tag:blogger.com,1999:blog-40574668913938089522024-03-13T20:15:58.353-03:00Coffee & StrawberryRyan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.comBlogger223125tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-1517396671483560952010-01-08T21:02:00.000-02:002010-01-08T21:04:05.151-02:00Escuridão (da série "Estéticos")A escuridão como uma figura assimétrica, perfeita. Como salvação. Redenção. Bem e mal em um único corpo difuso. Yin e yang em um apenas, completo, sem linhas limites definições. A escuridão como o perfeito absoluto a ser alcançado. A compreensão total na falta de sentido. O caos divino. A ilusão suprema. A última cortina caindo, desvelando-se. O negror. A cegueira. A inutilidade dos sentidos – de todos eles. O sentir-se completamente perdido; em um caminho sem retorno. A escuridão – interna e externa. O todo. O nada. A ilusão. O eu. A escuridão. Um ciclo. Um círculo. Perfeito. Tudo sempre perfeito incompreensível inalcançável. Os delírios. A morte – mais uma. O fim. O começo. O eterno retorno. A eterna agonia. O peso. A leveza. A fuga. A impossibilidade da fuga. O desespero. A calma. As tentativas – todas vãs. O nada. O tudo. A escuridão. Samsara.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-69423845467754674432010-01-08T20:57:00.001-02:002010-01-08T21:00:50.712-02:00Quebra-Cabeça ou Interioridade (da série "Estéticos")Tudo começa com um solavanco – algo violento. No fim, é a violência que move o mundo – e as pessoas. Pois aquele algo violento provoca uma desorganização interna, como se houvesse um quebra-cabeça dentro dele, e este fosse subitamente, bruscamente desmontado. A partir daí ele não compreenderia mais o mundo, nem a si mesmo. Aquilo que havia dentro dele estava desmontado, e agora o que restava era caos e uma antiga sensação de organização, de pertencimento. Pertencimento? Sim, pertencimento. Havia uma certa compreensão do mundo e de si mesmo que o pertencera – e agora o abandonara. Então agora ele necessitava começar novamente, montar o seu quebra-cabeça interior. Mas não conseguia. Estranhava as peças como se nunca as houvera visto. E a compreensão não vinha. Encontrava-se preso em um estranhamento que parecia perpétuo. Não havia fuga. Ele nem mesmo era capaz de imaginar uma fuga. Estava totalmente – mortalmente – desarmado; desconcertado [desmontado]. Recomeçava. O que recomeçava? Recomeçava a si mesmo. Como se fosse Deus, e Adão, e O Início dos Tempos – todos ele; todos nele. No princípio – a primeira peça – havia apenas a escuridão. Depois – a segunda – havia ele [seria Deus ou Adão?]. Depois havia a sua vontade – a terceira. Depois tudo era caos. Não conseguia passar destas três peças iniciais. Ele, parado em meio à escuridão, com vontade de. De quê? De compreender. Compreender o quê? Tudo. Recuperar a compreensão que acreditava ter possuído um dia – talvez segundos atrás [o tempo não era importante – ou era?]. Mas ao que parecia, o solavanco inicial havia causado um mal irreparável. Aquilo que fora desmontado – a compreensão – jamais seria remontado novamente. Ele teria vislumbres relances memórias em uma peça ou outra, mas a cena completa estava perdida para sempre. Nunca mais a compreensão. A roda gira sempre em frente, e não importa quantas vezes gire em torno de si, o caminho jamais será o mesmo. Ele perdera a si próprio na total desorientação, e seguia girando. Precisava então, para sobreviver, montar um novo quebra-cabeça. Construir peça por peça; cena a cena. Ou entrar em um rio e morrer. Ou tomar arsênico. Ou escrever. Ou pensar. Ou amar. Ou.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-48771148033246866752010-01-08T20:50:00.000-02:002010-01-08T20:56:02.676-02:00Nosso AmorEstava deitado ouvindo Arcade Fire pensando no que acontecia. De fato, acontecia muita coisa, mas eu não conseguia dispô-las em uma organização lógica em minha mente, afim de uma análise um pouco mais elaborada. Tentava: primeiramente havia um amor – ou algo que eu acreditava ser um amor; ou, em última instância, algo que eu convencionava chamar de amor. Aquilo que havia, o objeto ontológico de análise, aquilo que prescindia o nome “amor”, sem o nome não era nada – apesar de ser tudo. Então eu pensava primeiramente sobre o amor. Mas não sobre o sentimento universal grandiloqüente que todos convencionamos chamar de amor – eu pensava em um amor específico [eu e ela]. Logo, eu pensava nela. Mas novamente, não nela enquanto ela mesma, mas sim na minha visão dela. Como podem perceber, é tudo uma questão de semiótica, problemas lingüísticos, significante & significado. Mas o fato é que a partir do amor [aquele específico] e dela [aquela minha visão dela], eu definia a percepção que eu tinha de mim mesmo [ou uma delas – talvez a principal]. Assim eu me definia: eu era parte integrante e [talvez] indivisível do amor que havia entre eu e ela. É claro que este prisma apresenta vários problemas. Ver a si mesmo sob uma perspectiva que não é única e exclusivamente interna [e não são todas?] é sempre algo problemático. Mas eu partia do pressuposto que ela [parte integrante e indivisível do nosso amor, logo, de mim mesmo] também visse a si mesma, e ao nosso amor e, por conseqüência, a mim, sob o mesmo prisma – o que permitiria uma comunicação mais verdadeira entre nós. Mas veja bem, tudo isso acontece dentro da minha percepção interna [como um delírio, alucinação], podendo não significar nada fora deste contexto e, em último caso, ser uma completa farsa – uma mentira. Logo, não é difícil perceber que toda esta minha divagação é inútil. Eu deveria apagar a luz, desligar o som, deitar a cabeça no travesseiro e dormir. Mas sei que não farei isso por diversos motivos: 1) Eu não durmo à noite. 2) Este não é o meu travesseiro. 3) Esta não é minha cama. 4) Esta não é minha casa. 5) Eu continuo pensando nela e no nosso amor. O que é engraçado, pois o conceito de “nosso amor” remete à idéia de Amor Romântico Idealizado, o que não é o caso. O “nosso amor” é mais como uma guerra – uma eterna disputa de poder; um cabo de guerra metafísico. O “nosso amor” exige violência e disputa. Amamo-nos na mesma medida em que odiamo-nos, e desejamos viver um para o outro na mesma medida em que desejamos matarmo-nos. O “nosso amor” possui um duplo; um lado negro. Vida e morte. Eu e ela. O “nosso amor” doentio. Como um câncer, uma metástase espiritual devorando-nos mutuamente, simetricamente, igualmente – um amor duvidoso de si mesmo, duvidoso de nós [tão suspeitosos e duvidosos que sempre fomos]. Este amor deformado como nosso filho, disforme em seu esplendor – cego e carente. E nós o alimentando com beijos e violências. Nosso filho. “Nosso amor”. Nossa vida perdida nesta prisão de estarmos eternamente ligados um ao outro – estas algemas imaginárias, que do prazer passam à dor, do amor ao ódio; eternamente ligado nesta união maldita. Eu adormecia pensando nela e no “nosso amor”. Ela adormecia longe de mim. Eu sentia sua respiração no sono. Estava morto. Estava enlouquecendo. Estava amando. Estava odiando. Estava preso. Preso. Preso. Eternamente preso...Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-36108847316587110472010-01-06T03:21:00.002-02:002010-01-06T03:25:59.768-02:00InexorabilidadeO tempo, sempre traiçoeiro e enganoso. O que seria o tempo, na verdade? Apenas mais uma ilusão da nossa mente caótica, ou algo, como dizem, inexorável? Acho engraçada essa idéia de inexorabilidade. É como uma sina. Não se pode fugir dela. Isso significa que não se pode fugir do tempo. O que na verdade é uma mentira. Não uma mentira no sentido clássico; mais como uma inverdade. Uma inverdade, pois cada um vive em seu próprio tempo, têm suas próprias percepções da realidade, se relaciona com o mundo de uma forma diferente. Então creio que é correto dizer que cada um possui o seu próprio tempo, e que esta inexorabilidade é muito relativa. A nossa maior sina é relativa – depende de uma interpretação própria. Cronos é apenas uma pintura antiga. O relógio é apenas uma máquina. O que mede verdadeiramente o nosso tempo é a forma como vivenciamos a realidade. E não digo isso num sentido filosófico-abstrato, mas no sentido real. O tempo é relativo. É uma construção.<br /> <br />Foi assim. Eu estava sentado pensando sobre o tempo quando ela chegou. Largou suas coisas sobre a cadeira, sobre a mesa, sobre a outra cadeira – a capacidade feminina de sempre carregar mil coisas que não usarão nunca. Conversava, falava sozinha – ou comigo – de outro cômodo. Era barulhenta. Minha paz estava suspensa, e eu sabia que só seria restaurada no momento exato em que ela fosse dormir, reclamando que eu não iria com ela.