terça-feira, 30 de setembro de 2008

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De volta ao lar.



Por enquanto.

sábado, 13 de setembro de 2008

Diário de Viagem - Parte VII

13/Set (16º Dia)
Os últimos dias em Buenos Aires têm sido tediosos. Já vimos tudo o que havia para ver, não há mais novidades.
Permanecemos a maior parte do tempo em nosso albergue, comendo batatinhas-fritas.
Estou lendo “On The Road”, do Jack Kerouac – realmente, nada mais propício – que sem dúvidas é o melhor livro de todos os tempos. Estou escrevendo muito e finalizando os originais do meu primeiro livro.
No mais, acho que estou engordando, e aqui faz muito frio.

A Maçã

Foi um estremecimento moral, existencial e até mesmo físico. Não sei explicar exatamente o que houve. A vida parecia normal. Um dia qualquer, um dia comum. Mas aí aconteceu. Eu não podia acreditar, eu não podia entender. Aquilo não fazia sentido na minha cabeça – na verdade, acho que não faz sentido até hoje. Eu nunca entendi bem o que realmente aconteceu naquela noite. Estávamos todos lá, era uma noite de outono, fria, porém agradável. Ninguém poderia esperar algo assim. Na verdade, eu acho que ninguém notou. E como poderiam notar? Foi tudo tão bem executado. O destino caprichosamente preparou cada detalhe. A noite, o vinho, as pessoas. E aquele caos entrando em ebulição secretamente, panela de pressão pronta para explodir no meio do berçário. E os bebês dormiam. Como eu já disse, não há uma explicação lógica para o que aconteceu. Foi um fenômeno interno. Cósmico. Astral. Filosófico. Existencial. Foi algo que abrangeu todas as instâncias do seu ser. Algo que o marcou e modificou para toda a vida. Um instante decisivo. E houve algo que simbolizou tudo isto: uma maçã. Ele sempre preferira morangos, mas o momento de sua vida ficou inscrito para sempre em sua memória sob o signo de uma maçã. Estavam todos na sala, deleitando-se com suas futilidades e trivialidades. Ele fora sozinho até a cozinha, onde permanecera. Lá estava a maçã, solitária e brilhante sobre a mesa. Quando ele viu a maçã, aconteceu. No fundo de sua alma ele soube, e a partir daí nada mais voltaria a ser o que era. Olhando fixamente para a casca brilhante da maçã, ele pôde ver algo incrível, inacreditável, indizível. Ele viu a si mesmo. E naquele reflexo avermelhado ele olhou no fundo dos seus próprios olhos, e se deu a catarse. Só o que restou daquela maçã foi a camisa de força e o quarto acolchoado.

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O obelisco é só um poste.

Tergiversações Filosóficas III

É perigoso chegar ao limite. Ao fundo do poço. Ao extremo da decadência. É preciso cruzar todas as fronteiras para se descobrir quem realmente é. O comodismo não leva a lugar nenhum. É preciso sangrar o sangue quente e ali molhar sua pena. É preciso penar. É preciso angústia. É preciso Agonia. E mesmo que no final não valha pra nada, será sempre uma tentativa, e a tentativa em si, já vale alguma coisa. E o que nos resta são as tentativas. Mas os pesadelos nunca irão cessar. Cada um tem que seguir o seu próprio caminho, por mais difícil que ele seja. E mesmo que no final não haja glória nenhuma – nem no começo, nem no meio – restará uma sensação que se assemelha a de um dever cumprido, mas não será questão de deveres, será apenas o destino se cumprindo e os ciclos – círculos – se findando – e reiniciando. Como já dizia minha amiga Carla, os círculos são as formas geométricas que carregam mais significados filosóficos. Todos nós vivemos os nossos círculos, um dentro do outro. Mas o que acontece quando se rompe um círculo? Quando se quebra uma barreira? A maioria das barreiras são psicológicas. Os círculos também não serão? Talvez seja um pacto do nosso inconsciente que nos leva a repetir sempre as mesmas situações – por mais dolorosas que sejam – pois mesmo a pior dor já estará prevista, e o certo não amedronta. O que dá medo é o desconhecido. Não serão os círculos as proteções psicológicas do nosso inconsciente? E como lutar contra isso? Como lutar contra o nosso inconsciente? Como lutar contra nós mesmos? Será um caso clássico de dupla personalidade ou apenas uma percepção exagerada – o exagerado é mau, nós convencionamos. Tudo são percepções. Tudo são ilusões.

