quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Monólogo

Estou gripado. Uma meleca grudenta e amarela escorre pelo meu nariz e entope meus pulmões. Lá fora o dia, ou melhor, a semana está fria e chuvosa. Aqui dentro eu tomo goles de chá preto e de vodka, alternadamente, mas nenhum dos dois consegue me aquecer. Não tenho mais uma boceta a disposição para aquecer-me, tampouco paciência para aturar a mulher que indubitavelmente viria junto com a boceta. O jeito é abrir um vídeo pornô qualquer na internet e bater uma boa punheta. Na verdade, uma péssima punheta, minhas punhetas nunca foram boas. O fato é que é um mal necessário. Tomo alguns goles de xarope expectorante que tem gosto de sola de sapato, quer dizer, na verdade eu nunca lambi uma sola de sapato pra saber, eu nem uso sapato, mas o xarope é ruim pacas. Tento ler alguma coisa, tento escrever alguma coisa, deito embaixo das cobertas e fico mexendo no meu pau mole. De qualquer forma, eu sempre fui um inútil mesmo. A falta de acontecimentos me deprime, mas aos 20 anos eu já estou muito velho e ranzinza e sem nenhuma paciência para acontecimentos. É nessa hora que o cara deita e espera a morte. Já com uns seis ou sete livros escritos que não serão publicados, se aconchega embaixo das cobertas e morre sonhando com o reconhecimento no século seguinte. Na verdade, não se sabe. Mas eu também não tenho paciência pra ficar esperando a morte. A morte deve ser fria, e aqui já tá um frio do caralho apesar do blusão de lã e dos três edredons. Meu nariz começa a correr de novo, maldita gripe. Vírus filhos-da-puta que tanto me adoram. Aliás, eu acho que todos os que me adoram não passam de um bando de filhos-da-puta hipócritas. É impossível me adorar. Por mais compreensivo e falso que se seja, eu me faço de tal forma detestável na presença de outras pessoas, que a única opção que lhes resta é me mandar tomar no cu. Eu nunca gostei de pessoas mesmo. A noite cai, o frio aperta e a paciência acaba. Eu nunca gostei de monólogos mesmo.

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