um grande cara, mais do que agora, eu sei disso. Abraço.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

...

Bêbado.
Sozinho.
Sempre.
...
O resto é ilusão.
Sempre.

♫ Jolene - White Stripes

domingo, 18 de janeiro de 2009

Noite

Dois filetes. São sempre dois filetes. Fumaça saindo em par da ponta do incenso. E a solidão. Sem par algum. Três plantas quase murchas, semi-mortas, e um gato jovem demais, agitado demais, vivo demais. Tudo isso tentando ocupar espaço no apartamento vazio. No coração vazio. Ilusões. Esperanças forjadas. Sabe, tem aquela menina tão bonita e tão inteligente quê. Três dias de chuva, ininterrupta. Frio em pleno verão. Calça de abrigo, blusa de moletom. Cama vazia, a não ser pelo gato, que se aninha em meus cabelos compridos, sobre o travesseiro. Frio. Edredons com o meu cheiro e o de mais ninguém. Um dragão de bronze, uma carranca argentina, uma estatueta de São Jorge, peças de artesanato em ferro e taquara. Incensos. Um prato de sal grosso, marinho, embaixo da cama e um gato. Apartamento vazio cheio de fantasmas. Eu durmo com um terço enrolado no pulso esquerdo, sabia? E aperto bem forte o crucifixo dentro da mão. Cruz: instrumento de tortura. O ank que eu carrego pendurado no pescoço eu tiro pra dormir. Dormir: nunca à noite. Fantasmas, sabe. Assombrado por mim mesmo. Pantufas grossas. Pretas, peludas. Imitando uma pantera. Olhos verdes, a pantufa, a pantera. Um tango ao fundo. Depois o silêncio. O incenso quase no fim. A noite se rendendo. O cansaço. Mais uma noite. Estômago doído, olhos pesados. Mais uma noite.

Escultura

Nós somos como esculturas. No começo da vida somos como um bloco maciço de pedra bruta. Conforme a vida vai nos esculpindo, vamos ficando mais belos e sofisticados, ou horríveis e monstruosos, ou ambos, por que não? Mas o importante é que essa escultura vai sendo feita cada vez mais para o interior do grande bloco de pedra cinza que somos nós, cada vez mais pra dentro, tirando lascas e arrancando faíscas, eliminando tudo aquilo que é desnecessário, supérfluo. Ao final, a escultura pronta deve conter apenas o nosso mais puro interior, por mais belo ou monstruoso que seja.

tio Milan III

"Aquele que quer deixar o lugar em que vive não está feliz."

tio Milan II

"O amor físico lhes dava prazer, mas nenhuma consolação."

tio Milan I

"Tomas pensava: deitar com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não somente diferentes mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher)."

viver

É aquela coisa de pegar a vida com as mãos e estraçalhar com os dentes.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

À F.H.A. (uma pessoa de um passado distante e empoeirado, dos tempos em que eu ainda não era eu)

Eu costumo dizer que nunca amei ninguém, mas a pessoa que cheguei mais perto de amar foste tu. Mas é claro, eu era - e continuo sendo - inábil para o amor. Eu nunca soube como amar e, talvez por isso, te feri. Perdoa. Tudo o que eu queria era te amar.

À beira do mar aberto

Te conto apenas o que quero que ouças, enquanto dissimulo todo o resto. Te mostro apenas o eu que quero que conheças, enquanto dissimulo o eu mais profundo e verdadeiro.

domingo, 4 de janeiro de 2009

À melhor

Minha semi-deusa decaída
tanto me atormentas em busca de tua divindade perdida

minha linda
cara-metade
alma gêmea
completude

menina de olhos azuis & alma rubra
minha eterna ilusão
minha liberdade.

Medo

Medo? O que é o medo?, já se perguntava Dostoiévski. Medo de ser, sentir, viver. Qual a função essencial do medo? Pra que ele serve? A que ele nos impulsiona? Ou será apenas um empecilho, puro e simples? Eu sempre acreditei que o medo nos levasse a algo maior. Afinal, além de um grande medo sempre se esconde uma grande conquista, mesmo que ela só faça sentido para o nosso eu interior. Pra mim o medo pode ser uma grande fonte de energia. Mais ou menos como a raiva. Adrenalina. Vontade de ir além. O medo como uma parede de tijolos que se quebra a marretadas, até as mão sangrarem. Mesmo que do outro lado não tenha nada, o importante é poder chegar ao outro lado. Acho que nenhuma das minhas conquistas até hoje teria tido o mesmo sabor sem o medo. As marretadas. O sangue. A superação. A coragem para ir além - porque a coragem verdadeira só existe quando se tem medo, muito medo. Parece que as coisas perdem um pouco o sentido, perdem a graça, quando deixamos de ter medo. Pensando bem, acho que eu sempre segui o caminho dos meus maiores medos. Sempre aquela busca incessante pelos sentimentos mais intensos - por piores que fossem. Na verdade, se é que existe alguma verdade, o medo não tem nada de mal, o medo é uma força propulsora essencial à vida. Sim, eu tenho medo. E eu sei que enquanto houver alguma coisa a temer eu, pelo menos, estarei vivo.

Yann Tiersen - La Dispute

sábado, 3 de janeiro de 2009

diálogo

- Por que a gente não deu certo?
- Porque eu sou egocêntrico & egoísta.
- Tu nunca amou ninguém?
- Não. Ninguém além de mim mesmo.
- Por quê?
- Porque eu tenho medo. Medo de depositar todo o meu amor em outra pessoa. É uma aposta muito arriscada. Eu acho que ela não aguentaria o peso.
- Mas tu é feliz assim?
- Não. Eu sou triste.
- Então por que tu não muda?
- Não consigo. Não tenho forças.
- Que pena...
- É...

marés

- Eu sou inconstante como as marés.
- Mas as marés são constantes.
- Tu é que pensa.

máxima para começar bem o ano

Em uma relação entre duas pessoas, a que ama menos é sempre a dominante.