quinta-feira, 10 de julho de 2008

Beatles

Fodemos ouvindo Beatles,
depois ela foi embora,
deixando suas balas de coca
espalhadas pela casa
e o cheiro do seu gozo
entre minhas pernas.

Um poço com margaridas

Um abismo fundo. Um poço. Todos que estão em depressão falam de um poço. Que diabos há na maldita imagem de um poço? Um poço escuro e sombrio, onde você não pode fugir dos seus fantasmas: ou exorciza-os ou morre. E um homem que não pode fugir já está morto. Por que a depressão não nos suscita a imagem de um campo florido? Os campos floridos do Kurosawa eram tão melancólicos quanto o mais escuro dos poços. E também não há para onde fugir. As flores bloqueiam os caminhos por todos os lados e te isolam no teu lindo e desesperador infinito particular. Já imaginou se fossem margaridas? Com suas pétalas brancas de paz e seus miolos amarelos de desespero, é uma imagem tão linda, um campo de margaridas, e você, eu, lá no meio, perdido para sempre, condenado à morte porque fuga não há, e os meus, seus, fantasmas são fortes demais. As flores são muito mais assustadoras do que os poços.

Imagino-me caído no fundo de um poço. Um poço florido. Um poço com as paredes cobertas de margaridas. Todas sorrindo pra mim. Eu sorrio de volta. E corto os meus pulsos. O branco e o amarelo respingam-se de vermelho e as margaridas sorriem e eu sorrio e elas ficam felizes e eu fico feliz e tudo está bem e a depressão foi embora. Eu danço e as margaridas dançam. Eu calo morto e as margaridas vermelhas me abençoam.

Ao meu amor

Que linda essa música. Que linda essa escuridão. Que linda essa solidão medonha. Que linda a falta que eu sinto de ti. Relembrando com carinho aqueles momentos que nunca existiram. Procurando na memória as milhares de vezes que não vi esse teu sorriso tão raro. “Por que você não sorri pra mim, meu amor?”, eu te perguntava, lembra? Nunca mais chamei ninguém de “meu amor”. E você? Sei que não, mas que bom que você está feliz assim. Eu? Ah, você sabe, eu vou vivendo. Às vezes bêbado em um bar, às vezes noites de andarilho, às vezes uma carteira de cigarros em uma noite. Sempre sozinho, você sabe. Você se lembra? Mesmo quando estava contigo, sempre sozinho e te deixando sozinha. Não, não estou me culpando, sei que a culpa não é minha nem tua nem de nós dois. Maldita mania de termos de culpar alguém pelos nossos erros. E quem disse que foi um erro? Não, eu não sei ser diferente. Um dia foi uma escolha, agora não é mais. Desculpa se te magoei. Não foi minha intenção, mesmo quando eu sabia que estava te magoando e não parava, mesmo quando eu sabia que o beijo te doía e enfiava ainda mais fundo a língua na tua boca, não queria te machucar mesmo sabendo que estava machucando. Então eu fingia que não sabia, mas tu nunca acreditou. Tu sempre viu além de mim e eu sempre sofri por não poder mentir pra ti. Teria sido tão mais fácil se tu tivestes acreditado nas minhas mentiras. Mas tu já sabia, tu sempre sabia antes mesmo de eu saber. Sabia o grande canalha que eu era, sabia que eu te faria sofrer. E mesmo assim me amou com todo o teu coração. Sua louca! Isso é uma atitude suicida, queres morrer?! Não te mete com esse tipo de gente, não te mete comigo! Eu sou veneno mortal e não tenho antídoto. Não te mete comigo... por favor. Eu sei que agora é tarde, mas eu queria tanto que não fosse. Faz tanto tempo que eu não consigo mais dizer que te amo. As palavras trancam na garganta e a boca seca. Eu nunca consegui mentir pra ti. Isso significa que eu te amei. Um dia. Vai embora da minha vida antes que eu destrua o que ainda restou de ti. Mas não deixa de me amar, pois eu sei que ninguém mais vai.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

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casa nova, vida nova.