Tudo é maya / ilusão ou samsara / círculo vicioso.

De resto, é seguir em frente, sempre com os olhos fechados e com muita calma. Mas cego eu nunca fui e calma eu nunca tive. Um trem desgovernado e sem freio. Um trem sem qualquer controle e que nada nem ninguém possa parar. É essa a imagem que me vem a mente sempre que eu penso em mim mesmo. Um trem. E nestes trilhos – que são a vida – tudo é possível. Mas como não há controle, a sorte e o destino se fundem, e nada é previsível. O que eu quero dizer é que não basta viver, há que se sentir o caos penetrando fundo na carne. Há que se sentir a vertigem. Há que se sentir o vento nos cabelos durante a queda no abismo. Há que se degustar com todo o deleite os momentos que precedem o momento final. E todos os momentos são finais.
A vida acaba aqui.

Tergiversações Filosóficas II

Toda amargura e angústia me corroem por dentro, mas não cai uma lágrima sequer.

Tergiversações Filosóficas I

Eu devo ser extremamente desajustado. Não me ajusto em lugar algum. Fujo de casa, troco de cidade, mudo de país e a insatisfação continua a mesma. Talvez eu deva fundar um culto satânico, uma seita que promova sacrifícios, e realizar uma cerimônia de suicídio coletivo. O porquê não é importante. O que importa é o que falta. E sempre falta. Muito. Demais. E é essa falta que me consome, essa ausência de tudo... até de mim mesmo. Mas o fato é que nada muda. Já sei que não há fugas possíveis, mas isso não invalida as tentativas. Lajeado, Porto Alegre, Buenos Aires, Quinto dos Infernos... é tudo a mesma merda. É sempre a mesma situação, a mesma armadilha, a mesma corda no pescoço. Deus não salvou os inocentes que arderam nas fogueiras e Deus não salvará os que hoje queimam lentamente na fumaça da poluição. Deus morto está, porque o matamos nós. Nós mortos estamos e as crenças viraram bobagens. O fim não é a morte, não é o apocalipse: o fim é essa inércia absoluta – de todas as coisas – em que vivemos. O fim é o cotidiano. O fim é a rotina. O fim é lavar a roupa todo dia sem tempo nem consciência para a agonia. O fim é nem mesmo agonizar mais. O fim é se conformar, pedir a conta, levantar e seguir adiante. O fim é a vida.

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O princípio da sabedoria é a dúvida.

Diário de Viagem - Parte VI

04/Set (7º Dia)
O clima metropolitano desta cidade já está me afetando. É tudo muito acelerado. Estou estressado, tenso, cansado. Não durmo bem à noite, tenho pesadelos, me agito. Acordo cansado. Já estou sem forças. Nós temos pouco dinheiro e as coisas não estão dando certo. O frio finalmente chegou à Buenos Aires e parece que é agora que a jornada finalmente vai começar. Pelo menos a jornada espiritual.
Graças ao nosso amigo colombiano, hoje nós descobrimos onde fica o Carrefour. Descobrimos também que moramos mais perto do centro do que pensávamos. Mas como nem tudo são flores, fomos almoçar no Ouro Fino Café, na Avenida de Mayo, e descobrimos que nem todos os cafés de Buenos Aires são maravilhosos. O ambiente até que era bonitinho, mas os cafés eram horríveis e a comida intragável.
Estamos cansados. Viemos para casa cedo.