<br /> <br />Tínhamos horários diferentes. Ela trabalhava o dia inteiro e estudava à noite. Eu ia dormir ao raiar do dia, acordava na metade da tarde. Passava a tarde, a noite e a madrugada pensando, lendo, escrevendo; tentando ser grandioso e artístico. Olhando agora, creio que talvez tenha sido justamente esta impossibilidade de estarmos sempre juntos, compartilhando vivências, que tenha feito nosso relacionamento durar tanto tempo – e da forma mais saudável que era possível entre nós.<br /> <br />Esse saudável incluía, em primeiro lugar, a não-traição. Eu poderia dizer fidelidade, ao invés de não-traição, mas o fato é que não seria apropriado. Todas as milhares de tentativas anteriores de relacionamentos entre nós haviam fracassado justamente pelas traições, de forma que trair-se era o normal para nós. Não éramos pessoas confiáveis – não confiávamos um no outro. Por isso a não-traição como premissa básica de um novo início.<br /> <br />Ela tinha necessidade da minha presença constante e contínua em sua vida. Eu tinha necessidade de solidão. E liberdade. Tinha necessidade de amizades e vinhos. Ela tinha necessidade de mim. Isso gerava um claro desequilíbrio. À noite, a sua necessidade absoluta de mim acabava com o meu tesão. Eu disfarçava. Ia escrever, ler, assistir um filme. Qualquer coisa que me distraísse da necessidade que ela tinha de mim. Ela me sugava. Drenava minha alma. Era uma parasita. Eu sentia isso ao escrever. Quando passava muito tempo com ela, os textos saíam vazios. Ela me sugava.<br /> <br />Andava em volta de mim, tomava goles da minha taça de vinho, conversava coisas desimportantes, fazia convites insinuantes para irmos para cama. No fundo, eu só queria que ela me deixasse em paz. Nosso relacionamento teria funcionado de uma forma muito mais eficaz se ela me deixasse em paz. Mas ela não deixava. Não conseguia. Não podia. Eu era indiferente. Tratava-a com grosseria. Ela se magoava. Eu fingia não me importar, mas a verdade é que eu não tinha outra alternativa – precisava afastá-la de qualquer jeito. Ela me fazia mal.<br /> <br />Por fim, ela dormia. E eu continuava mergulhado na minha solidão quebrada. Mesmo dormindo, eu sentia a sua presença no cômodo ao lado. Eu não estava sozinho. Eu não conseguia me concentrar. E isso me deixava em um permanente estado de improdutiva irritação. Ao longo dos anos fui aprendendo a odiá-la por isso. Odiá-la por me amar, odiá-la por macular a minha solidão sagrada. Odiei-a profundamente por tentar imiscuir-se à minha pessoa.<br /> <br />Ela era uma flor venenosa, planta carnívora – embora não fosse tão linda assim. Ela sufocava, asfixiava, envenenava. Por vezes, quis sentá-la em meu colo, olhar no fundo dos seus olhos verdes e, com um sorriso, dizer: eu te odeio. E eu vou te matar, antes que tu me mates. Eu não fazia, não dizia – embora a vontade fosse permanente. Sinceramente, nunca consegui descobrir qual era a coisa odiosa e pegajosa que nos mantinha juntos. Aquele suposto amor era tudo, menos amor em si. Era paixão, posse, ciúme, violência, raiva, ódio. Tudo menos amor. Mas não conseguíamos livrarmo-nos um do outro. Como uma maldição. Como uma sina. Como o tempo: inexorável. Permanecíamos naquela relação doentia como se não fosse acabar nunca; como se existisse desde o início dos tempos. Havia encontros e desencontros; brigas e sexo; mas continuávamos, permanecíamos, unidos pelo ódio amoroso, amor odioso, ilusão inexorável, impermeável. Não havia explicação. Eu só queria fugir dela para sempre. Eu só queria matá-la.<br /> <br />Ela agia como se nada acontecesse, como se ambos nos amássemos profundamente – mesmo sabendo do ódio recíproco, escuro e violento, que alimentávamos juntos a cada falsa jura de amor. Dizíamos “eu te amo” dormindo. Sonhávamos sonhos de ódio e liberdade. Estávamos matando-nos mutuamente.<br /> <br />Ela não se importava. Ao menos não parecia se importar. Já estava acostumada a este jeito de sermos um com o outro – venenosos, ardidos, maus. A crueldade como única salvação; como redenção. Mas não é fácil ser cruel com palavras de amor. Exige muita prática e talento. Machucar com um “eu te amo” é uma arte para mestres, uns poucos escolhidos. E nós éramos escolhidos; sagrados e escuros. E nos odiávamos com muito amor, nos amávamos com muito ódio. Creio que no fundo os sentimentos se misturavam e acabavam virando uma coisa só, um ódioamor ou amoródio, algo que nos matava e nos permitia viver ao mesmo tempo; algo que secou-nos por dentro.<br /> <br />Eu sempre a culpei pela morte do eu romântico. No fim, eu estava certo. Ela era a morte dos sentimentos para mim. Pelo menos dos bons. Sobrava apenas aquele amoródio infernal que me torturava noite após noite. Teria sido melhor se morresse – se ambos morrêssemos. Teria sido menos doloroso. Teria sido mais fácil. Mas sobrevivi, como uma ironia, talvez única e exclusivamente para contar esta história. Sobrevivi; sobrevivemos – monstruosos.<br /> <br />Por vezes pensava que não éramos mais humanos, e tentava em vão buscar na memória o momento exato onde a humanidade se perdeu, onde aquelas duas pessoas que nós éramos morreram e transformaram-se nestas criaturas abomináveis que se amorodiavam mutuamente. Nunca consegui lembrar. Não havia resposta. Não havia volta. Estávamos condenados. Condenados um ao outro.<br /> <br />Mas eu queria fugir.<br /> <br />Creio que uma das coisas mais engraçadas do ser humano é a liberdade, e como ela é relativa. A liberdade, na verdade, não existe – ilusão inexorável; sina. Todos são tecnicamente livres para fazer/pensar o que quiserem, mas o fazer/pensar e, mais a fundo, o próprio ato de ser já está atrelado a uma série de, digamos, regras predeterminadas. O ato de ser já está previamente condicionado a um tipo de ser. O que foge a isso é ignorado ou eliminado. A liberdade, vista de fora, é algo realmente muito engraçado. Ou melhor: seria (já que ninguém realmente a vê de fora; todos estão imersos nela). <br /><br />Pensando sobre liberdade eu percebi que não poderia fugir dela. Percebi que como criaturas não-humanas era justamente este amoródio o que nos mantinha vivos – que não havia fuga possível. Ou pelo menos era nisso que eu acreditava, e pelo fato de eu acreditar tornava-se real – a minha realidade inexorável, moldada ao meu bel-desprazer (o prazer apenas pelo prazer não existia para mim – ou existia?).<br /><br />Decidi continuar com ela então. Não creio que se possa chamar efetivamente de decisão, pois eu não tinha escolha; mas convencionei chamar de decisão – talvez para não sentir-me tão impotente diante da inexorabilidade dos fatos, do mundo. Continuávamos então, até a nossa próxima morte. Não soubera o que haveria além da humanidade e do amor – tivera curiosidade e medo. Estes sentimentos voltavam agora, pressentindo o que surgiria após esta não-humanidade monstruosa e seu amoródio. Tinha vontades suicidas de matá-la ou deixá-la, pois sabia que assim também morreria – sentia que éramos um organismo uno, ela, meu duplo, meu gêmeo siamês na monstruosidade –, e talvez descobrisse (novamente) o que havia depois.<br /><br />Ela, creio, tinha medo. Ou talvez não fosse medo. Talvez estivesse simplesmente viciada em mim; viciada em nosso amoródio dilacerante. Ela não podia mais evitar, não podia mais controlar-se: era uma dependência químico-espiritual que ela desenvolvera de mim. Uma dependência que eu não desenvolvera – ou que pelo menos acreditava não ter desenvolvido, o que a tornava inexistente para mim. Mas isso só fazia aumentar a vontade suicida que eu tinha de matá-la. Ela, cada vez mais próxima a mim; eu, cada vez mais distante dela. A morte, cada vez mais íntima de nós.<br /><br />Eu só queria me libertar, mas parecia não ser possível. Eu implorava para todos os deuses que conhecia, mas os deuses atendem apenas a humanos, e eu era desumano. Estava no limbo. Com ela. Sem fuga. Sem vida. Sem sentimentos. Uma condenação muito mais pesada do que eu jamais merecera. Queria, com todas as forças, morrer.<br /><br />Eu via a escuridão como uma vitória, mas não desejava que esta escuridão fosse compartilhada – eu a queria só, una, indivisível em mim. Mas eu era ela e era também o nosso amoródio como uma força elemental que une um átomo a outro e forma uma matéria viva pulsante repugnante nós eu e ela em mim. Eu não queria nada disso. Ela talvez quisesse e por isso eu a odiava – mas não sem amor.