quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Diário de Viagem - Parte III

Dia 1

Entre 5h e 7h: Tive um pesadelo. Eu sei que parece banal dito assim: tive um pesadelo. Mas as sensações foram muito reais. No meu pesadelo eu estava deitado no meu quarto no albergue. A Karina estava deitada do meu lado, mas estava dormindo. Uma mulher se aproximou pelo meu lado da cama. Parecia cigana. Usava um longo vestido vermelho e tinha longos cabelos negros. Era muito bonita, mas sua beleza era fria, dura, má. Ela debruçou-se sobre mim. Seus cabelos caíram por sobre o vestido. Eu senti que ela ia me faze mal – provavelmente ela estava tentando me matar, embora não tocasse em mim. A sensação de impotência diante da morte eminente foi assustadoramente real. Foi horrível. Acordei apavorado. Provavelmente ela é um carma meu, que aproveitou um momento de fragilidade para me atormentar.

Manhã: A wireless do albergue é ótima, a rede mais rápida que eu já usei. Pela manhã nós descobrimos o endereço da Embaixada do Brasil em Buenos Aires e tivemos mais uma tentativa fracassada de habilitar o roaming internacional dos nossos celulares. Ok, nós devíamos ter feito isso no Brasil, mas de qualquer forma, o site da Tim é uma bosta e os números para ligações internacionais não funcionam. Em compensação, tem uma loja da Claro em cada esquina por aqui. Acho que vou trocar de operadora.

Bom, depois de tomar café e de ver o que precisávamos ver na internet, nós fomos visitar a Universidad Abierta Interamericana, que fica praticamente na frente do nosso albergue. O simpático atendente, que falava em um espanhol pausado e muito bem articulado, passou todo o tempo do mundo nos dando todas as informações necessárias – e mais algumas – para caso desejássemos ingressar na UAI. Depois ele deu-nos por escrito todas as informações que havia nos explicado – eu quase me emocionei. Bem, dentre as informações mais importantes eu destaco o valor da mensalidade da UAI: 343 pesos argentinos. Creio que não preciso comentar mais nada. Mas apesar do valor irrisório, ainda não sei se nós vamos ingressar na UAI, pois eles exigem uma tonelada de documentos devidamente reconhecidos, registrados e traduzidos.

Meio-dia: Por volta das 11:30 nós pegamos o metrô para o centro e almoçamos no shopping da rua Florida.

Tarde: Nós fomos passear por alguns sebos da Avenida de Mayo e, para minha frustração, embora vimos muitos livros antiqüíssimos, não encontramos nenhum realmente interessante. Prefiro mil vezes os sebos de Porto Alegre.

Nós percebemos que existem algumas “modinhas” correntes aqui em Buenos Aires, como, por exemplo, a moda “Eu uso franja emo” ou a moda “Eu não penteio o cabelo” ou a moda “Eu tenho um rabinho arrebitado no meu mullets”.

Nós dormimos pouco esta noite e ainda estávamos cansados das longas caminhadas de ontem, então voltamos para casa às 14:30.

Tarde – Parte II: Não ficamos em casa por muito tempo. Logo saímos em busca de um grande shopping. Pegamos o metrô na Estación Constitución, depois pegamos uma conexão na Diagonal Norte e descemos na Estación Carlos Gardel, que já sai dentro do magnífico shopping Abasto, na Corrientes.

O shopping é extremamente maravilhoso. Tem ótimos cafés, tem uma boa livraria, tem um belíssimo restaurante italiano... tem um parque de diversões. Sim, isso mesmo. Tem um parque de diversões dentro do shopping. Com direito à roda gigante e barco viking. O shopping tem uma estrutura enorme e muito bonita. Lembra muito aquelas antigas estações. Na verdade, o shopping Abasto lembra-me muito a Estación Constitución.

Bem, eu estou escrevendo sentado no ambiente mais legal do shopping. Bem no centro da praça de alimentação – que é formada basicamente por cafés e restaurantes orientais – há um tablado alto, de madeira, de forma circular. Por toda a borda deste círculo existem sofás e mesinhas baixas pra ti deitar, esticar as pernas, tomar um capuccino, descansar, pensar na vida, ler, escrever, o qualquer outra coisa que te apeteça. Também se pode ficar “viajando”, o que é mais provável, pois do teto pendem três enormes – enormes mesmo – lâmpadas com aquelas luzes terapêuticas que ficam mudando de cor. Cromoterapia de graça no meio do shopping. Acho que eu vou dormir agora...

Tarde – Parte III: Bom, no shopping nós encontramos uma ótima livraria. A Karina me deu um livro do Ken Follett, “Los Pilares de la Tierra”, 1500 maravilhosas páginas de um espanhol que eu consigo ler – ao contrário daquele “Don Quijote” infernal. Tinha outra livraria no shopping, mas o segurança não era um cara legal. Ele me fez trancar o meu copo gigante de Coca-Cola do McDonald’s no armarinho de guardar bolsas.

Obs: Havia painéis espalhados por todo o shopping, com a foto da Amy Winehouse e com a frase: “Livinla vida loca”.

Depois nós fomos ao hipermercado que há na frente do shopping para comprar suprimentos, e voltamos para casa. Pegamos o metrô na hora do rush. Não existia oxigênio dentro dos metrôs e nem dentro das estações. A temperatura devia estar em torno de uns 60ºC.

Noite: Chegamos em casa mortos. Vamos comer e depois eu vou apreciar o meu belíssimo livro novo. Estou inspirado para ler em espanhol. O clima da cidade é contagiante. Eu já estou pensando em espanhol. Agora, quanto ao outro clima, o meteorológico, este é uma merda. A cidade é muito poluída e o ar parece muito seco. Nós passamos o dia inteiro na rua. Quando nós voltamos é que eu pude perceber os efeitos do clima de Buenos Aires: o nariz irritado, os olhos irritados, as unhas pretas, a boca e a garganta sempre secas, os lábios rachados. Creio que o clima daqui também não deve fazer muito bem pra pele. Nem pro cabelo.

Bom, por hoje é só. Amanhã eu acho que nós finalmente vamos à Embaixada do Brasil.

Buenas Noches!

Diálogo da noite: Eu comentando sobre as bochechas da Karina.

– Tu parece um baiacu inflado.

– Eu não pareço um baiacu inflado!!!

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