Hoje finalmente compramos todos os apetrechos necessários para fazer funcionar a nossa mini-cozinha, e teremos uma bela refeição com cappuccino bem quente (porque afinal, está um frio do caralho), um pacote gigante de “Papas Fritas Clássicas Lays” (as melhores batatas-fritas do mundo) e uma lata de biscoitos amanteigados (divinos). Nós precisávamos de uma refeição decente depois do nosso almoço fracassado.

Hoje descobrimos também um supermercado na rua Piedras, aqui bem pertinho do albergue. Um super onde há grande variedade de cervejas de um litro por preços módicos, onde há garrafas de Coca-Cola retornáveis e também várias ofertas de vinhos (Gato Negro e Reservado Concha y Toro por 6,80 pesos cada).
À noite voltamos para o albergue, onde o Miguel – nosso amigo colombiano – nos informou que é muito fácil conseguir o visto na imigração – mediante um pagamento de cerca de 200 pesos por pessoa.
Agora à noite a Karina finalmente conseguiu ligar pra casa. As ligações internacionais aqui são muito baratas. Na verdade, todo o custo de vida em Buenos Aires é muito barato – inclusive os programas culturais, afinal, Buenos Aires é uma cidade culta. Aqui se transpira cultura, mas nós continuamos pobres, e apesar do baixo custo de vida, o teatro e os shows de tango ainda nos são inviáveis.
Estou cansado.

Final de noite: Os fósforos do Afonso estão acabando. Comprei um isqueiro lilás para acender os incensos que comprei dos hippies. A noite acaba entre goles de Amarula (cortesia do Afonso) e ao som de Cássia Eller.

Diário de Viagem - Parte V

03/Set (6º Dia)
Pelo segundo dia seguido almoçamos no Burger King, que é um lugar bom, barato e que nos deixa bem alimentados.
À tarde nós finalmente fomos na Embaixada do Brasil (onde os recepcionistas não falavam português). Eles nos mandaram para o Consulado do Brasil (onde os recepcionistas também não falavam português). Do Consulado nos mandaram para a Imigração (onde, provavelmente, os recepcionistas também não falam português). Iremos lá amanhã.
Hoje também conhecemos a Plaza San Martín, onde vimos o Palacio San Martín, o Farol de la Plaza San Martín (presente dos britânicos à Argentina) e o monumento aos mortos na guerra das Malvinas.

Descoberta do dia: Na Plaza San Martín há um grande gramado, que é um belo lugar para deitar ao sol. Adorei a idéia.

Bem, pelo menos as nossas perambulações atrás do visto tiveram um lado bom: nós descobrimos um apartamento para alugar, num prédio antigo, numa ruazinha pouco movimentada, nos arredores da Plaza San Martín. Amanhã ligaremos para a imobiliária.
O final do dia foi estressante. Pegamos um metrô lotado. Não conseguimos descer na nossa estação. Tivemos que descer na estação final e andar até em casa. Chegamos exaustos. Este episódio rendeu até um conto. Bem, por enquanto é isso.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Metrô

