segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O Dragão

É um dragão. Sim, sem dúvidas, é um dragão. Nesta casa que cheira a porra, cigarros e vodka. O dragão não me olha mais nos olhos. Ele gostava do tempo em que aqui havia apenas o cheiro de incenso e café, do tempo em que eu andava com um sorriso nos lábios. Agora eu ando sério, entorpecido, e o dragão tem raiva de mim. Não o culpo. Ele provavelmente tem razão. Meus olhos ardem e meu estômago se retorce. Eu sempre disse que não havia escolhido uma vida feliz. Ninguém acreditou. Nem ele acreditou. Pois aqui está. Acho que no fundo ele sempre soube, mas ainda tinha esperança. Eu nunca tentei me enganar. Quando o dragão finalmente perdeu as esperanças, ele soprou chamas e a casa ardeu, os cigarros arderam, a vodka ardeu, os livros arderam, o blues ardeu e eu ardi com eles. Perdido em meio às chamas, eu ardi. Dor e liberdade. Sempre juntas. Eu não me conformei até que só restassem cinzas.

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