quarta-feira, 30 de abril de 2008

poema do esquecimento

estou enjoado
enojado
de tudo
de todos
da vida
das margaridas
do desespero
da confusão
tudo o que eu queria
era o que não há
o que não sou
o que não são para mim
vivo de exageros
de excessos
de hipérboles
pois se não fosse assim
não viveria
sobreviveria
e não há nada mais deprimente
mais humilhante
do que sobreviver
e eu me irrito
e me enojo
porque todos à minha volta
sobrevivem
enquanto eu
aqui
sozinho
tento
alguma coisa
mais
hiperbólica
qualquer coisa quê
mas não me entendem
me incompreendem
e me julgam
com toda a falsa força
de suas verdades
a mim
que nunca acreditei em verdades
nem em mentiras
que nunca acreditei em nada
julgam a mim
que não posso ser julgado
pois não compartilho de seu mundo
de sua realidade
de suas verdades
de suas mentiras
então eu penso
já que não o fazem os outros
mas pensar é perigoso
então eu sinto
que é mais perigoso ainda
e quando eu tento explicar
vem o julgamento velado
silencioso
com um sorriso de cumplicidade
uma leve mudança de assunto
será que chove?
pois eu
que tanto sei
ou nada sei
eu
que tanto sou
não caibo mais no mundo
pois este mundo
das pessoas
apequenou-se demais
e expulsou-me
para algum lugar qualquer
um lugar onde
não há pessoas
não há mentiras nem verdades
só há o não-julgamento
e é aí que está:
de que me adianta ser quem eu sou
este apocalipse em forma de homem
se não há os ignorantes para julgarem-me?
os incultos para apedrejarem-me?
e é nessa solidão que eu
deixo de existir
pois deixo de ser ouvido
e quem não é ouvido
não é lembrado
nem julgado
nem apedrejado
é esquecido
e convenhamos
não há nada mais deprimente
decadente
do que o esquecimento.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Sobre a hipocrisia vigente e o meu desejo pela arte

Bem, estava eu naquela eterna dúvida: linkar ou não linkar, eis a questão?

Eu estava vagando, fascinado, pelas fotos de nu artístico do site NUDE, quando passou-me por esta cabeça inconseqüente o desejo de linkar este belíssimo site ao meu blog. Foi então que antecipei a situação óbvia: as críticas. Não que eu me importe muito com elas, mas eu já ando meio de saco cheio de ser criticado por quem não tem capacidade intelectual para entender o que eu estou querendo dizer. Tô cansado de ser incompreendido.

Então vamos a um raciocínio básico: fotografia é uma forma de arte. Uma das minhas formas preferidas, aliás. Mulheres são obras de arte por natureza. Pelo menos algumas. Então, eu, como apreciador da arte que sou, não vejo mal nenhum, muito pelo contrário, acho fascinante, apreciar fotos de nu artístico. Adoro ficar analisando a composição das imagens: cenário, figurino, iluminação, profundidade de campo e todas essas coisas outras que qualquer pessoa que entenda um mínimo de fotografia sabe. E também adoro, admito, pois não sou hipócrita, admirar a beleza dos corpos femininos.

Em suma: pense duas vezes antes de me criticar, pois de críticas estou farto, e meu próximo post pode ser dedicado a você, leitor desprovido de capacidade intelectual/simbólica/artística.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Margaridas

pegou o cavalo,
colocou nas costas,
e atravessou o campo
com cuidado para não pisar
nas margaridas.



"vimos uma margarida e nem sequer era primavera e disseste que margarida era amarelo e branco e eu disse que branco era paz e disseste que amarelo era desespero e dissemos quase juntos que margarida era então desespero cercado de paz por todos os lados"
(Caio F.)

"Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira."
(Milan Kundera)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Por Amor

Acorda ainda atordoado. Observa por uma fresta da janela o dia cinza lá fora. Pressente a chuva fria. Liga o abajur. A luz fraca. Achava que era a leitura de muitos livros sob aquela luz fraca que estava deixando-o cego. Passa os olhos pelo quarto. Desorganização total. Observa uma traça correndo pelo chão. Vê uma mosca esvoaçante & uma barata num canto. Pequenos insetos, sujos & nojentos. Pensa que o Apocalipse está nos detalhes. Nos ácaros, nas bactérias.

Faz um corte longo e profundo na palma da mão. O sangue escorre abundantemente sobre as folhas manchadas de nanquim, enquanto ele pronuncia conjuros mágicos. O dia cinza escurece. Um eclipse sem sol nem lua nem astro nenhum. Um eclipse interno que se reflete nas nuvens plúmbeas. Espalha ervas sobre o sangue. O cheiro forte de coisa verde cortada/esmagada/estraçalhada.