Às vezes me dá uma sensação de perda, esta viagem. Como se tudo que eu tivesse conquistado ao longo destes últimos anos agora tivesse se perdido. O dragão de bronze, o bonsai de jabuticaba, os livros – cuidadosamente empilhados um a um, com muito carinho, na estante –, o apartamento confortável e aconchegante. Ficou tudo pra trás. Junto com os amigos e com a família, que é o que realmente faz falta. Ficou tudo pra trás. Eu vim pra cá com nada nas mãos e um punhado de esperanças tolas no coração. É burrice, eu sei. Mas era preciso. Uma nova cidade, um novo país, um novo idioma. Mas tem dias em que eu me pergunto o quanto era preciso. Dias como o de hoje, em que depois de várias horas de caminhadas inúteis e buscas frustradas, eu me enfio embaixo da terra e tomo um metrô lotado. Então, no meio daquela falta de oxigênio e pressões por todos os lados, me vem uma espécie de revelação, e eu penso se tudo isto era realmente necessário. Ao ver a minha estação passando e perceber a minha total imobilidade, sabendo que terei que descer na última estação e caminhar até em casa, eu que já estou tão cansado, tão cansado, tão cansado, sou tomado por uma raiva cega, que tira forças sei lá de onde, e subo escadas correndo e cruzo viadutos em meio ao trânsito caótico correndo e amaldiçôo a decisão de ter saído da minha vida confortável com cama macia e bons vinhos chilenos, amaldiçôo o fato de eu estar aqui. Quando percebo estou na porta de casa, quando dou por mim estou no meu quarto, exausto, sentado na cama, cabeça enterrada entre as mãos, lágrimas correndo. Estou tão cansado que nem sei mais porque choro. Talvez eu chore por tudo que se perdeu. Mas o mais provável é que eu chore por tudo que ainda se perderá. Estou exausto desta vida. Tiro os tênis, deito na cama. Não para dormir. Para esquecer. A vida é cruel, a vida destrói. E tem dias em que eu não sou forte o suficiente para agüentar. Mas da próxima vez que um destes dias vier, eu vou lembrar de não pegar o metrô.

Diário de Viagem - Parte IV

Dia 2

Cena do dia: Estávamos, Karina e eu, caminhando tranquilamente pela rua Florida, quando de repente, no meio do calçadão, pára um senhor com um grande estojo de algum instrumento musical. Ele simplesmente tira uma harpa – enorme! – de dentro do estojo e começa a tocar. Dispensa comentários.

Diário de Viagem - Parte III

Dia 1

Entre 5h e 7h: Tive um pesadelo. Eu sei que parece banal dito assim: tive um pesadelo. Mas as sensações foram muito reais. No meu pesadelo eu estava deitado no meu quarto no albergue. A Karina estava deitada do meu lado, mas estava dormindo. Uma mulher se aproximou pelo meu lado da cama. Parecia cigana. Usava um longo vestido vermelho e tinha longos cabelos negros. Era muito bonita, mas sua beleza era fria, dura, má. Ela debruçou-se sobre mim. Seus cabelos caíram por sobre o vestido. Eu senti que ela ia me faze mal – provavelmente ela estava tentando me matar, embora não tocasse em mim. A sensação de impotência diante da morte eminente foi assustadoramente real. Foi horrível. Acordei apavorado. Provavelmente ela é um carma meu, que aproveitou um momento de fragilidade para me atormentar.

Manhã: A wireless do albergue é ótima, a rede mais rápida que eu já usei. Pela manhã nós descobrimos o endereço da Embaixada do Brasil em Buenos Aires e tivemos mais uma tentativa fracassada de habilitar o roaming internacional dos nossos celulares. Ok, nós devíamos ter feito isso no Brasil, mas de qualquer forma, o site da Tim é uma bosta e os números para ligações internacionais não funcionam. Em compensação, tem uma loja da Claro em cada esquina por aqui. Acho que vou trocar de operadora.

Bom, depois de tomar café e de ver o que precisávamos ver na internet, nós fomos visitar a Universidad Abierta Interamericana, que fica praticamente na frente do nosso albergue. O simpático atendente, que falava em um espanhol pausado e muito bem articulado, passou todo o tempo do mundo nos dando todas as informações necessárias – e mais algumas – para caso desejássemos ingressar na UAI. Depois ele deu-nos por escrito todas as informações que havia nos explicado – eu quase me emocionei. Bem, dentre as informações mais importantes eu destaco o valor da mensalidade da UAI: 343 pesos argentinos. Creio que não preciso comentar mais nada. Mas apesar do valor irrisório, ainda não sei se nós vamos ingressar na UAI, pois eles exigem uma tonelada de documentos devidamente reconhecidos, registrados e traduzidos.

