sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Mais do mesmo

Já fiz muita merda nessa vida. A maioria bêbado. Algumas sóbrias, e essas são as piores, pois consigo lembrar-me de cada detalhe das desgraças. Houveram também algumas vezes em que eu nem estava tão bêbado, mas aproveitei a desculpa e rolei na bosta quente e mole. Não sei se ainda acreditam nas minhas bebedeiras. Acho que nem eu acredito mais nelas. Não que isso tenha alguma importância. Sabe, é difícil ser original hoje em dia. Qualquer pseudo-intelectual fodido que leu Dostoiévski, qualquer poeta ou à puta-que-pariu que fica enchendo a cara por aí, se acha grande coisa. Não se bebe mais por vontade pura e simples de esquecer uma piranha qualquer em um copo de vodka, se bebe porque a decadência se tornou glamourosa, e isso me deixa puto. O velho Bukowski deve estar se revirando no túmulo a estas horas. Ser decadente não é achar bonito sofrer, ser decadente é não gostar da vida. Eu sei que parece muito fácil dito assim: não gostar da vida. Mas acredite, não gostar da vida, não gostar de verdade, com uma náusea permanente que não é das constantes ressacas, que é puramente do fato de estar vivo e não gostar nada disso, que é puramente do fato de ter que acordar todo dia e conviver com outras pessoas e achar tudo isso uma merda, essa náusea seca que não é do estômago e sim do espírito, esse não gostar da vida que é a prerrogativa básica da verdadeira decadência. Todos esses poetinhas adolescentes, que se acham decadentes sem nunca sequer ter provado o gosto de uma boceta, é que me irritam. Uma noção básica: mulher se usa. Usa-se para o sexo e para escrever. Não há nada de romântico em uma musa. É só uma mulher que tu usa pra escrever. Depois de te servir como musa, ela geralmente te serve na cama, depois tu descartas. Romance é coisa de adolescente, coisa de quem não conhece a vida. A vida é agressiva. Se tu não fores forte, tu não sobrevives. Se tu fores forte, tu apenas sobrevives. E sobreviver é isso: uma garrafa pra beber, uma mulher pra comer e um canto pra não fazer merda nenhuma enquanto a vida te devora. O mundo lá fora não tá nem aí pra ti, não tá nem aí pra mim, e quer saber? por que deveria estar? somos só uns bostas. Não importa se somos mais ou menos decadentes do que aqueles pseudo-intelectuais de merda, no fim acaba tudo do mesmo jeito. Não interessam as percepções, não interessa a consciência do mundo e da vida e das coisas e das pessoas: a gente vai se foder de qualquer jeito. Ou tu podes colocar uma gravata, arranjar um emprego de oito horas diárias, mulher, casal de filhos e casa na praia. Mas eu acho muito mais digno se foder com uma puta que dá de graça e uma garrafa de vodka. Não interessa o caminho: no fim a merda é sempre a mesma. Eu sei que tu dizes que eu não falo outra coisa, mas não adianta eu querer falar outra coisa se tu não entendes essa verdade básica: de qualquer jeito, tu vais te foder. Tu vais acabares na merda. Vamos todos. Então vê se pára de me encher o saco e vai lá comprar outra garrafa. Essa já acabou.

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