quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sobre antigüidade e atemporalidade (da série "Estéticos")

Uma antiga casa de campo. Com uma mulher igualmente antiga perdida dentro dela. As janelas abertas. O vento cheio de folhas espantando o mofo escondido pelos cantos. Uma mulher no fim da vida em uma casa que não acabaria nunca. Ambas feitas de lembranças – a mulher e a casa. Um vazio imenso, a ausência de qualquer pessoa outra por séculos, milênios; e todo este vazio preenchido por tudo o que já acontecera, todos os tempos passados passeando ao mesmo tempo pela casa, dançando com aquela mulher que não era mais ela, mas sim muitas, todas as mulheres que ela já fora, todas ao mesmo tempo, toda uma vida acontecendo naquela casa vazia, naquela mulher esvaziada pelo tempo. A imortalidade. O atemporal. A memória. As ilusões reais e a realidade falsa. Uma velha mulher em uma velha casa de campo. Para sempre.

Um comentário:

Pam disse...

Achei muito bom. Nem sei bem o motivo, talvez só por ser bom mesmo.