segunda-feira, 19 de maio de 2008

Minha noite de Bukowski, apreciando a decadência com vodka e cigarros num bar qualquer

Vodka e cigarros. É impressionante como uma vida pode ser descrita a partir de pequenos signos. Vodka e cigarros. Minha vida poderia ser descrita a partir deles. Todo o resto é causa ou conseqüência, tudo gira ao redor da vodka e dos cigarros. Como nas noites em que embebedo menininhas inocentes – ou nem tanto – e levo-as a maratonas sexuais. Tudo um pretexto para vodka e cigarros. Mesmo que eu costume embebedá-las com vinho, e embora a maioria não fume. Vodka e cigarros são coisas de alma. Estão incrustados no meu caráter, sempre e para sempre. E convenhamos, um caráter incrustado de vodka e cigarros não pode ser boa coisa. Não é. Tanto que a indiferença das manhãs seguintes faz com que todas – ou quase todas – me odeiem. As que não me odeiam são as que se apaixonam. Coitadas! Essas são as que mais sofrem. Na minha vida não há lugar para amores, apenas para vodka e cigarros. Sexo, eventualmente. Mas só por diversão, às vezes nem isso, apenas por distração (na maioria absoluta das vezes). Ninguém entende e também não peço que entendam. Não busco compreensão, não tenho paciência para essas coisas, não tenho paciência para as pessoas em geral. Aturo-as porque o mundo é assim e tenho que aturá-las. Mas na minha vida real não há espaço para nada nem ninguém: apenas para vodka e cigarros. Eu rio das ridículas aproximações que tentam, desprezíveis pessoas. E aí vêm todas essas fugas e eu nem sei direito do que estou fugindo. Poderia dizer que estou fugindo das pessoas, mas como, se eu nem mesmo deixo-as se aproximarem? Poderia dizer que estou fugindo do mundo, mas eu também não permito a sua aproximação. Deveria dizer então que eu fujo de mim mesmo, mas não tenho certeza de que me deixo aproximar-me de mim. Fujo sempre. Nunca sei do quê. Essa é a minha vida. As únicas coisas que estão sempre comigo são a vodka e os cigarros. Escovo os dentes tentando tirar o gosto de álcool, de nicotina, de fracasso. Bolinhas pretas sobre a língua. Pequenos cânceres. Na boca, na alma. Não adianta, o gosto não sai. Nunca adiantou mesmo. Já aprendi a conviver com o amargo. A boca sendo sempre um reflexo da alma, ambas amargas. Tudo muito rápido, tudo muito efêmero, sempre. Tomo umas doses de vodka, fumo uns cigarros, consigo uma transa ou outra por aí. Afinal, o que essas piranhinhas vêem em mim? Será que a decadência é assim tão atraente? Sim, porque é impossível deixar de notar: eu fedo a decadência a quilômetros de distância. Aquele odor podre que se mistura ao cheiro de vodka e de cigarros. Decadência. Fracasso. Desespero até, nos momentos otimistas. Não há como não perceber. Mas elas continuam aparecendo e me dando. Será que eu sou tão bom de cama assim? Ou apenas os outros bêbados e fracassados que não conseguem levantar o próprio pau, e dormem babando no meio das pernas delas? Eu até sei um truque ou outro, admito. Teve épocas em que eu fazia o Kama Sutra quase todo. Hoje não tenho mais paciência pra isso. Ainda dou umas boas lambidinhas nas bocetas, não por consideração, não por me importar com elas ou com o prazer delas, apenas porque eu gosto do gosto, gosto do cheiro. Sei como fazê-las gozar, algumas posições que elas adoram e que não me exigem muito esforço. É impressionante como essas putinhas de hoje, essas que parecem meninas de família, gostam de dar de quatro. É só tu