sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Quebra-Cabeça ou Interioridade (da série "Estéticos")
Tudo começa com um solavanco – algo violento. No fim, é a violência que move o mundo – e as pessoas. Pois aquele algo violento provoca uma desorganização interna, como se houvesse um quebra-cabeça dentro dele, e este fosse subitamente, bruscamente desmontado. A partir daí ele não compreenderia mais o mundo, nem a si mesmo. Aquilo que havia dentro dele estava desmontado, e agora o que restava era caos e uma antiga sensação de organização, de pertencimento. Pertencimento? Sim, pertencimento. Havia uma certa compreensão do mundo e de si mesmo que o pertencera – e agora o abandonara. Então agora ele necessitava começar novamente, montar o seu quebra-cabeça interior. Mas não conseguia. Estranhava as peças como se nunca as houvera visto. E a compreensão não vinha. Encontrava-se preso em um estranhamento que parecia perpétuo. Não havia fuga. Ele nem mesmo era capaz de imaginar uma fuga. Estava totalmente – mortalmente – desarmado; desconcertado [desmontado]. Recomeçava. O que recomeçava? Recomeçava a si mesmo. Como se fosse Deus, e Adão, e O Início dos Tempos – todos ele; todos nele. No princípio – a primeira peça – havia apenas a escuridão. Depois – a segunda – havia ele [seria Deus ou Adão?]. Depois havia a sua vontade – a terceira. Depois tudo era caos. Não conseguia passar destas três peças iniciais. Ele, parado em meio à escuridão, com vontade de. De quê? De compreender. Compreender o quê? Tudo. Recuperar a compreensão que acreditava ter possuído um dia – talvez segundos atrás [o tempo não era importante – ou era?]. Mas ao que parecia, o solavanco inicial havia causado um mal irreparável. Aquilo que fora desmontado – a compreensão – jamais seria remontado novamente. Ele teria vislumbres relances memórias em uma peça ou outra, mas a cena completa estava perdida para sempre. Nunca mais a compreensão. A roda gira sempre em frente, e não importa quantas vezes gire em torno de si, o caminho jamais será o mesmo. Ele perdera a si próprio na total desorientação, e seguia girando. Precisava então, para sobreviver, montar um novo quebra-cabeça. Construir peça por peça; cena a cena. Ou entrar em um rio e morrer. Ou tomar arsênico. Ou escrever. Ou pensar. Ou amar. Ou.
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5 comentários:
Gostei muito, não sei bem porque. Talvez eu tenha me identificado.
Meu quebra cabeça parece não ter fim...acho que vou fazer outro.
Ana Paula Krug
Meu quebra-cabeça naum tem fim.
Enfim vou deixar meu blog aqui ok
www.rebeldebr-novos.blogspot.com
Valeu pela consideração
Ou...parar, apenas parar. Por vezes é preciso, para resolver o quebra-cabeças. Ou para escolher o novo....
Dê um tempo nos maus hábitos. Reconheça o que te deixa torpe à ponto de não conseguir encaixar as peças.
Acredite, todas as peças estão à mão, se elas não se encaixam alguma coisa que ja ta encaixada não ta harmônico.
Meu quebra-cabeças também não ta encaixando, resolvi começar a monta-lo novamente, observando melhor as peças.
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