<br /><br />Mas vamos voltar ao ponto de partida, eu quero voltar ao ponto de partida, sinto tudo mal-esclarecido, como uma pintura desfocada, borrões no lugar dos rostos. Por incrível que pareça, esta arte ambígua nunca me atraiu. Na verdade atraiu, mas ela é inútil agora que quero deixar as coisas mais claras possíveis; límpidas, cristalinas. Quero voltar ao começo, onde havíamos apenas eu, ela, antes do amoródio, apenas nós dois como uma página em branco. Então imagine que eu estou começando a contar de uma nova forma, agora, assim:<br /><br />No início, nós nos amávamos. Sim, era amor. Talvez tenha sido o meu primeiro e único. Quanto a ela, não sei – mas acho que também. Mas o fato é que o amor só dura enquanto for perfeito. A partir do momento em que ele se quebra, nunca mais será amor – pelo menos não entre as duas pessoas envolvidas. Insistir neste amor quebrado, despedaçado, destruído, só levará a outros sentimentos – geralmente os piores possíveis – e a outro tipo de ações – geralmente aquelas que causam desgraças (para o corpo e para a alma). De fato, o amor se quebrou, e a nossa insistência naquilo que não existia mais nos trouxe às já citas desgraças para o corpo e para a alma – e nos transformou no que somos agora – criaturas do amoródio. Não creio ser discutível se isto era evitável, se foi uma escolha, ou se, novamente, era algo inexorável. Simplesmente, a esta altura, não importa mais. Agora tudo é inexorável. Todas as escolhas, sem escolha – como sempre foram. O fato é que houve um início, e eu acreditei – nós acreditamos. Mas o que houve depois foi o que importou, e sobreviveu, e sobreviveu-nos. Novamente, não sei se isto é bom ou ruim – eximo-me aqui de qualquer juízo de valor.<br /><br />O fato é que depois do amor, e do desamor, e da vida, e da morte, houve o momento, ou melhor, o período, pois não foi um momento apenas, foram eras, embora seja tudo a mesma coisa, senti-me preso em um único momento durante todas estas eras, mas houve o período onde decidimos que nos amaríamos sem amor, nos odiaríamos sem ódio, viveríamos sem vida, morreríamos sem morte.<br /><br />Veio-me um pensamento agora: não sei por que conto esta história. Ela não servirá de nada, não salvará ninguém. Aqueles que estão perdidos já não possuem mais volta – e são todos. O calendário maya, 2012, os quatro cavaleiros do apocalipse. Tudo bobagem. Os apocalipses são internos. E todos já aconteceram. Agora é só questão de tempo. Pode ser amanhã. Ou daqui a 10.000 anos. Pode ser em um momento ou para sempre. Todos estão mortos. Não há salvação. O tempo não existe, é ilusão. As pessoas igualmente. Nós dois, com o nosso amoródio, somos uma transição. Não somos os únicos. Há milhares. Escondidos; disfarçados; camuflados. Somos o futuro e o passado. Somos a única esperança desesperançada de vida e morte e tudo e nada. Somos universo e vazio – todos nós. Não há salvação. O destino é inexorável.<br /><br />A última lágrima cai. Quis apenas contar esta história antes que tudo se faça escuridão; antes que tudo acabe – embora nada nunca acaba: nem mesmo nós; nem nosso amoródio. Um dia acreditei – acreditamos – que poderia dar certo. Deus é uma criança brincando com uma fazenda de formigas. Não há ordem, apenas caos – o fogo que consome e a água que afoga e a beleza (agora sim, verdadeiramente) inexorável. O caos é belo. Nós dois não somos nada. Deus não existe. O universo é ilusão. A vida é inexorável. E a morte. E o tudo. E o nada.<br /><br />Lembro-me apenas disto: resta, no fim de tudo, apenas uma voz na escuridão. Uma voz cheia de ódio, que diz: “Eu te amo.”Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-73982213834677338032010-01-06T02:56:00.001-02:002010-01-06T02:56:31.296-02:00NoiteTalvez seja isto que falte. Uma música, um vinho, um cigarro, um amor. Tudo o que há agora é este calor abafado e o silêncio da madrugada. Luz branca, artificial. Tela do computador, imóvel e indiferente. O mesmo discurso de outros tempos; outros lugares. A mesma sensação de sempre. Um eterno inconformismo que vai se cansando e, aos poucos, transformando-se em tédio. Aquele sono acordado sem vontade de dormir – um torpor permanente, eterno. Em mais uma noite dessas eu penso. Lembro. Faço uma retrospectiva analítica da minha vida. Construo possibilidades mentais que nunca se realizarão. Volto a fita e vou para o outro lado da encruzilhada há quatro anos atrás. Tenho a esperança de que assim eu não acabe perdido sozinho no meio de uma grande metrópole suja e abafada. Sem ninguém. Filmes velhos na tv. A tela do computador indiferente, há anos nos mesmos sites. Eu, há anos no mesmo ciclo. Tenho impressão de que as palavras já foram repetidas à exaustão. Agora só o silêncio faz sentido. Buscar a resposta no nada, no branco, no vazio. É o que resta quando tudo não bastou.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-73600860221690483792010-01-06T02:53:00.001-02:002010-01-06T02:53:49.187-02:00Perpetuação (da série "Estéticos")Esta sensação antiga, já plenamente identificável, de inadequação ao mundo. Esta sensação de não pertencer a lugar algum, e de ser hostilizado por todos. Eles sabem. Sabem que eu não pertenço a sua raça; sabem que eu não compartilho das suas crenças. Eles me querem morto. Matar-me-ão; esquartejar-me-ão; e após levarem as partes para quatro cantos distintos do mundo, far-lhes-ão arder em chamas – até as cinzas. Para nada restar – nem da obra, nem do homem. Para nada restar do pensamento.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-65505647508576338302010-01-06T02:49:00.001-02:002010-01-06T02:51:45.805-02:00Um Casal Quase PerfeitoUma menina ruiva parada à minha frente. Foi assim que começou. Era uma tarde quente em Porto Alegre. Era primavera, mas parecia verão. Ela era ruiva, tinha olhos verdes assustados e a pele muito branca. Vestia uma camisola de criança – curtíssima – e estava parada à minha frente, enroscando os pés descalços um no outro e comendo Passatempo recheado. Era dois anos mais velha do que eu, mas olhando assim parecia uma criança. Eu estava deitado, ouvindo Nick Drake com um caderno aberto ao colo. Várias esquematizações inúteis para tentativas vãs de escrever. Ela olhava e tentava descobrir sobre quem eu escrevia. Eu dizia <span style="font-style: italic;">é apenas literatura</span>. Era mentira. Ela sabia. Eu disfarçava. Ela voltava para o quarto ler seus livros de literatura infanto-juvenil. Ela não lia o que eu escrevia. Tinha medo. Eu ainda sentia o cheiro do gozo dela entre minhas pernas. Suor empapando a camiseta e a bermuda. O verão senegalês de Porto Alegre – mesmo na primavera.<br /><br />O fato é que ela era uma tentativa. Uma tentativa minha. Uma construção. Quase um texto; uma obra literária de olhos verdes e cabelos vermelhos. Eu a amava. Ela não tinha certeza. Não tinha como saber. Sabia apenas que eu amava a mim mesmo e a minha literatura – não necessariamente nessa ordem. Mas eu a amava – enquanto minha construção; minha obra-prima, talvez.<br /><br />A tarde ia chegando ao fim. A luz ia tornando-se azulada. Eu escrevia na sala. Ela lia um livro amarelo deitada na cama. Porta do quarto fechada. Eu ouvia música. Ela precisava de silêncio. Coisa engraçada, sendo que o silencioso da relação sempre fora eu.<br /><br />Eu havia lido uma história sobre uma menina morta durante o dia. Ela assistira animes & organizara papéis. Um casal quase perfeito. Algumas horas de sexo de manhã, uma transa rápida à tarde. Poucas palavras trocadas durante o dia. <span style="font-style: italic;">Sobre o que é o livro que tu tá lendo? Sobre uma menina morta. Ah...</span> Um casal quase perfeito.<br /><br />A noite ia caindo. Mosquitos entrando pela janela aberta. A primavera de quarenta graus abafados de Porto Alegre. Eu escrevendo na sala. Ela lendo no quarto. Porta fechada. Um casal quase perfeito...Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-50267913617516187652010-01-06T02:45:00.001-02:002010-01-06T02:46:49.415-02:00Sobre antigüidade e atemporalidade (da série "Estéticos")Uma antiga casa de campo. Com uma mulher igualmente antiga perdida dentro dela. As janelas abertas. O vento cheio de folhas espantando o mofo escondido pelos cantos. Uma mulher no fim da vida em uma casa que não acabaria nunca. Ambas feitas de lembranças – a mulher e a casa. Um vazio imenso, a ausência de qualquer pessoa outra por séculos, milênios; e todo este vazio preenchido por tudo o que já acontecera, todos os tempos passados passeando ao mesmo tempo pela casa, dançando com aquela mulher que não era mais ela, mas sim muitas, todas as mulheres que ela já fora, todas ao mesmo tempo, toda uma vida acontecendo naquela casa vazia, naquela mulher esvaziada pelo tempo. A imortalidade. O atemporal. A memória. As ilusões reais e a realidade falsa. Uma velha mulher em uma velha casa de campo. Para sempre.