Um abismo fundo. Um poço. Todos que estão em depressão falam de um poço. Que diabos há na maldita imagem de um poço? Um poço escuro e sombrio, onde você não pode fugir dos seus fantasmas: ou exorciza-os ou morre. E um homem que não pode fugir já está morto. Por que a depressão não nos suscita a imagem de um campo florido? Os campos floridos do Kurosawa eram tão melancólicos quanto o mais escuro dos poços. E também não há para onde fugir. As flores bloqueiam os caminhos por todos os lados e te isolam no teu lindo e desesperador infinito particular. Já imaginou se fossem margaridas? Com suas pétalas brancas de paz e seus miolos amarelos de desespero, é uma imagem tão linda, um campo de margaridas, e você, eu, lá no meio, perdido para sempre, condenado à morte porque fuga não há, e os meus, seus, fantasmas são fortes demais. As flores são muito mais assustadoras do que os poços.
Imagino-me caído no fundo de um poço. Um poço florido. Um poço com as paredes cobertas de margaridas. Todas sorrindo pra mim. Eu sorrio de volta. E corto os meus pulsos. O branco e o amarelo respingam-se de vermelho e as margaridas sorriem e eu sorrio e elas ficam felizes e eu fico feliz e tudo está bem e a depressão foi embora. Eu danço e as margaridas dançam. Eu calo morto e as margaridas vermelhas me abençoam.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
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