Meio-dia: Por volta das 11:30 nós pegamos o metrô para o centro e almoçamos no shopping da rua Florida.

Tarde: Nós fomos passear por alguns sebos da Avenida de Mayo e, para minha frustração, embora vimos muitos livros antiqüíssimos, não encontramos nenhum realmente interessante. Prefiro mil vezes os sebos de Porto Alegre.

Nós percebemos que existem algumas “modinhas” correntes aqui em Buenos Aires, como, por exemplo, a moda “Eu uso franja emo” ou a moda “Eu não penteio o cabelo” ou a moda “Eu tenho um rabinho arrebitado no meu mullets”.

Nós dormimos pouco esta noite e ainda estávamos cansados das longas caminhadas de ontem, então voltamos para casa às 14:30.

Tarde – Parte II: Não ficamos em casa por muito tempo. Logo saímos em busca de um grande shopping. Pegamos o metrô na Estación Constitución, depois pegamos uma conexão na Diagonal Norte e descemos na Estación Carlos Gardel, que já sai dentro do magnífico shopping Abasto, na Corrientes.

O shopping é extremamente maravilhoso. Tem ótimos cafés, tem uma boa livraria, tem um belíssimo restaurante italiano... tem um parque de diversões. Sim, isso mesmo. Tem um parque de diversões dentro do shopping. Com direito à roda gigante e barco viking. O shopping tem uma estrutura enorme e muito bonita. Lembra muito aquelas antigas estações. Na verdade, o shopping Abasto lembra-me muito a Estación Constitución.

Bem, eu estou escrevendo sentado no ambiente mais legal do shopping. Bem no centro da praça de alimentação – que é formada basicamente por cafés e restaurantes orientais – há um tablado alto, de madeira, de forma circular. Por toda a borda deste círculo existem sofás e mesinhas baixas pra ti deitar, esticar as pernas, tomar um capuccino, descansar, pensar na vida, ler, escrever, o qualquer outra coisa que te apeteça. Também se pode ficar “viajando”, o que é mais provável, pois do teto pendem três enormes – enormes mesmo – lâmpadas com aquelas luzes terapêuticas que ficam mudando de cor. Cromoterapia de graça no meio do shopping. Acho que eu vou dormir agora...

Tarde – Parte III: Bom, no shopping nós encontramos uma ótima livraria. A Karina me deu um livro do Ken Follett, “Los Pilares de la Tierra”, 1500 maravilhosas páginas de um espanhol que eu consigo ler – ao contrário daquele “Don Quijote” infernal. Tinha outra livraria no shopping, mas o segurança não era um cara legal. Ele me fez trancar o meu copo gigante de Coca-Cola do McDonald’s no armarinho de guardar bolsas.

Obs: Havia painéis espalhados por todo o shopping, com a foto da Amy Winehouse e com a frase: “Livinla vida loca”.

Depois nós fomos ao hipermercado que há na frente do shopping para comprar suprimentos, e voltamos para casa. Pegamos o metrô na hora do rush. Não existia oxigênio dentro dos metrôs e nem dentro das estações. A temperatura devia estar em torno de uns 60ºC.

Noite: Chegamos em casa mortos. Vamos comer e depois eu vou apreciar o meu belíssimo livro novo. Estou inspirado para ler em espanhol. O clima da cidade é contagiante. Eu já estou pensando em espanhol. Agora, quanto ao outro clima, o meteorológico, este é uma merda. A cidade é muito poluída e o ar parece muito seco. Nós passamos o dia inteiro na rua. Quando nós voltamos é que eu pude perceber os efeitos do clima de Buenos Aires: o nariz irritado, os olhos irritados, as unhas pretas, a boca e a garganta sempre secas, os lábios rachados. Creio que o clima daqui também não deve fazer muito bem pra pele. Nem pro cabelo.