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-2423294415273665762010-01-06T02:44:00.001-02:002010-01-06T02:44:58.634-02:00Universo (da série "Estéticos")Talvez eu esteja morrendo. Amanhã não me lembrarei de nada. Apenas a taça de vinho ao meu lado. O som da minha respiração pesada. Borges segurando minha mão. As desilusões; as decepções; as mortes. E o silêncio. A irrealidade. E a saudade. A falta. As lembranças. Amor. A caneta quase vazia. Tudo. O mundo; o universo; o oceano. Tudo o que é infinito. E eu; também infinito. E Astérion. E as casas vazias. E os sonhos. E as esperanças. E as ilusões. E as mortes (salvações?). Tudo. Nada. Caos. Pensamento. O agir incessante e inútil contra a ordem das coisas. A tragédia. O vinho. A escuridão.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-7115610443750264392010-01-06T02:37:00.003-02:002010-01-06T02:42:08.345-02:00Ménage à trois - Capítulo IEu disse que ficaria com as duas, na mesma cama, ao mesmo tempo – pelo menos enquanto me interessasse. A loura riu e desdenhou.<br /><br />– Tu acha mesmo que podes com nós duas? Eu duvido muito.<br /><br />No fundo eu também duvidava. Andava meio broxa, bebendo demais e com dificuldades em sentir tesão. O problema é que para mim o tesão deixara de ser uma coisa meramente física. Era um conjunto de sensações que exigia um conjunto de interesses, e vinha andando muito exigente nos últimos tempos.<br /><br />A ruiva falava sozinha no outro sofá:<br /><br />– Sexo é sempre sexo. Sempre aquela mesma coisa suada e vazia. Só mais uma fuga. Só mais uma fuga...<br /><br />Parecia não se importar com o fato de eu e a loura também estarmos ali. E, de fato, não se importava. Não se importava com ninguém além de si mesma. Aliás, creio que este era o grande ponto em comum entre nós três, nossa ligação secreta: não nos importávamos com mais ninguém. Éramos egocêntricos e narcisistas. Ah, e como éramos lindos isolados na nossa torre de marfim. Uma versão ao contrário dos Sonhadores de Bertollucci, mas com o mesmo espírito, aquele ensimesmamento absoluto que nos tornava tão diferentes, tão melhores, tão sagrados.<br /><br />O mundo lá fora não tinha a menor importância. A noite corria solta. Vinhos caros espalhados pela sala. Música clássica ecoando por corredores vazios. A ruiva imersa em si mesma tendo pena do mundo, da vida e dela própria. A loura tentando ferir alguém a qualquer custo, azeda, ácida, irônica, sarcástica; necessitava ferir alguém – nem que fosse a si própria. E eu ali, no meio de duas lindas mulheres, pensando em sexo, pensando em levá-las para a cama. Não, na verdade não era isso. Eu buscava uma paixão. Eu necessitava, desesperadamente, me apaixonar. Precisava de algo que fizesse o meu coração bater mais forte outra vez; precisava sugar a força vital de outra pessoa, pois a minha já acabara. Usando uma expressão do Juliano Guerra, eu queria me entregar a um deslumbramento, qualquer que fosse, só precisava ser intenso. E aquelas duas mulheres ali, lindas, caóticas, confusas, doloridas, machucadas, juntas, eram mais do que eu poderia sonhar. Eu precisava possuí-las, não necessariamente pelo sexo, mas pela paixão. Eu precisava sugar a sua força vital, nem que fosse pelas suas bocetas.<br /><br />A loura comentou alguma coisa sobre Godard, Le Mepris, Brigitte Bardot. Ela sempre necessitando provar o quão genial e bela era, sempre necessitando expor aos quatro ventos seus conhecimentos sobre cinema autoral, literaturas raras e filosofia clássica. Na verdade, ela era uma farsa. Não que os seus conhecimentos fossem falsos, muito pelo contrário: eles eram admiráveis e encantadores. Mas ela não os adquiriu para si mesma, para seu gozo e deleite; ela adquiriu-os para mostrá-los, exibi-los, para provar aos outros que ela valia a pena, que ela era boa em algo. Isso fazia dela uma farsa, e me fazia pensar que ela realmente não devia valer a pena.<br /><br />A ruiva continuava ensimesmada. Às vezes dizia alguns comentários soltos, pensando alto, falando sozinha, coisas como “a vida não vale a pena ou eu que não sou suficientemente boa para conseguir vivê-la?”. Ela era mais existencialista que a loura, embora a outra se considerasse filha de Jean-Paul e Simone. Eu queria as duas juntas, mas era muito difícil estabelecer uma ligação entre elas. No fundo, elas se odiavam. Creio que ambas me queriam só para si, enquanto eu queria as duas para mim – ao mesmo tempo. Era um tipo de relação que estava fadada ao sofrimento. Era um enigma sem solução. O equilíbrio entre nós três era impossível. Mas eu queria.<br /><br />A loura veio sentar-se ao meu lado no sofá, enquanto a ruiva continuava distante, rabiscando coisas em um caderno de capa vermelha.<br /><br />A loura só queria me amar, mas era inábil e machucava.<br /><br />– Se você quiser eu posso arranjar um vibrador para todos sairmos satisfeitos do ménage.<br /><br />Eu olhava nos seus olhos. Eram verdes e cheios de medo. Medo de ser recusada, medo de não ser amada. E uma carência absoluta. Se eu esquecesse o corpo de mulher, cheio de curvas, e me concentrasse apenas em seus olhos, eu veria uma criança assustada. Nesses momentos eu tinha vontade de pegá-la no colo e cantar uma cantiga de ninar. Mas ela percebia a ternura – e a pena – nos meus olhos e se retraía violenta. Levantava-se, pegava outra taça de vinho, três goles longos e ininterruptos e soltava mais algum comentário ácido.<br /><br />– Com esse olhar de menininho abandonado tu não vai comer ninguém aqui hoje.<br /><br />Ela sentia pena de si mesma, e sabia que eu percebia. E isso lhe doía profundamente. Não agüentou. Saiu da sala.<br /><br />Concentrei-me então, na ruiva.<br /><br />Ela era linda. Também tinha os olhos verdes. Nos anos posteriores à minha convivência com aquelas duas mulheres, muitas vezes tentei definir qual delas era a mais linda. Confesso que até hoje não sei. As duas eram lindas, uma ruiva e outra loura, e eu as amava.<br /><br />Com uma taça de vinho eu tirei a ruiva de dentro de si mesma. Ela me sorriu surpresa, como se tivesse me encontrado apenas naquele momento, um sorriso que dizia “oi, que bom que tu tá aqui”. Ela era mais silenciosa que a loura. Mais calma e mais serena também. A loura não sabia conviver com os silêncios; irritava-se e logo começava a brigar. Com a ruiva eu sempre tive silêncios confortáveis. Muitas vezes eu passei horas observando-a enquanto ela se perdia em algum deslumbramento interior. Era lindo. Eu podia vê-la caindo bem fundo para dentro de si mesma, e depois escalando lentamente o caminho de volta, até que ela chegava, e me sorria como quem diz “tu ainda estás aí? Que bom.” A presença dela me acalmava. Os olhos verdes dela eram tranqüilos; enquanto os olhos verdes da loura eram inquietos e desconfiados. Dois olhares completamente opostos em olhos praticamente da mesma cor. Eu achava engraçado.<br /><br />Eu e a ruiva permanecíamos em silêncio, a observar-nos mutuamente. A tranqüilidade dela era linda. Não saberia dizer o que ela pensava sobre mim naquela hora. Ela já havia me observado por tantas horas, tantos dias, tantos meses, tantos anos... Eu não saberia dizer se havia sobrado algo para ela descobrir em mim. Mesmo assim ela me observava com calma e com afinco.<br /><br />Historicamente sempre houveram poucas palavras entre nós. Mas ela me compreendia muito melhor do que a loura – que sempre exigiu diálogos longos e exaustivos. Eu e a ruiva apenas no deliciávamos com a presença um do outro. Sorvíamos aquela companhia com o mesmo deleite com que sorvíamos aqueles vinhos franceses. Com a ruiva, sempre os vinhos franceses; com a loura, os chilenos.<br /><br />Não sei quanto tempo se passou – é impossível dizer –, mas a loura voltou à sala.<br /><br />– É muita consideração de vocês não terem começado a “festa” sem mim.<br /><br />O clima do ambiente se alterou totalmente. Era como se nós fôssemos três temperos distintos, e para a comida (a nossa relação, convivência) ficar boa era necessário a dose exata de cada um. Caso isso acontecesse, seria um manjar dos deuses. Mas se as dosagens fossem erradas viraria lavagem para porcos.<br /><br />Era quase impossível acertar a mão.<br /><br />A loura trocava os canais freneticamente, procurando uma forma empírica de demonstrar toda a sua linda cultura, o seu valor, a sua presença magnífica. Por fim encontrou Gritos & Sussurros, do Bergman, e começou a discorrer sobre a genialidade da fotografia de Sven Nykvist. Eu e a ruiva permanecíamos em silêncio. Nós já conhecíamos Bergman, Sven e a loura. Por fim, ela desligou a tv e calou-se. Aquele era um momento crítico da noite.<br /><br />Era ali que seria decidido o nosso futuro, o que aconteceria posteriormente – naquela noite e pelo resto da vida.