Vodka e cigarros. É impressionante como uma vida pode ser descrita a partir de pequenos signos. Vodka e cigarros. Minha vida poderia ser descrita a partir deles. Todo o resto é causa ou conseqüência, tudo gira ao redor da vodka e dos cigarros. Como nas noites em que embebedo menininhas inocentes – ou nem tanto – e levo-as a maratonas sexuais. Tudo um pretexto para vodka e cigarros. Mesmo que eu costume embebedá-las com vinho, e embora a maioria não fume. Vodka e cigarros são coisas de alma. Estão incrustados no meu caráter, sempre e para sempre. E convenhamos, um caráter incrustado de vodka e cigarros não pode ser boa coisa. Não é. Tanto que a indiferença das manhãs seguintes faz com que todas – ou quase todas – me odeiem. As que não me odeiam são as que se apaixonam. Coitadas! Essas são as que mais sofrem. Na minha vida não há lugar para amores, apenas para vodka e cigarros. Sexo, eventualmente. Mas só por diversão, às vezes nem isso, apenas por distração (na maioria absoluta das vezes). Ninguém entende e também não peço que entendam. Não busco compreensão, não tenho paciência para essas coisas, não tenho paciência para as pessoas
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Minha noite de Bukowski, apreciando a decadência com vodka e cigarros num bar qualquer
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Dois em um
– O que é isso? – Aponta para a boca dele, onde crescem feridas vermelhas do lado esquerdo, na junção dos lábios.
– Acho que é uma alergia.
– À quê?
– Sei lá... à vida entediante...
A alergia se alastrava como um câncer voraz e faminto por seu rosto. O tédio se alastrava como um câncer voraz e faminto por sua vida. Há muito o desespero passara. Só havia o vazio. Mas o vazio há muito deixara de ser angustiante. Sentia até uma certa paz. Uma calma. Como se a fatalidade fosse inevitável e nada pudesse fazer. A calma dos condenados a morte. Imaginava que quando eles subissem no cadafalso e observassem a forca, deveriam sentir-se calmos. Mas não havia forca. E até a calma passou. Ficara apenas aquela dor seca na garganta, mas ele a umedecera com vinho tinto. Ela olhava-o com curiosidade.
– O que foi?
– Nada... só tava te olhando...
Ela tinha no olhar uma compreensão sobre ele que lhe faltava. “O que será que ela compreende sobre mim?”, pensava. Não poderia imaginar.
– Tu és um eterno insatisfeito.
– Vai te fuder!
Sua insatisfação não era com o mundo, achava que não era nem consigo mesmo. Não conseguia compreender com o que estava insatisfeito.
A pizza chegou e interrompeu seus pensamentos.
Olhares furtivos.
– Passa a mostarda.
Conversaram banalidades.
– Eu odeio aquela aula.
– Eu também.
Não havia como disfarçar. A infelicidade fazia parte de suas vidas. Estava nos olhares. Estava no fundo da alma.
Caminharam pela noite iluminada artificialmente. Quanto de suas próprias luzes não seria artificial? “Muito”, ele desconfiava. O frio penetrava as roupas, os corpos, as almas. Ele falou-lhe uma coisa qualquer
sexta-feira, 9 de maio de 2008
quinta-feira, 8 de maio de 2008
quarta-feira, 7 de maio de 2008
A Morte do Amor Romântico
O Amor Romântico deixou de existir há muito tempo, simplesmente porque não há mais possibilidades de que exista o seu objeto de idolatria na nossa sociedade. O Amor Romântico pressupunha um ideal, algo (sentimento) ou/e alguém (pessoa) a ser alcançado. Esta pessoa era elevada através dos mais altos níveis de idealismo, e o sentimento tornava-se mais intenso na proporção inversa das possibilidades de concretizá-lo. Todas as histórias de Amor sempre foram histórias de buscas, de jornadas, de lutas. O “...e foram felizes para sempre” é sempre o final, pois ao se concretizar o sentimento, nada mais há: perde-se tudo, inclusive o próprio sentimento. As histórias de Amores Românticos sempre foram histórias de sentimentos inconcretizáveis.
O que ocorre hoje é justamente o contrário: há a concretização, mas não há o sentimento. Existe o desejo, e a satisfação imediata deste desejo. E caso não haja esta satisfação com o objeto/pessoa desejada, este desejo direciona-se à outra pessoa/objeto, afinal, nossas vidas são muito corridas para perdermos tempo com situações que não se definem/concretizam. Hoje tudo é muito rápido, muito imediato. E todo este imediatismo não permite que haja tempo para se construir um ideal a partir de uma pessoa. Não buscamos mais ideais: buscamos a satisfação dos nossos desejos. E é aí que está: o Amor Romântico sempre foi um ideal. Ao perder-se o ideal, perde-se tudo.
Veja bem, não estou dizendo que não existam relacionamentos, até porque relacionamentos nada têm a ver com Amor, nunca tiveram (salvo raras exceções). Um bom relacionamento é composto por vários fatores, e Amor não é necessariamente um deles. Os relacionamentos sempre foram – e continuam sendo – instituições sociais. A humanidade possui um longo – milenar – histórico de casamentos arranjados. Casamentos duradouros e “felizes”. Com Amor? Duvido muito. Acontece que a nossa sociedade, historicamente, é a mais hipócrita que já existiu: teoricamente somos livres para fazermos o que quisermos. Podemos transar alucinadamente com cinco desconhecidos em qualquer festa, mas ao falarmos de sexo em público devemos ser mais puritanos que Joseph Ratzinger. E isso vale também para qualquer outro assunto “polêmico” – leia-se sério e coberto de hipocrisias.
Neste contexto de sociedade caótica, hipócrita e vertiginosamente acelerada, é impossível que exista o Amor Romântico. Este tipo de sentimento exige tempo e crença. Crença em si mesmo, no outro e no próprio sentimento. E no nosso mundo de ceticismos, a crença não passa de outra instituição social. Hoje um relacionamento e uma crença são duas belas coisas para se mostrar aos amigos num domingo.
E quanto ao Amor Romântico? Bem, esse já virou his(es)tória...
♫ Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste ♫
Eu não existo sem você - Tom Jobim & Vinícius de Moraes