Não precisa fazer muito sentido, pensou, só precisa acontecer. E acontecia. Acontecia tanta coisa em sua cabeça/coração/alma. Enquanto ao seu redor apenas as nuvens moviam-se. As nuvens & os insetos. Os homens assemelham-se muito mais aos insetos do que às nuvens, observou.

Nuvens, insetos, homens. Pequenos monstros internos. Percepções distorcidas, usando músicas & livros como drogas, alucinando-se, vendo o que não existe & alienando-se ao real.

O erro está basicamente em tentar ser humano. Ao livrar-se da “humanidade” inerente ao ser, abre-se à inúmeras possibilidades.

O sangue ainda pingava sobre as ervas & manchas de nanquim. O cheiro forte & verde. A fumaça do incenso. A penumbra do dia – quase noite – cinza. Brincava de controlar o seu destino. A traça tentou passar por sobre as folhas espalhadas ao chão. Ficou presa no sangue. Acabou por afogar-se. Ainda faltavam a mosca & a barata. Pegou a mosca no ar. Fechou-a dentro de sua mão ensangüentada. Sentiu suas asas batendo dentro de sua ferida aberta. Apertou mais. Esmagou-a. Deixou-a cair ao lado da traça. Ambas mortas, mergulhadas no sangue. No seu sangue. A barata passou por baixo da porta. Fugiu. Sempre há alguém que foge.

Todas as histórias de amor já foram escritas. Está entorpecido. Acho que o corte foi fundo demais, esboça pensar, mas o pensamento logo se dissolve, como todos, como tudo. Nada tem contornos fixos. Tudo é embaçado e logo se dissolve.

As lágrimas corriam pelo seu rosto, mas ele não sentia dor. As lágrimas eram uma espécie de redenção. Elas caíam sobre as folhas & misturavam-se ao sangue & às ervas & aos insetos mortos. Lágrimas & sangue como redenção. Estava tonto. Suas mãos & pés formigavam. Sentia um torpor & sua vista embaçava-se.

Pegou enfim a foice & cravou-a no peito. Rasgou o peito & a barriga com um puxão forte. Retirou os órgãos um a um & os dispôs em cima das folhas, do sangue & das ervas. Deixou o coração por último. Sua visão já escurecia-se. Pôs o coração bem no centro. & sorriu. Redenção! foi o último pensamento que passou por sua mente. & ele tombou ao lado das folhas, das ervas & do seu coração ainda pulsante.

& ficou feliz.

A barata entrou no quarto & alojou-se confortavelmente na sua caixa torácica, onde vive até hoje.

Quanto às folhas, ao sangue, às ervas & ao coração, eles cumpriram a sua função. As folhas foram escritas, o sangue foi derramado, as ervas foram colhidas & o coração bateu, o coração fez viver & fez morrer.

Não houve ninguém para perguntar o porquê, pois ele nunca foi encontrado, mas se houvesse, ele responderia da sua paz celestial: Foi por amor. Pois essa é a única e essencial função do amor: O amor mata.

domingo, 13 de abril de 2008

Una noche de Caballero Solitário (Inspirado no portunhol selvagem de Xico Sá, Clarah Averbuck & Cia.)

Estava solito en la casa. Tomava unas doses de vodka mescladas a unas xícaras de café. Noche de msn vazio. Sábado. Chama las chicas al teléfono, pero no hay respuesta convincente. Decide salir. Solito pelas calles. Un cigarro. No leva el mp4, pois no quieres la música, quieres el barulho natural de la noche. Una cerveza. Los carros passando alucinados. Personas y más personas, tantas personas pelas calles en la noche! Busca las calles laterales, semi-desiertas. No le gusta las avenidas movimentadas. Eres un Caballero Solitário, y és en la solitude que se encuentra. Otra cerveza. Pero la vida de un Caballero Solitário o leva a lugares que nem mesmo elle imagina. Seguiu pelas calles escuras e semi-desiertas. Parou en frente a un jardín iluminado por luzes blancas. Que bonito! pensou. Queria sentar en los bancos del jardín, pero continuou a vagar pelas calles negras, seguindo los carros velozes. Acabou en una fiesta. Un Caballero Solitário en medio de la multidão. Las luzes, la fumaça, la vertígen. Yo no sé más lo que bebo, pero continuo bebendo. Tantas personas en la fiesta. Y ninguna se fixava en su miente. Tampoco en su corazón. Lo Caballero Solitário passou más una noche solito en medio de la multidão. Al clarear de lo dia, percorre las calles desiertas de volta para casa, solito, siempre. La vida de un Caballero Solitário no muda jamás. Lo que muda san los detalhes. Y todo mondo sabe que los detalhes no tienen importancia ninguna.