Bom, por hoje é só. Amanhã eu acho que nós finalmente vamos à Embaixada do Brasil.

Buenas Noches!

Diálogo da noite: Eu comentando sobre as bochechas da Karina.

– Tu parece um baiacu inflado.

– Eu não pareço um baiacu inflado!!!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Diário de Viagem - Parte II

Dia 31

Manhã: Acordamos e tomamos café. O choque inicial já se desfez. O albergue não parece mais tão ruim. Na verdade, é até um lugar simpático, com pinturas hippies nas portas e fotos de Diego Maradona por todo lugar.

Manhã: Saímos para dar uma volta e conhecer Buenos Aires. Está quente aqui, achei que estaria bem mais frio. Caminhamos pelos arredores do nosso albergue, que fica no bairro de San Telmo. Descobrimos que estamos hospedados perto da Plaza Constitución. Descobrimos os nossos possíveis trajetos nas linhas do metrô. Nós embarcamos na Estación Plaza Constitución ou na Estación Entre Rios e descemos na Estación Bolívar ou na Estación Catedral ou na Estación Piedras. Nós já demos umas voltas pelo centro. Vimos a Plaza de Mayo e a Casa Rosada. Estou encantado com os prédios históricos e as ruelas do centro velho. Os pombos da Plaza de Mayo são um espetáculo a parte.

Meio-dia: Encontramos um belo lugar para almoçar. Ok, as pessoas no Brasil não vão acreditar no que eu vou dizer agora, mas lá vai: Nós almoçamos no McCafé. Uma cafeteria do McDonald’s. E que cafeteria. Possivelmente a melhor cafeteria em que eu já estive. Extremamente requintada. Um ambiente de extremo bom gosto, digno de Buenos Aires, e que não lembra em nada as redes de fast-food norte-americanas. Tudo com muito requinte. As bandejas, as taças de café, os guardanapos – um parêntese para os guardanapos: os guardanapos mais requintados que eu já vi. Os cafés eram enormes e deliciosos. Possivelmente os melhores cafés que eu já provei. Ah, e ao contrário de muitas cafeterias do Brasil, aqui os cafés vêm acompanhados do famigerado martelinho de água mineral com gás – isto é muito importante. Para completar, uma bela música ambiente.

Obs: Durante o almoço eu e a Karina convencionamos chamar o nosso quarto no albergue de “Lugar Onde Estamos Ficando”, já que não conseguimos encontrar uma denominação adequada para lá.

Obs II: Durante o almoço eu descobri que a Karina ainda não está falando espanhol porque ela acha que fica pernóstico.

Tarde: Passamos a tarde caminhando pela rua Florida. É um calçadão, ao estilo da Rua da Praia em Porto Alegre, mas é bem mais comprida. Divertimo-nos entrando em várias galerias. Mas a nossa principal diversão foram as livrarias. Há inúmeras livrarias na rua Florida. E são todas ótimas livrarias, com vários andares, todas com cafés em seus interiores e algumas com salas de leituras – olha que coisa genial: tu não precisas comprar os livros, tu podes pegar um na estante, sentar na sala de leitura, ler, depois colocar de volta e ir embora. Nestas livrarias existem muitas coisas que normalmente não se encontram nas livrarias do Brasil, como coleções completas de Edgar Allan Poe e Henry Miller, Obras Completas de Cortazar, coisas assim. Outra coisa que também chamou muito a minha atenção nas livrarias daqui foram as seções infantis e juvenis. Aqui as crianças lêem, e lêem “livros com páginas”, como diria o Tiu fiu (isto me lembra que encontrei as coleções completas da Mafalda e da Maitena). Os livros para crianças que se vendem aqui são belos livros, e não aquela porcaria que há no Brasil.

