quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Tempo

Eu andava pensando em decapitar passarinhos e espremê-los, colocar todo o seu sangue em uma tigela e escrever com ele. Também andava pensando muito sobre Lúcifer. Eu achava que se ele era o espírito mais perto de Deus, ele devia saber bem mais do que os outros, e provavelmente não tinha se rebelado à toa. E também, se Lúcifer era um espírito puro, ele era bom, e partindo do pressuposto de que os espíritos não regridem, ele não poderia ter se tornado mau. Acho que ele teve um conflito com Deus, pois não concordava com a forma como Ele administrava as coisas. Então Deus, do alto da sua ditadura nazista, expulsou baniu exilou Lúcifer. Agora, só porque o cara foi banido, não significa que o cara seja ruim. Então eu ficava pensando que Lúcifer estava lá no seu exílio fazendo coisas boas, mas à sua maneira. Ele era um puta de um injustiçado, o coitado. Naquela época, dos passarinhos e de Lúcifer, eu andava com uns bloqueios meio bestas. Andava com dificuldades na ficção. Eu só conseguia escrever o que eu vivenciava. Não conseguia mais fingir, não conseguia mais inventar. Foi aí que pensei nos passarinhos, e meu pai tinha uma criação de canários que viria bem a calhar. Mas no fim desisti, achei que seria mais ou menos como na vez em que eu comprei uma caneta de R$60,00 e fiquei bloqueado. Nunca consegui escrever nada com aquela porra. No fim, acabei dando a caneta pra alguma das menininhas que eu comia naquela época. Era uma bela caneta. Ela deve ter se masturbado com ela. Mas Lúcifer, passarinhos & bloqueios à parte, eu andava emputecido com a reforma ortográfica. Queria matar quem inventou aquela merda, queria enfiar aquela lei no cu deles. Sei lá, talvez Lúcifer fosse mesmo um cara mau e eu pudesse oferecer-lhe passarinhos decapitados para que ele levasse para o inferno os caras da reforma ortográfica. Naquela época eu também andava às voltas tentando resolver o meu vazio pós-coito - sem aplicar as novas regras gramaticais. Uma amiga havia me dito que sexo era apenas sexo, e que não havia nem nunca haveria nada depois. Eu ainda tinha umas idéias meio românticas e precisava acreditar que havia um depois. Mas toda vez que comia alguma adolescente sadomasoquista, eu ficava, ao final de tudo, lembrando da minha amiga dizendo que não havia mais nada, e apesar da insatisfação & contrariedade óbvias, eu começava a compreender. Parece que foi há tanto tempo tudo isso. Parece que foi ontem. E foi.

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