– O que é isso? – Aponta para a boca dele, onde crescem feridas vermelhas do lado esquerdo, na junção dos lábios.
– Acho que é uma alergia.
– À quê?
– Sei lá... à vida entediante...
A alergia se alastrava como um câncer voraz e faminto por seu rosto. O tédio se alastrava como um câncer voraz e faminto por sua vida. Há muito o desespero passara. Só havia o vazio. Mas o vazio há muito deixara de ser angustiante. Sentia até uma certa paz. Uma calma. Como se a fatalidade fosse inevitável e nada pudesse fazer. A calma dos condenados a morte. Imaginava que quando eles subissem no cadafalso e observassem a forca, deveriam sentir-se calmos. Mas não havia forca. E até a calma passou. Ficara apenas aquela dor seca na garganta, mas ele a umedecera com vinho tinto. Ela olhava-o com curiosidade.
– O que foi?
– Nada... só tava te olhando...
Ela tinha no olhar uma compreensão sobre ele que lhe faltava. “O que será que ela compreende sobre mim?”, pensava. Não poderia imaginar.
– Tu és um eterno insatisfeito.
– Vai te fuder!
Sua insatisfação não era com o mundo, achava que não era nem consigo mesmo. Não conseguia compreender com o que estava insatisfeito.
A pizza chegou e interrompeu seus pensamentos.
Olhares furtivos.
– Passa a mostarda.
Conversaram banalidades.
– Eu odeio aquela aula.
– Eu também.
Não havia como disfarçar. A infelicidade fazia parte de suas vidas. Estava nos olhares. Estava no fundo da alma.
Caminharam pela noite iluminada artificialmente. Quanto de suas próprias luzes não seria artificial? “Muito”, ele desconfiava. O frio penetrava as roupas, os corpos, as almas. Ele falou-lhe uma coisa qualquer
Um comentário:
Será que eu tb to com essa alergia? rs
Um bjo
até...
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