<br /><br />A ruiva disse:<br /><br />– Acho que nós deveríamos ir para a cama.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-53317617885287530362009-10-16T01:07:00.001-03:002009-10-16T01:14:00.258-03:00O Escritor & o Psicólogo– Eu a amo.<br /><br /> Ele analisava. Pose típica de psicólogo. Mão no queixo. Pernas cruzadas. Óculos abaixo da posição correta. Fala pausada.<br /><br /> – Então por que tu não segues em frente?<br /><br /> Uma provocação. Era assim que ele trabalhava. E eu sabia. Percebia claramente a provocação e seus objetivos. Antecipava a sua análise.<br /><br /> – Pra mim o sexo e o amor sempre foram duas coisas quase opostas, antagônicas. É assustador ver a possibilidade de conciliá-los na mesma mulher.<br /><br /> Era verdade. Eu tinha medo. O sexo vazio era seguro e fácil. Eu o dominava. Eu as dominava. Não tinha nada a temer. Quanto ao amor, eu já havia desistido dele há tanto tempo que nem lembrava mais. Tanto que, quando eu a amei, não soube se já havia sentido aquilo antes, algum dia. Parecia inédito pra mim.<br /><br /> – Mas não é justamente isso que tu procuras? Algo novo? Algo diferente? Algo a mais?<br /><br /> Era. Creio que era. Mas eu tinha medo. Medo do amor. As minhas recordações – remotas – sobre o amor eram de destruição e mágoa. Tragédia. Desesperança. Desilusão. O amor nunca me trouxe nada de bom. E ainda havia aquela certeza, uma premonição absoluta, de que, no momento em que eu me entregasse, ela me abandonaria.<br /><br /> – É. Acho que eu estou em um momento de reconstrução interna. E ela é uma peça chave para que esta reconstrução aconteça.<br /><br /> Mas eu não conseguia vê-la como um objeto – como eu vira todas as outras. Eu a amava – e essa certeza era assustadora.<br /><br /> – Então o que tu tá esperando?! Vai lá, fica com ela! Transa com ela! Te permite amá-la!<br /><br /> Sim, eu queria. Aliás, era o que eu mais queria. Mas não era tão fácil. Eu tinha medo. Eu a conhecia muito bem. Três anos de convivência. Nossa relação era única. Todo aquele desejo contido. Aqueles sorrisos. Aquelas ironias. Aqueles toques sutis. Todo aquele amor desvairado represado por barreiras fracas demais durante todos estes anos. As barreiras se romperam. Não há como manter o controle. E não há como eu explicar isso para ele. Nem para ninguém mais. Apenas eu & ela somos capazes de compreender isso.<br /><br /> – Eu a amo. Sempre a amei. À minha maneira. Creio que a atitude dela com relação a mim é semelhante. Acontece que nós nos conhecemos bem demais e tememos um ao outro. Somos inconstantes...<br /><br /> – Mas o amor de vocês não é constante? Não durou três anos?<br /><br />(Silêncio)<br /><br /> – O meu sim.<br /><br /> Por mais que eu respondesse por ela, não poderia ter certeza. Ela nunca me deu certeza nenhuma. Ela sempre foi uma incógnita na minha vida.<br /><br />(Silêncio)<br /><br /> – Sabe, ela me disse que sabe que eu vou estar no casamento dela – ela quer casar –, mas que também sabe que eu não serei o noivo.<br /><br /> – E?<br /><br /> – Não sei o que pensar disso.<br /><br /> Mentira. Eu sabia bem o que pensar; o que sentir. Machucou-me. Eu gostaria de ser o noivo. Na verdade, eu nunca pensei realmente se gostaria de casar ou não; mas sei que não vou agüentar essa vida de escritor degenerado pra sempre. Já comecei alguns processos de reconstrução interna. Acho que sim. Que eu gostaria de casar-me; ter um casal de filhos... talvez com ela.<br /><br />(Silêncio)<br /><br /> – Tu gostarias de ser o noivo?<br /><br /> – Acho que sim.<br /><br /> – E por que tu não deixas ela saber disso.<br /><br /> – Por que no momento em que ela souber, ela vai me deixar.<br /><br /> Era verdade. Pelo menos era no que eu acreditava.<br /><br /> – E se ela não te deixar?<br /><br /> – Não sei.<br /><br />(Silêncio)<br /><br /> – O que tu esperas dela?<br /><br /> – Amor.<br /><br /> – Como?<br /><br /> – O quê?<br /><br /> – De que forma? Como tu queres que ela demonstre esse amor? Como tu queres que esse amor se realize?<br /><br /> Eu não sabia.<br /><br /> – Talvez em muitas noites de sexo selvagem. Talvez em um casamento com um casal de filhos. Talvez até mesmo em ambos, na simbiose perfeita – nós, que tão ambíguos somos.<br /><br />(Silêncio)<br /><br /> – E por que tu não dizes tudo isso pra ela?<br /><br /> – Porque no momento em que ela souber, eu irei perdê-la.<br /><br /> Era verdade. Eu sabia. Tinha certeza.<br /><br /> – Tu estás te bloqueando. Assim tu nunca vais te permitir viveres nada. Tu estás estagnado.<br /><br /> Eu sabia. Mas eu tinha medo. Muito medo. Depois de muitos anos ela era uma possibilidade de amor, e eu percebia que a perderia antes mesmo desse amor se concretizar. Ela era minha. Sempre fora. Mas na verdade não seria nunca.<br /><br />Eu estava extasiado por amá-la; mas aniquilado pela certeza da tragédia.<br /><br /> – Não importa... nunca importou...<br /><br /> Mentira.<br /><br />(Silêncio)Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-55993942379109739732009-10-15T14:54:00.003-03:002009-10-15T14:56:30.590-03:00A cultura dos incultosPor que, atualmente, as aulas em universidades baseiam os seus conteúdos no ritmo de aprendizado de alunos que não teriam a menor capacidade de estar dentro de uma universidade? Visando elucidar este problema, o presente texto irá apresentar algumas questões para reflexão.<br /><br />Inicialmente, devemos propor-nos a investigar as causas deste fenômeno, que cada vez mais atinge as universidades brasileiras. É possível considerar que o problema advém da necessidade das universidades particulares manterem seus alunos. Os altos preços podem ser pagos apenas por uma pequena parcela da população, sendo que, seria financeiramente inviável para as estas universidades perderem alunos por causa da elevação da qualidade e da exigência em nível acadêmico.<br /><br />Juntamente com estas questões, podem-se incluir as políticas governamentais – que afetam principalmente as universidades públicas. O governo brasileiro precisa mostrar uma evolução no nível de educação da população para os organismos internacionais. Só que está evolução não se dá na qualificação da educação brasileira, e sim no aumento da parcela da população que tem acesso a uma educação formal. Ou seja, as políticas públicas visam quantidade, e não qualidade. Seu interesse é apenas em termos de números e percentuais.<br /><br />Tendo em vista estas duas questões básicas – que podem ser desenvolvidas em inúmeras outras –, não é difícil compreender como o Brasil despeja quantidades absurdas de profissionais mal-preparados no mercado de trabalho todos os anos. A política dos números nas instituições públicas, e a política do dinheiro nas instituições privadas, estão carcomendo a educação brasileira de dentro para fora. O resultado disso poderá ser observado daqui a alguns anos, num cenário em que o Brasil terá grande parcela de sua população com uma “boa” escolarização em termos oficiais, mas que ser revelará como o país da educação oca, da ignorância diplomada.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-46982829667333749232009-10-15T14:54:00.002-03:002009-10-15T14:55:39.590-03:00O Brasil é o país das filasPode-se dizer que o Brasil é o país das filas, e talvez o maior exemplo disso seja a fila do SUS. É por isso que hoje ninguém se surpreende quando uma mulher dá a luz nesta fila, socorrida por passante e ignorada por médicos e enfermeiros.<br /><br />O hospital ali, poucos metros a sua frente, torna-se uma miragem inalcançável na medida em que o sangue vai escorrendo por entre suas pernas. Seu filho vem ao mundo como uma prova da caridade humana, dependendo da boa vontade de passantes despreparados para nascer. Como um Jesus Cristo da pós-modernidade, ele grita alto em alguma rua suja e fétida deste imenso país, mas logo é sufocado pela poluição e pelas buzinas de algum trânsito caótico.<br /><br />Depois do parto já realizado, provavelmente a fila do SUS humanizou-se um pouco – não por atitude dos médicos, sempre encastelados nos seus uniformes brancos de semi-deuses, mas através da atitude das mesmas pessoas corajosas e de boa vontade que ajudaram uma desconhecida a parir no meio da rua.<br /><br />O Brasil é o país das filas, e a fila do SUS é provavelmente o melhor exemplo disso. Mas quando uma mulher dá a luz em uma calçada suja, no meio dessa fila, nós percebemos o quão lindo e horrível é o Brasil em que vivemos.