!

foda-se!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

reconhecimento, saca?

diálogos que não deveriam existir

porque eu também já tô de saco cheio dessa história de "tu não faz nada".

obrigado pela compreensão.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Reflexões da Madrugada

"Há muito tempo atrás foi uma questão de escolha. Hoje, se transformou em um aprendizado diário de aceitação e convivência com a mesma pessoa todos os dias."

Não há fuga possível. As escolhas foram feitas há muito tempo. Hoje, é basicamente uma questão de continuar (ou não) seguindo estas "escolhas sem escolha" de tempos atrás.

É tudo uma questão de intensidade. E intensidade dói. É o que nos diferencia e o que nos torna nós mesmos: a forma de sentir.

As fugas não surtem mais efeitos. Já são conhecidas. Então, ou fugimos para mais longe (outra galáxia, talvez), ou encaramos a realidade. E às vezes a realidade é feia, suja e má. É fria e crua.

Outras vezes não.

Teoricamente nós é que criamos a nossa realidade. O ser humano é um ser simbólico e muitas outras coisas que eu não tô afim de explicar.

Não sei onde eu pretendia chegar com isso. É só mais um passatempo da madrugada.

Eu já disse tanta coisa sem sentido. E mesmo quando o que eu disse fez todo o sentido do mundo, não fez diferença nenhuma. E depois de 500.000 frases inúteis eu chego à conclusão de que o melhor é silenciar. (Ah, se eu conseguisse...)

O que me leva à questão basilar: Pra que serve tudo isto? Não estou me referindo ao viver, o viver é essencial (desde que seja intenso). Me refiro ao escrever. Será que existe a pretensão
de fazer diferença na vida de outras pessoas? Ou é apenas auto-exorcismo? Vaidade ou necessidade?

Provavelmente ambas...

"Não busco compreensão, e sim o reconhecimento"

Na verdade, é a simples falta de sono, em uma madrugada nem fria nem quente, que gera este "belíssimo" texto de "reflexões profundas".

Ainda há muita coisa a ser dita. Só estou esperando alguém com capacidade para compreendê-las. Tudo ao seu tempo.

Mas, diante de tudo o que acontece, eu realmente acho/sinto/espero quê.

domingo, 6 de abril de 2008

Almas

Auto-aceitação. Aceitação de verdades absolutas maiores do que qualquer coisa. São certezas muito metafísicas e filosóficas para poderem ser explicadas. Na nossa vida sempre encontramos pessoas que nos são essenciais à alma. Pessoas que já viveram várias vidas conosco. Pessoas que possuem uma compreensão, acerca do nosso próprio ser, que nos falta.

O reconhecimento. A mesma forma de sentir (e isso é imprescindível). A mesma intensidade. O mesmo inconformismo. A mesma forma de ver o mundo. E de não aceitar. Será que sempre fomos assim? Provavelmente... Sim, sim.

A cada encontro destes a vida pára. Me dou conta de tanta coisa. Começo a sentir a compreensão daqueles sentimentos que sempre me foram incompreensíveis. Vejo o mesmo caminho sendo trilhado por nós. Sigo as tuas migalhas de pão. Reconheço os círculos. Reconheço as situações repetidas, os sentimentos, as evoluções. "As escolhas sem escolha."

Tudo se encaminha para um ponto-chave. E depois deste, outros virão. Encruzilhadas da vida. Círculos & Ilusões. Mas uma certeza: eu te reconheço em mim, assim como tu me reconhece em ti. E a partir desta certeza nunca mais estaremos sozinhos, e escuridão nenhuma será insuperável.

Continuamos vivenciando os círculos. Muita coisa já adquirimos, muita coisa já perdemos pelo caminho. Mas o importante foi nos encontrarmos.

Não sei por quê, não faz sentido, mas pressinto: a partir de agora tudo vai ser diferente.

"Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra."

Seguindo a tendência


You are The Fool


The Fool is the card of infinite possibilities. The bag on the staff indicates that he has all he need to do or be anything he wants, he has only to stop and unpack. He is on his way to a brand new beginning. But the card carries a little bark of warning as well. Stop daydreaming and fantasising and watch your step, lest you fall and end up looking the fool.