perguntar: como tu prefere? A resposta é quase unânime: de quatro, me come de quatro! Quanto mais fundo, mais elas gostam. Parece que elas têm que sentir o pau encostando lá no útero para se satisfazerem. E gozam. Gozam gozam gozam, meu deus como gozam essas putinhas. Cinco, seis, sete vezes seguidas. Uma vez teve uma que gozou mais ou menos umas vinte vezes num período de três horas. Parecia que eu tinha deixado o colchão na chuva. E no outro dia aquele fedor de porra de mulher, mas tudo bem, eu gosto. Gosto de beber como se fosse suco de laranja, beber tudo. Mas não me importo com elas, não. Mesmo que uma ou outra acabe dormindo comigo, eu estou sempre sozinho. Depois do sexo, por melhor que seja, eu sempre levanto, tomo umas duas ou três doses de vodka, fumo uns dois ou três cigarros, e só então deito e durmo, odiando a puta que está deitada ao meu lado. Eu sou assim, fazer o quê. Tem tanto cara certinho que é bem mais filho-da-puta do que eu. Aqueles exemplos de rapaz, sempre bem barbeados, bem perfumados, de famílias cristãs, funcionários do mês e diabo a quatro, todos pessoas exemplares que fodem a empregada, estupram a filha adolescente e demitem o amigo assim que são promovidos em seus empreguinhos de merda. É, um bando de filhos-da-puta. Pelo menos eu sou sincero. Admito o grande canalha que sou. Veja bem, não estou dizendo que há algum mérito nisso, só digo que ao menos é de verdade. Assim como a vodka e os cigarros. De verdade. Sempre ali quando eu preciso. E quando eu não preciso também. Faz muito tempo que eu deixei de não precisar. Vodka e cigarros. Não quero que tenham pena de mim. Eu é que tenho pena dessas pessoas estúpidas. Na verdade, já faz um tempo que eu deixei de ter pena delas. Já faz algum tempo que eu deixei de sentir qualquer coisa. A decadência me transformou num insensível completo. As únicas coisas que eu ainda sinto são o álcool da vodka e a nicotina dos cigarros. Algumas vezes, a cafeína de algum café barato, muito forte, muito amargo, muito ruim. Mas pelo menos já é alguma coisa. Não adianta. Não adianta insistir, não adianta tentarem me salvar, até porque eu não quero ser salvo de porra nenhuma. Estou muito contente aqui sozinho nessa minha vidinha de merda. E se tu vieres com uma bíblia pro meu lado eu vou enfiar ela no teu cú. Eu abandonei deus há muito tempo, mas quem me abandonou primeiro foi ele. E que se foda tudo isto! Se eu estivesse sóbrio não falava nada. É impressionante como bêbado fala pelos cotovelos, não é mesmo? Se a minha vida fosse diferente... não sei. Mas o fato é que a minha vida é este grande balde de merda, e pra esquecer o cheiro eu fumo sem parar, e pra esquecer o gosto eu bebo sem parar, e quer saber? Não adianta merda nenhuma. Não esqueço o cheiro, não esqueço o gosto, não esqueço o fracasso. O mundo ri enquanto eu choro metido até o pescoço nesse balde de merda. Não há salvação pra mim, eu sei. Há muito tempo deixei de procurar. Peço mais uma vodka – dose dupla meu camarada! – pago a conta, compro mais um maço – o meu tá no fim – e saio do bar. Três bêbados dormem em suas mesas e o garçom conversa com o cara do balcão. Uns perdedores. Todos eles. Nunca chegarão a saber o quão gloriosamente desastrosa é a vida. Voltando pra casa desejo que um caminhão me atropele. Mas isso seria um final feliz, e finais felizes não existem. Pelo menos não depois da primeira transa.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Dois em um