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-51044050498458613162009-10-15T14:54:00.001-03:002009-10-15T14:54:52.723-03:00Dia cotidianoNa Porto Alegre suja e poluída do século XXI é possível passar por mendigos bêbados, enxames de grevistas, assaltantes que não temem a luz do dia e trapos humanos com cachimbos de crack. Pode-se ver tudo isso nos poucos metros que um ônibus velho consegue percorrer no trânsito caótico desta cidade em um dia de chuva. As pichações se confundem com o cheiro de esgoto e com a multidão de desconhecidos, que parecem sem rosto sob a garoa fina.<br /><br />É por este contexto caótico que um estudante tem que passar todos os dias ao se dirigir do centro à PUCRS. Uma realidade de misérias humana variadas passa lenta pela janela, enquanto no meio do congestionamento eu ouço Gardel no mp4 e penso no café com baunilha que me espera na PUCRS.<br /><br />Confesso, nunca gostei de escrever crônicas. Sempre fui criticado pela minha falta de consciência social. A miséria nunca me comoveu. Mas o que me incomoda neste trajeto diário é a feiúra. Como escritor, sempre me guiei pelo instinto de beleza; sempre procurei ver a arte no cotidiano. Mas isso parece impossível em dias de chuva, preso no trânsito caótico, em uma cidade suja, podendo ver apenas a miséria pela janela.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-15612165576969233832009-10-08T01:47:00.002-03:002009-10-08T01:53:11.228-03:00ChuvaEra uma manhã cinzenta. Ele se remexia na cama, embaixo de três pesados edredons coloridos que o sufocavam. A televisão sem som já não tinha mais serventia, pois o dia já havia clareado. Escutava os pingos de chuva batendo na janela, e a claridade que invada o quarto era cinzenta. As costas doíam-lhe. Não encontrava mais posição para permanecer deitado – há quantas horas já estaria dormindo? Levantou-se e foi até o banheiro. Sempre o mesmo ritual ao acordar. Mijou, lavou as mãos, lavou o rosto, escovou os dentes, olhou-se no espelho. Cara inchada, expressão cansada, olheiras. Não importava o quanto dormisse, parecia estar sempre muito cansado, acabado. Era como se tivesse uma ressaca permanente, mesmo sem beber – uma ressaca de respirar.<br /><br />Passou margarina em dois cacetinhos de três dias e colocou-os no microondas. Comeu-os rápido, antes que virassem pedra. Passava um pouco das dez da manhã. Sentou-se em frente ao notebook. Orkut, twitter, gmail, blog. Amigos virtuais. Os reais, de carne e osso, estavam longe há séculos. Às vezes, em algum momento de lucidez, perguntava-se se eles realmente existiram.<br /><br />Detestava a televisão. Ficar como um autômato sentado em frente a um gordo qualquer em um domingo chuvoso. Mas as horas que negava à tv, dava quase inconscientemente ao computador. Um outro tipo de automatismo, mais disfarçado, mais sutil, mais culto, mais bonito. Ninguém poderia criticá-lo por estar em frente ao computador – todos estavam. E as horas se esgotavam.<br /><br />A chuva, o frio, a conexão ruim da internet esgotavam-no. Não sabia se o dia ia realmente escurecendo. Essas tardes chuvosas pareciam-lhe atemporais. Buscava uma distração ou outra no notebook já velho e com o hd esgotado. Assistia os mesmos filmes pela décima-sétima vez. Colocava um tango dolorido para tocar. Revia velhas fotos. Relia velhos textos. Deparava-se com o inexorável e inesgotável Paciência Spider. A noite já era escura.<br /><br />Novamente embaixo de três edredons coloridos e pesados. O cheiro forte do seu suor já velho nos lençóis que não eram trocados quase nunca. Tinha uma pequena lâmina, fragmento de gilete quebrada a muito custo no banheiro, apertada entre o polegar e o indicador. Apenas sua cabeça permanecia do lado de fora dos edredons, e agora a televisão sem som cumpria a sua função de espantar a escuridão em tons mórbidos e desbotados de azul.<br /><br />Ele pensava: solidão solidão e mais solidão há quantos anos essa solidão por que ninguém nunca conseguiu se aproximar de mim por que eu nunca consegui me aproximar de ninguém e de que me vale essa vida vazia desregrada de bebedeiras e transas com mulheres estranhas em bares infectos ninguém se importa comigo de verdade ninguém vai realmente sentir falta se eu morrer vão chorar um pouco no enterro para não ficar feio mas no fundo vão se sentir aliviados talvez os meus avós minha mãe minha irmã realmente sintam o resto não o resto nada eu sou nada para eles ai doeu merda não tenho coordenação pra cortar com a esquerda como escorre rápido nem parece vermelho com essa luz da tv será que vai encharcar os lençóis o colchão os três edredons duvido que tenha sangue para tanto é uma sensação engraçada estranha da uma agonia mas não dói é só sentir o sangue saindo saindo saindo e saber que daqui a pouco não vai restar nenhuma gota sinto saudades da minha irmã gostaria de ter me despedido dela e da minha mãe e dos meus avós meu pai também morreu sem se despedir de mim quinze anos de abandono antes dele morrer desgraçado tô ficando cansado com sono será que isso é morrer não consigo mais pensar direito articular as frases direito na minha cabeça vou dormir um pouco só tirar um cochilo embora eu saiba que não é um cochilo e que eu não vou acordar nunca mais.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-34967049684822718392009-10-02T02:49:00.004-03:002009-10-02T02:57:02.504-03:00Tarde de AgostoLargou a navalha e olhou-se no espelho. Olheiras fundas; expressão cansada. Restos de espuma no pescoço. Há tempos deixara de ser cuidadoso ao barbear-se. Há tempos deixara de ser cuidadoso em várias coisas.<br /><br />Entrou no banho. Água quente sobre a pele. Vapor entorpecendo-o. A ducha quente sempre clareava suas idéias; parecia espantar o cansaço – pelo menos por uma meia hora.<br /><br />Lavou o cabelo duas vezes, perdido, alienado. Não se dava conta da realidade. O vapor brumoso do pequeno box parecia transportá-lo para outro mundo. Não pensava; não sentia. Apenas ficava imerso na umidade quente, turva.<br /><br />Desligou o chuveiro; vestiu-se; saiu para a rua. A garoa fria; os sons agudos; a poluição suja que não se deixava lavar; as imagens do centro imundo de Porto Alegre. Tudo isso o agrediu de uma forma tão violenta que ele chegou a dar dois passos, de costas, para dentro do prédio. A ilusão do banho havia acabado. Ele engoliu a seco e saiu novamente.<br /><br />O vento e a garoa fina encharcavam o sobretudo e o chapéu de feltro. O dia era nublado, cinzento; e ele ia todo de negro pelo meio da multidão multicolorida, que o atacava com guarda-chuvas afiados e olhares de reprovação e susto. Realmente, mesmo limpo e – mal – barbeado, sua figura não era das melhores. As olheiras, a expressão cansada. Alguma coisa agressiva e triste naquele olhar. E ele ia indo pelo meio da chuva.<br /><br />Entrou em um café e sentou-se em uma mesa ao fundo. Largou o chapéu e o sobretudo encharcado sobre uma cadeira. Abriu o casaco. O ambiente abafado do lugar o sufocava. Ela observava-o com curiosidade. Apenas quando acabou de acomodar-se e habituar-se ao lugar, ele olhou-a e disse:<br /><br />– Oi.<br /><br />– Oi. – Ela lhe respondeu sorrindo.<br /><br />Ele sorriu também. Eram cúmplices. Amantes; amigos; tudo. Eram tudo um para o outro – o mundo – e nada mais importava.<br /><br />Dois capuccinos sem chantilly. Planos para ir ao teatro, ao cinema, à livraria. Uma harmonia cálida com cheiro de café. No fundo, não havia necessidade de palavras entre eles. Já haviam se dito tudo anos atrás. Já apaixonaram-se; amaram-se; odiaram-se. E o que restou? Restaram os dois, em um café no centro de Porto Alegre, em uma tarde cinzenta e chuvosa de agosto.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-67056545305218936232009-09-08T02:20:00.002-03:002009-09-08T02:24:25.078-03:00episódio ilustrativo sobre a incompreensãoTalvez ela só quisesse a minha ajuda. Talvez essa fosse a sua forma, assim meio torpe, driblando o orgulho, dissimulando, talvez fosse a sua forma de me pedir ajuda. Mas eu não a ajudei. Sequer acreditei nela. Já não acreditava no tipo humano há tempos. Aos meus olhos ela fingia, dissimulava, encenava. E eu não tinha mais paciência para encenações. Abandonei-a à própria sorte. Ignorei-a. O resultado foi trágico. Dramático. Sem todo aquele sangue vermelho, <span style="font-style: italic;">cores de Almodóvar</span>, mas quase com o mesmo efeito. Sedativos variados, um coquetel multicolorido, uma overdose. E um pedido de ajuda silencioso ecoando na memória.