What Tarot Card are You?
Take the Test to Find Out.

sábado, 5 de abril de 2008

.

que merda esta vida.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Por favor, chame as fadas e toque o piano

Qual é a sensação? Vazio. Um grande vazio. Todas estas vozes e todas estas pessoas borbulhando à sua volta e ele ali: parado no meio daquilo tudo, vazio. Não sabe o que fazer, não sabe o que pensar, não sabe o que sentir. Não quer fazer pensar sentir. Permanece ali parado, vazio. Procura alguma identificação com alguém, com alguma coisa. Não encontra. Tem vontade de tentar. Não é uma vontade intrínseca, mas quase como algo que lhe é imposto. Como se tivesse o dever de tentar. Não tentava. Não era por mal que não tentava, não era por simples vontade de contrariar as pessoas - embora achasse isso muito divertido. Era simplesmente pelo fato de não ver sentido naquela tentativa. Tentar pra quê? Por quê? Pra quem? Por fim, não tenta. Sente-se alienado pela incompreensão do mundo em relação à sua pessoa. Queria explicar para o mundo: "olha, eu sou assim, e não há nenhum mal nisso". Mas não tinha forças. Talvez até tivesse, mas não tinha vontade. Tinha preguiça de se fazer compreender. Afinal, o mundo exterior à sua pessoa não tinha nenhuma importância. Por que deveria ter? Todos os caminhos são interiores e não exteriores. O mundo à sua volta era apenas mera ilusão de sua consciência, então não via motivos para se procupar com ele. Aquele turbilhão à sua volta não fazia sentido nenhum. Levantou e saiu. Queria encontrar alguma lugar calmo e tranquilo, mas parecia que o mundo o perseguia. Queria fugir deste mundo. Era perseguido, encurralado, forçado a viver uma vida que não era a sua. Fugiu fugiu fugiu. Quando, já exausto, parou e olhou à sua volta, viu o mesmo mundo e a mesma vida. Turbilhão. Fervilhava à sua volta. E ele, sem perceber, fervilhava junto. Tentando fugir ele fervilhava e fazia o turbilhão girar e girar e girar vertiginosamente. Já estava tonto e enjoado. Queria perder-se alguns minutos em um conto de fadas, mas havia já muito tempo que ele havia crescido e que as fadas o haviam habandonado. Fadas não viviam em meio à turbilhões. Nem ele. Ele existia. Estava ali para os outros verem. Mas não vivia. Não de verdade. Afinal, viver sem fadas esvoaçantes e um piano ao fundo, não é viver.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Comunicação: um problema insolúvel

A comunicação é essencialmente um processo simbólico de significação, aonde o ser humano se relaciona com as coisas e, a partir das percepções adquiridas nesta relação, se auto-constitui e constitui o mundo ao seu redor.

Nas sociedades pré-modernas o processo comunicacional apresentava-se no seu estágio “mítico”, estágio este que permanece até a criação da imprensa de Gutenberg. Neste estágio a relação do homem com o mundo dava-se a partir do passado. Isto devia-se ao fato de que a comunicação oral predominava, portanto, os conceitos através dos quais as pessoas se relacionavam com o mundo eram conceitos que lhes foram transmitidos por seus pais, avós, etc. Deste modo, os conceitos eram fixados em determinado momento histórico e permaneciam os mesmos por várias gerações, já que não havia a possibilidade de questioná-los. Então o passado – que obviamente permanecia imutável – definia a relação dos homens com a sua realidade. Desta forma, não era possível uma problematização do sujeito e das coisas que o cercavam.

Com a criação da imprensa de Gutenberg a relação do homem com o seu mundo deixou de ser regida pelo passado e passou a ser um fenômeno orientado pela razão do presente. A partir desta mudança tudo se tornou problematizável. O homem pôde, neste momento, discutir e relativizar o mundo que o cercava. A criação da imprensa é apenas um dos fatores que contribuem para a instauração da modernidade como modelo teórico vigente. A comunicação, no contexto moderno, assume máxima importância. O sujeito moderno é crítico, sabedor de si a partir das coisas do mundo que o cerca, sujeito este que se relaciona com a sua realidade e, a partir desta relação forma esta mesma realidade e forma a si mesmo. A comunicação é o processo que permeia toda esta relação.

Podemos afirmar que a modernidade é o “auge” da comunicação como processo simbólico, é o momento histórico aonde a comunicação se apresenta no seu estágio “crítico”. Nas sociedades pré-modernas a relação do homem com a sua realidade se dava a partir de conceitos pré-determinados e imutáveis. Na modernidade esta relação passa a ser simbolicamente problematizável. Este é o único momento histórico em que isto de fato acontece. Já na pós-modernidade, a comunicação passa a, de certa forma, “perder” o seu aspecto simbólico, a sua capacidade de problematizar o sujeito e o mundo a sua volta.