– O que é isso? – Aponta para a boca dele, onde crescem feridas vermelhas do lado esquerdo, na junção dos lábios.

– Acho que é uma alergia.

– À quê?

– Sei lá... à vida entediante...

A alergia se alastrava como um câncer voraz e faminto por seu rosto. O tédio se alastrava como um câncer voraz e faminto por sua vida. Há muito o desespero passara. Só havia o vazio. Mas o vazio há muito deixara de ser angustiante. Sentia até uma certa paz. Uma calma. Como se a fatalidade fosse inevitável e nada pudesse fazer. A calma dos condenados a morte. Imaginava que quando eles subissem no cadafalso e observassem a forca, deveriam sentir-se calmos. Mas não havia forca. E até a calma passou. Ficara apenas aquela dor seca na garganta, mas ele a umedecera com vinho tinto. Ela olhava-o com curiosidade.

– O que foi?

– Nada... só tava te olhando...

Ela tinha no olhar uma compreensão sobre ele que lhe faltava. “O que será que ela compreende sobre mim?”, pensava. Não poderia imaginar.

– Tu és um eterno insatisfeito.

– Vai te fuder!

Sua insatisfação não era com o mundo, achava que não era nem consigo mesmo. Não conseguia compreender com o que estava insatisfeito.

A pizza chegou e interrompeu seus pensamentos.

Olhares furtivos.

– Passa a mostarda.

Conversaram banalidades.

– Eu odeio aquela aula.

– Eu também.

Não havia como disfarçar. A infelicidade fazia parte de suas vidas. Estava nos olhares. Estava no fundo da alma.

Caminharam pela noite iluminada artificialmente. Quanto de suas próprias luzes não seria artificial? “Muito”, ele desconfiava. O frio penetrava as roupas, os corpos, as almas. Ele falou-lhe uma coisa qualquer em francês. Ela não entendeu, mas sorriu. Sabia que ele sempre falava em francês quando queria ser carinhoso. Ela podia sentir o seu carinho como se fosse um afago. No fundo, eles se amavam. Sorriram um para o outro. Possuíam uma compreensão sagrada, compartilhada, e sabiam que suas vidas não existiam separadas. Desceram pela rua, dançando em meio à noite fria.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

quinta-feira, 8 de maio de 2008

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o amor, como palavra, está vulgarizado.
o amor, como sentimento, está extinto.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Morte do Amor Romântico

O Amor Romântico deixou de existir há muito tempo, simplesmente porque não há mais possibilidades de que exista o seu objeto de idolatria na nossa sociedade. O Amor Romântico pressupunha um ideal, algo (sentimento) ou/e alguém (pessoa) a ser alcançado. Esta pessoa era elevada através dos mais altos níveis de idealismo, e o sentimento tornava-se mais intenso na proporção inversa das possibilidades de concretizá-lo. Todas as histórias de Amor sempre foram histórias de buscas, de jornadas, de lutas. O “...e foram felizes para sempre” é sempre o final, pois ao se concretizar o sentimento, nada mais há: perde-se tudo, inclusive o próprio sentimento. As histórias de Amores Românticos sempre foram histórias de sentimentos inconcretizáveis.

O que ocorre hoje é justamente o contrário: há a concretização, mas não há o sentimento. Existe o desejo, e a satisfação imediata deste desejo. E caso não haja esta satisfação com o objeto/pessoa desejada, este desejo direciona-se à outra pessoa/objeto, afinal, nossas vidas são muito corridas para perdermos tempo com situações que não se definem/concretizam. Hoje tudo é muito rápido, muito imediato. E todo este imediatismo não permite que haja tempo para se construir um ideal a partir de uma pessoa. Não buscamos mais ideais: buscamos a satisfação dos nossos desejos. E é aí que está: o Amor Romântico sempre foi um ideal. Ao perder-se o ideal, perde-se tudo.

Veja bem, não estou dizendo que não existam relacionamentos, até porque relacionamentos nada têm a ver com Amor, nunca tiveram (salvo raras exceções). Um bom relacionamento é composto por vários fatores, e Amor não é necessariamente um deles. Os relacionamentos sempre foram – e continuam sendo – instituições sociais. A humanidade possui um longo – milenar – histórico de casamentos arranjados. Casamentos duradouros e “felizes”. Com Amor? Duvido muito. Acontece que a nossa sociedade, historicamente, é a mais hipócrita que já existiu: teoricamente somos livres para fazermos o que quisermos. Podemos transar alucinadamente com cinco desconhecidos em qualquer festa, mas ao falarmos de sexo em público devemos ser mais puritanos que Joseph Ratzinger. E isso vale também para qualquer outro assunto “polêmico” – leia-se sério e coberto de hipocrisias.

Neste contexto de sociedade caótica, hipócrita e vertiginosamente acelerada, é impossível que exista o Amor Romântico. Este tipo de sentimento exige tempo e crença. Crença em si mesmo, no outro e no próprio sentimento. E no nosso mundo de ceticismos, a crença não passa de outra instituição social. Hoje um relacionamento e uma crença são duas belas coisas para se mostrar aos amigos num domingo.

E quanto ao Amor Romântico? Bem, esse já virou his(es)tória...




Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste

Eu não existo sem você - Tom Jobim & Vinícius de Moraes

quinta-feira, 1 de maio de 2008

noite.

meu cabelo fede a gelo seco e a cigarro.
minha alma fede a solidão.