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-70929588179282643102009-09-04T02:37:00.001-03:002009-09-04T02:44:12.907-03:00Amor (ou Com Toda A Calma Do Mundo)Andava. Simplesmente caminhava pela rua, sem rumo e sem destino. Chovia. Incessantemente. Pés encharcados, corpo gelado. Pensamento longe. Tentava compreender. Era uma busca, uma jornada interior. Afundava-se em si mesmo cada vez mais, até que o mundo exterior simplesmente deixasse de existir. Não conseguia chegar a um ponto de raciocínio claro; estava confuso e perdido. E ia indo pelo meio da chuva. Pensava que talvez, possivelmente, pudesse haver um meio, que deveria haver alguma forma de redenção, de purificação. Pensava que talvez ele não fosse tão ruim, não fosse tão mau, que talvez pudesse alcançar o reino dos céus ou uma tarde sossegada ou uma torta de maçã. Tinha de haver um jeito. Finalmente chegou em frente a uma porta. Tocou o interfone; voz de mulher o mandou subir. Ele pensava em torta de maçã quando ela abriu a porta. Cumprimentaram-se. Calorosamente, amorosamente, aquela intimidade gostosa e quente de quem já dormiu muitas noites juntos. Ele sentou-se no sofá tirando tênis e jaqueta molhada, enquanto ela lhe estendia uma toalha dizendo qualquer coisa como você-é-maluco-de-sair-andando-pelo-meio-da-cidade-numa-chuva-dessas-vai-pegar-uma-gripe-você-não-se-cuida-seu-louco. Ele ainda pensava na torta de maçã, tarde sossegada, reino dos céus. Vagamente sorriu. Eles sempre foram cúmplices velados, palavras eram desimportantes. Estavam os dois ali, na mesma sala, e havia uma aura de calor entre eles. Ela lhe entregou uma xícara de chá quente e desatou a falar coisas desordenadas e desimportantes. Você-viu-a-crise-no-senado; que-horror-essa-gripe-suína; tem-visto-a-novela-das-oito; parece-que-a-economia-está-se-recuperando. Ele murmurava baixinho reino dos céus, redenção, inferno, perdido. Nunca fora muito religioso, o reino dos céus que buscava era mais como algo filosófico, uma paz interior, um descanso para sua mente atormentada. Tirou as roupas molhadas, vestiu pijama de pelúcia cor-de-rosa com coelhinho na frente, enrolou-se em um cobertor quente e macio e tomou o chá. Reino dos céus, pensou. Ela parecia haver se acalmado; matado a primeira fome de uma companhia outra, que não fosse ela mesma. Agora olhava-o quieta, com olhos grandes de uma curiosidade calma. Ela compreendia que ele lhe contaria tudo; talvez levasse uma noite inteira, talvez uma semana, mas ele se desvelaria para ela, talvez até chorasse, e ela o consolaria, e então, exaustos, iriam dormir, na mesma cama, calor gostoso entre eles, compreensão mútua, talvez se amassem, mas seria tudo calmo e plácido, porque a época de angústias e ânsias entre eles já passara há muito. Ele continuava pensativo. Mas aos poucos foi falando, meio que para si mesmo, como num monólogo. Sabia que ela estava ali, mas também sabia que não havia nenhuma necessidade de interagir com ela, bastava pensar alto, que ela o ouviria, o compreenderia, o consolaria, e talvez até o amasse, um amor quente, carinhoso, quase como se ama uma criança; ele era a criança que havia se machucado, e ela lhe daria colo, secaria suas lágrimas, diria que está tudo bem e o amaria com um sorriso cálido. Ele estava exausto de tantas buscas, tantas desilusões, tanto horror cotidiano. Ela o observava plácida e terna, como uma deusa que em silencio se comove com as angústias mortais. Tentava aliviar o peso dele apenas com sua presença. E ele contava contava contava, deitado no colo dela, adormecido, continuava contando em sonhos, contava-lhe seus pesadelos, e ela se compadecia dele. Tinha impressão que ele continuaria a se revelar para ela mesmo depois da morte. Quando ele se calou ela ajudou-o a ir para a cama, sussurros leves, vem-levanta-vamos-pra-cama-tu-vai-ficar-todo-torto-dormindo-nesse-sofá. Deitaram-se, como sempre, aquela cama já tão familiar aos dois, os corpos um do outro já tão familiares, os cheiros, os gostos, os sons. Suas almas já estavam tão fundidas que seria impossível separá-las. Por fim, dormiram, como tantas vezes já haviam dormido, como tantas vezes ainda haveria de dormir. Com toda a calma do mundo.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-36586567354317386232009-08-22T08:12:00.002-03:002009-08-22T08:16:33.183-03:00InevitabilidadeCreio que somos uma inevitabilidade, eu e ela. I-ne-vi-ta-bi-li-da-de. Uma hora ou outra, vamos nos encontrar pelo meio desses nossos caminhos inventados. Encontrar-nos, eu digo, no sentido mais filosófico da coisa – como sempre foi conosco. Palavras distantes, olhos azuis, gatilhos imaginários. E uma infinidade de coisas sem explicação que não fariam e nunca farão sentido para qualquer pessoa outra. É como um mundo paralelo, só nosso, que já esteve à beira do apocalipse muitas vezes. Mas de catarse em catarse, eu percebi que somos meio interdependentes. À nossa maneira – como sempre, tão estranha. As distâncias, os conflitos, tudo o que aparentemente nos afasta um do outro, forma uma espécie de equilíbrio perfeito. Num conceito quase divino de perfeição – tão próprio para nós, que sempre fomos semi-deuses.<br /><br /> Entenda, é complicado tentar descrever, ou mesmo compreender essa nossa relação. É como entrar em um labirinto sem fim. Cada caminho nos leva a um lugar diferente, e os caminhos são infinitos – embora todos acabem em becos sem saída. O que eu tento fazer aqui é um exercício de auto-conhecimento, de conhecimento dela – nós, que sempre fomos tão difusos, que perdemos os contornos fixos quando estamos um perto do outro. Ela, sempre minha inspiração, meu ideal de divindade neste mundo podre, meu duplo, sol, eu que sempre estive perdido na escuridão por vontade própria.<br /><br /> Acho que isso que vivemos agora é apenas mais uma fase, mais um processo, mais um caminho no labirinto. Repito: nós somos uma inevitabilidade. Quer gostemos disso ou não. Nossas almas estão ligadas a nível inconsciente, e esse ligação não será quebrada por nossa vontade ou capricho. I-ne-vi-ta-bi-li-da-de. Nós, que sempre nos orgulhamos de sermos donos dos nossos destinos, aqui nos tornamos escravos dos mesmos. Eu, particularmente, não acho tão ruim. Eu não tenho nada a perder. Mas para ela é uma escolha. Talvez, uma <span style="font-style: italic;">escolha sem escolha</span>.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-81481370770739906722009-08-21T04:51:00.001-03:002009-08-21T04:53:07.579-03:00Dia de ChuvaVisitei as ruínas do antigo colégio hoje. O que restou da minha infância, da minha adolescência. O dia combinava perfeitamente com a melancolia exigida para tal ato. Dia cinza, nublado, chuvoso. Eu ia indo pelo meio da chuva, sem guarda-chuva nem capa, apenas uma camisa de flanela tentando me proteger da água gelada que caía do céu. Ato masoquista, muitos diriam, mas eu continuava indo, não me importava, queria aquela dor pra mim. Eu necessitava das lembranças, e sabia que a dor invariavelmente viria junto. A dor da perda. Da perda daquele tempo, daquelas emoções, daquela pessoa que eu fui um dia. A perda de tudo me doía no meio da chuva, e eu ainda nem havia chegado.<br /><br /> Ao lado do velho colégio havia uma catedral. Neste sábado chuvoso e frio de inverno, suas sólidas portas de madeira nobre – importadas da Alemanha – encontravam-se cerradas. Eu olhava fixo para as portas cerradas, parado no meio da chuva. Era como se minha vida fosse uma eterna chuva, e todas as portas estivessem cerradas. Todas elas feitas de madeira nobre, escura e muito dura, e minhas mãos ensangüentadas, ossos quebrados de tanto bater em vão.<br /><br /> Adentrei no colégio. Não era mais o mesmo. Aquelas placas de acrílico, aquela pintura nova em cores berrantes, aquelas grades. Nada daquilo fazia parte do colégio da minha infância. Nada daquilo era meu. Eu era um estranho ali, e sentia aquele lugar me expulsando. Um “vá embora” sussurrado pelo vento nos corredores gelados, antes tão familiares, agora tão estranhos. Andei andei andei, andei centenas de quilômetros, andei até o infinito, e não reconheci nada. O meu colégio não existia mais; aquele que ali estava era outro. O choque da realidade deixou-me zonzo. Não sabia o que pensar. Não sabia o que sentir. Fui embora.<br /><br /> De volta à chuva fria, portas cerradas, sangue, ossos, desespero, desamparo. De volta ao nada, ao vazio, à minha vida. E agora com a certeza excruciante de que um dia a minha memória irá se apagar, e os lugares e pessoas que hoje apenas ali existem, enfim morrerão. E eu morrerei com eles.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-29172372519709505602009-08-13T03:06:00.000-03:002009-08-13T03:07:24.710-03:00dia frio.Busco combater a minha solidão metropolitana em cafés. Observo as outras pessoas conversando e intimamente desejo ser uma delas. Mas estou sozinho.<br /><br />Hoje cortaram a minha luz. Esqueci completamente da luz quando fiz a mudança. Eu nunca fui muito bom com estas questões práticas da vida. Sempre alienado – é o que me dizem.