Bem, encontramos muitas coisas na rua Florida. Ela é repleta de artistas de rua. Mas o que mais nos chamou a atenção foram os cafés. Há alguns cafés charmosíssimos na rua Florida. Pudemos ver também toda a beleza e o esplendor dos grandes prédios históricos, embora, infelizmente, muitos deles tenham que conviver com as pichações e o abandono. Buenos Aires é uma cidade de contrastes. Vimos alguns mendigos, artistas de rua, hippies, turistas italianos, mas o fato é que a cidade está infestada de emos. Tu vai vê-los em qualquer lugar para onde olhares. São tantos os contrastes de Buenos Aires que é possível até mesmo encontrar uma loja chamada “New Coliseum”.

Bem, como descobertas importantes no setor de logísticas, nós descobrimos que a nossa linha de metrô é a linha “C”, e que podemos pegar o metrô na Estación Plaza de Mayo e chegar a Estación San Juan que, para nossa surpresa, fica na esquina do nosso albergue. Nossos passes de metrô – detalhe: a passagem do metrô custa 90 centavos de peso – indicam que nós fomos para o centro às 11:18 e voltamos às 16:31. Mas como até nós encontrarmos a Estación Entre Rios nós já havíamos caminhado muitos quilômetros, e andamos muitos mais no centro, às 16 horas nós já estávamos mortos. Então tomamos um café reforçado no McCafé, com direito à croissants amanteigados e muffins de chocolate. Depois voltamos para o “Lugar Onde Estamos Ficando”. No caminho descobrimos onde fica o famoso Grand Café Tortoni. Como descoberta do final do dia, posso acrescentar o fato de que o nosso albergue não tem lavanderia. Mas de acordo com o Matias, nosso simpático atendente, existe uma lavanderia há uma quadra e meia do albergue.

Aqui escurece muito cedo, por volta das 17:30. Como estamos sempre muito cansados, nós dormimos cedo. Ontem fomos dormir às 18:30, e só acordamos 14 horas e meia depois.

Nossa programação para amanhã envolve ir à Universidad Abierta Interamericana e tentar conseguir uma vaga lá. Depois vamos à Embaixada do Brasil tentar um visto de estudante ou qualquer coisa parecida, pois o visto de turista só é válido por três meses e não permite exercer atividades remuneradas. Também vamos tentar habilitar o roaming internacional dos nossos celulares para não ficarmos tão incomunicáveis.

Nós ainda não decidimos se ficaremos aqui em Buenos Aires por mais de um mês. Por enquanto estamos em dúvida entre três opções: ficar aqui, ir para Montevidéu ou ir para Santiago. Também pensamos em ir para Belo Horizonte – não me pergunte por que – mas isso vai ficar para mais tarde.

Amanhã eu provavelmente terei que ir lá na sala do albergue para postar isso, afinal, a wireless não funciona aqui no quarto.

Bueno! Acho que vou dormir.

Noite: Ainda não dormi. Há pessoas correndo pelos corredores do albergue, gritando coisas em espanhol. É divertido.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Diário de Viagem - Parte I

Dia 29

Noite: O ônibus sai de Porto Alegre com direção à Buenos Aires com uma hora e meia de atraso.

23h58min – Eu e a Karina começamos a namorar oficialmente. Pela terceira vez.

Dia 30

Madrugada: O ônibus parou por meia hora na garagem, em Uruguaiana, para um conserto.

Manhã: O ônibus quebrou a 3 horas de Buenos Aires. O motor estourou. Esperamos cerca de uma hora até o outro ônibus chegar.

Tarde: Chegamos na rodoviária. Dois carregadores de malas praticamente nos assaltaram. Prejuízo: 50 pesos. E o cara que chamava os táxis ainda ficou rindo da nossa cara.

Tarde: Chegamos no albergue, que não é exatamente como aparecia no site. Eu diria que é bem pior. Meu Deus, o lugar é horrível!

Obs: Ok, eu admito, as coisas não começaram muito bem. Mas tudo vai melhorar. TEM QUE MELHORAR!

P.S.: Eu estou A-PA-VO-RA-DO.