A sociedade pós-moderna suprime a sensação de distância. Neste contexto a preocupação básica não envolve o processo simbólico da comunicação, mas sim o simples fluxo de informação. Desta forma as “coisas” são consideradas meros dados a serem transmitidos, ou seja, estas “coisas” não formam o sujeito e não são formadas por ele. Há um certo distanciamento do sujeito em relação às “coisas”. Pode-se inclusive fazer um comparativo com o estágio mítico da comunicação, aonde o que fora estabelecido no passado era considerado verdade absoluta e imutável, portanto, não sujeita à problematizações. Atualmente os dados – informação – também não se sujeitam ao aspecto simbólico da comunicação, pois estes dados também são considerados, em certo nível, como a “verdade absoluta das coisas”.

Na sociedade pós-moderna, permeada por uma velocidade que poderia ser classificada como caótica, não há tempo para o sujeito se deparar com as “coisas do mundo da vida” e problematizar acerca delas. Atualmente o ser humano vive muito mais ligado ao virtual do que ao real. Considerando que o virtual depende de um fluxo de informações em velocidade vertiginosa, começamos a perceber como o aspecto crítico e simbólico da comunicação foi sendo deixado de lado.

A “realidade virtual” nos deu a sensação de supressão das distâncias. Hoje o “mundo real” está tão intrinsecamente ligado ao “mundo virtual”, que é impossível pensá-los separados, não esquecendo que o virtual é uma “atualização” do real – um deslocamento. O virtual é um produto do nosso imaginário. O sujeito pós-moderno cria o seu mundo virtual de acordo com os seus desejos e anseios. Ele busca concretizar nesta “atualização da realidade” tudo o que não conseguiu alcançar no “mundo da vida”. Só que, por vezes, este sujeito penetra tão profundamente nesta “realidade virtual”, que deixa de lado a sua própria realidade. É então que a comunicação deste sujeito passa a dar-se quase que exclusivamente no “mundo virtual”, em detrimento do “real”. Mas se cada sujeito “constrói” o seu “mundo virtual” com base no seu próprio imaginário, temos que admitir que nenhuma comunicação que se dá no âmbito virtual pode, de fato, ser considerada “verdadeira”, pois quem habita neste âmbito são as “atualizações” dos sujeitos, e não eles próprios.

O sujeito conectado no “mundo virtual” contribui para o fluxo de informações em hyper-velocidade, o que gera outro problema comunicacional: grandes quantidades de informação sendo repassada a grandes velocidades impossibilitam qualquer tentativa de reflexão teórica acerca do conteúdo destas informações, portanto impede o aspecto simbólico da comunicação. Desta forma, pode-se deduzir que não há qualquer possibilidade de comunicação no espaço virtual. Isto se torna ainda mais evidente ao percebermos que o mundo virtual é baseado em um código: o código digital. A digitalização das coisas é apenas uma representação da realidade (ao contrário das codificações analógicas, anteriormente usadas, e que eram uma extensão da realidade), e não a realidade em si.

Podemos dizer que o “mundo virtual”, que proporciona um intenso fluxo de informações que vulgarmente é chamado de “comunicação”, sem dúvidas foi um grande avanço em termos de globalização, e poderia até mesmo ser considerado, de certa forma, uma “adequação” das idéias de Norbert Wiener. Wiener idealizou uma “sociedade da informação”, onde as redes e sistemas de comunicações resolveriam todos os problemas relacionados à questão comunicacional. No entanto, estas redes e sistemas foram gradualmente se tornando mais importantes do que o teor do que era comunicado, ou seja, o conteúdo simbólico das comunicações (que neste contexto já se transforma em mero fluxo de informação) é, de certa forma, “suprimido” pela própria técnica das redes e sistemas de comunicações. A velocidade do fluxo de informações aumenta vertiginosamente, fazendo com que a nossa relação com a realidade – virtual e não-virtual – também se torne mais veloz e, em conseqüência, menos crítica.

Então, ficam questões a serem respondidas: Será a comunicação realmente um problema insolúvel? O processo simbólico caminha para a sua extinção ou já terá sido extinto? A realidade virtual tornar-se-á a nossa única realidade? De que forma uma “atualização”, baseada no imaginário de um sujeito que não é crítico, que lida apenas com representações da realidade, em nível de mera informação – dado – conseguirá fazer parte de um verdadeiro processo comunicacional?

Prefiro terminar o texto com estas perguntas, pois se as responder corro o risco de ser chamado de “apocalíptico” ou qualquer coisa do gênero.