<br /><br />É final de julho e o inverno parece ter atingido o seu máximo esplendor. O frio enregelante castiga a boca e os olhos. O clima paranóico de medo da gripe suína paira no ar. A vida segue.<br /><br />Pessoas entram e saem do café. Ninguém presta atenção em mim. Mas eu continuo aqui, ansiando desesperado por qualquer contato humano, qualquer um que se compadeça de mim e sente ao meu lado para ouvir minhas histórias. Ou para me contar histórias, eu sempre gostei tanto de ouvi-las – quanto mais fantástica melhor.<br /><br />Permaneço sozinho no café, esperando um olhar, um sorriso, um abraço – mesmo com a gripe suína. Mas ninguém ouve o meu grito silencioso; ninguém presta atenção no meu desespero.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-50825898170115450612009-08-13T02:45:00.002-03:002009-08-13T02:50:03.626-03:00Considerações de Vila TamanduáA chama da vela dança. Chove torrencialmente lá fora. A noite não é tão fria quanto deveria ser nesta época do ano. O espelho me encara na penumbra. Fica difícil escrever. A luz bruxuleante da vela projeta a sombra da minha mão sobre as palavras. Eu lembro de livros e filmes. Lembro de amores. De desamores. Tenho pena de mim mesmo na escuridão. E chove lá fora.<br /><br />Aqui sempre foi um local muito propício para escrever. O isolamento, a alienação. É como se este lugar me permitisse olhar para a minha vida de fora pra dentro; olhar para mim mesmo de fora pra dentro. Há certas conclusões às quais eu só consigo chegar quando estou aqui, longe do mundo, longe de tudo, longe de todos, longe da minha vida, longe de mim mesmo... E muito mais perto da minha verdadeira literatura.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-14243769124285493742009-08-13T02:26:00.001-03:002009-08-13T02:28:54.833-03:00Um post caótico sobre cupins e sentimentos confusosAngústia. Não; angústia não. Agonia. Tenho por mim que agonia é a melhor descrição para este tipo de sentimento. Agonia. É algo que impede a vida de seguir o seu curso; é algo que me impede de seguir o meu próprio curso. Agonia. Pura como a loucura.<br /><br />Sou apenas um homem entediado com minha vida comum. Apenas mais uma vítima da agonia. Apenas mais um. Mas ao contrário de menininhas bulímicas, eu escrevo, vomito no papel. Mas a agonia é a mesma, eu garanto. Aquela mesma esperança vazia de ter tanta coisa bonita pra viver, mesmo tendo a certeza de que isso nunca acontecerá.<br /><br />O que me restou foram os meus livros; o meu vômito. São tantas culpas de coisas não vividas, de covardias e medos. Tantas angústias e agonias por não conseguir ser quem eu quero ser; e eu quero tanto, preciso desesperadamente deste eu que não vem, que não desenvolve, que não desabrocha. Tento mil e uma artimanhas para enganar a mim mesmo, fingir ser o grande homem que não sou, esquecer esta mediocridade eterna em que estou imerso. Quase sempre funciona. O problema é quando o quase não dá certo, quando não é o suficiente. Dar-se conta da sua própria mediocridade é o pior dos abismos, a pior das torturas – Salieri que o diga (que Hades o tenha).<br /><br />Pra mim a mediocridade é como cupim. Passei anos envernizando a minha linda superfície amadeirada, formada através dos melhores livros & filmes, com um toque de sândalo para completar. Enquanto isso o meu interior foi ficando cada vez mais carcomido, oco, inutilizado. Infestado de cupins. Até dei nome para alguns – os mais familiares. Há a Tristeza; a Melancolia; a Depressão; o Suicídio; o Caos; a Desesperança; a Ilusão. A Esperança; o Carinho; a Amizade; o Amor. Todos cupins de estimação – alguns gordos e roliços; outros decrépitos e semi-mortos. Mas acho que o principal cupim dentro de mim é a Soberba. A Soberba e a Indiferença são rainhas absolutas dentro do meu interior podre e carcomido. Não há dúvidas. É inegável. Uma hora o verniz vai cair, a pintura vai descascar, e o cupinzeiro inteiro vai ruir, com seus cupins correndo desesperados pelo chão, sendo esmagados um a um por transeuntes indiferentes, até não restar nenhum.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-71283079874151478882009-07-03T06:26:00.003-03:002009-07-03T06:29:20.107-03:00sobre o amorSentir o ar da cidade, sentir a cidade respirando. A cidade é um organismo vivo, que pulsa. Ouvir os sons, o tique-taque do relógio, e eu aqui, observando a cidade de dentro pra fora, de fora pra dentro, escondido por trás do vidro da janela. Observando as pessoas a caminhar, a cidade a pulsar, sem saber ao certo quem sou, o que vai acontecer, o que devo fazer. Sem saber nada, como alguém que se descobre cego de repente e sai tateando, procurando, em meio à escuridão e ao desespero, tomado de perplexidade.<br /><br /> A condição humana é triste. Isso é um fato inegável. Quanto mais eu penso, mais me dou conta disso. O que significa ser humano, além de dor e sofrimento? Amor? Amor é ilusão. Provavelmente a maior das ilusões. Uma ilusão divina, presente dos deuses para aplacar a tristeza de nossas vidas miseráveis. Nós, como seres humanos, somos incapazes de amar. Não amamos nem a nós mesmos. Idolatramo-nos junto com os nossos deuses – geralmente nos idolatramos mais do que aos nossos deuses –, e tudo isso pra quê? Pra nada. No fundo é tudo ilusão, quimera mágica que escorre pelos dedos tal qual areia; assim como o amor. Eterno amor. Impossível amor. Ilusão suprema dos pobres mortais.<br /><br /> Engraçado. Fazia tempo que eu não pensava sobre o amor, que eu não escrevia sobre o amor. A descrença suplantou o amor que havia em mim há muito tempo. E não seria tudo a mesma coisa? A descrença. O amor. Tudo ilusão? Apenas caricaturas de percepções vagas. Apenas tentativas, que nem sempre são tão válidas assim. Tentativas vãs de escapar da dor e do sofrimento que significa ser humano. Sim, pois tal qual o amor, a descrença também é uma tentativa de salvação. Tentativa daqueles que acreditaram demais, e presenciaram toda a maldade e crueldade humana na pele, no sangue, no coração. A minha descrença me salva, me protege, me ilumina até. Torna-me sagrado e especial em meio ao mundo cinzento em que vivemos. Dá-me novas percepções, me permite ir além. A minha descrença é a minha salvação – minha ilusão. Quanto aos outros, que fiquem com o amor – ilusão mais imperfeita e fugidia do que todas as outras. O eterno amor. A elevação sublime da condição humana, o dom dos deuses, que vislumbramos mas nos é negado a cada tentativa vã, a cada pedido desesperado, a cada coração dilacerado. O amor, dom dos deuses, que a nós, humanos e mortais, só faz sofrer.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4057466891393808952.post-41868509291040448212009-07-03T04:44:00.001-03:002009-07-03T04:45:23.841-03:00sobre a descrença & minhas duas mulheresÀs vezes eu me pego pensando “por que eu não consigo me envolver? Por que eu não consigo amar alguém? Por que eu não consigo me apaixonar?” O motivo essencial, creio eu, é a descrença. Muitas decepções ao longo da vida, o coração calejado. Fica difícil acreditar em tudo o que já se perdeu, em todas as ilusões – sejam passadas ou futuras. Mas além da descrença, eu vejo dois motivos secundários, duas razões/situações que me impedem de me envolver – me entregar? – com outra pessoa.<br /><br />A primeira delas é uma eterna relação mal-resolvida que, entre idas e vindas, já dura lá seus dois anos e pouco. Para mim, seria a relação perfeita, se não fosse por um pequeno detalhe: eu não sou apaixonado por ela. Poderia até dizer que a amo, e isso talvez fosse verdade; mas não sou apaixonado por ela. Temos uma convivência harmônica – o que comigo é quase impossível –, e em alguns momentos ela até ajuda a balancear o meu frágil equilíbrio. Só não há paixão. A relação (quase) perfeita.<br /><br />A outra razão/situação – não menos importante – é o eterno fantasma da mulher perfeita. Da mulher perfeita pra mim. Fantasma esse que me assombra há, creio eu, uns dois anos e pouco, quase três. Sempre ali, como uma possibilidade, como uma presença, como uma ausência, como poesia. O drama sangrento em cores vivas no meio da minha vida cinza e vazia. Tudo o que eu sonhei pra mim – eu que odeio clichês. O fantasma da mulher perfeita, sempre bailando a uma distância segura. Sempre em meus pensamentos; sempre em meus sentimentos – hoje tão raros.<br /><br />Não sei exatamente à que conclusão chegar. Não sei o que pensar da minha descrença no amor e destas duas situações paralelas. A única certeza que eu tenho é a de que enquanto estas situações não se resolverem, eu serei incapaz de me apaixonar novamente. E quanto à descrença... bem, a descrença, creio eu, é insolúvel. Ou quase.Ryan Mainardihttp://www.blogger.com/profile/03584545245045467880noreply@blogger.com1