sábado, 13 de setembro de 2008

Tergiversações Filosóficas III

É perigoso chegar ao limite. Ao fundo do poço. Ao extremo da decadência. É preciso cruzar todas as fronteiras para se descobrir quem realmente é. O comodismo não leva a lugar nenhum. É preciso sangrar o sangue quente e ali molhar sua pena. É preciso penar. É preciso angústia. É preciso Agonia. E mesmo que no final não valha pra nada, será sempre uma tentativa, e a tentativa em si, já vale alguma coisa. E o que nos resta são as tentativas. Mas os pesadelos nunca irão cessar. Cada um tem que seguir o seu próprio caminho, por mais difícil que ele seja. E mesmo que no final não haja glória nenhuma – nem no começo, nem no meio – restará uma sensação que se assemelha a de um dever cumprido, mas não será questão de deveres, será apenas o destino se cumprindo e os ciclos – círculos – se findando – e reiniciando. Como já dizia minha amiga Carla, os círculos são as formas geométricas que carregam mais significados filosóficos. Todos nós vivemos os nossos círculos, um dentro do outro. Mas o que acontece quando se rompe um círculo? Quando se quebra uma barreira? A maioria das barreiras são psicológicas. Os círculos também não serão? Talvez seja um pacto do nosso inconsciente que nos leva a repetir sempre as mesmas situações – por mais dolorosas que sejam – pois mesmo a pior dor já estará prevista, e o certo não amedronta. O que dá medo é o desconhecido. Não serão os círculos as proteções psicológicas do nosso inconsciente? E como lutar contra isso? Como lutar contra o nosso inconsciente? Como lutar contra nós mesmos? Será um caso clássico de dupla personalidade ou apenas uma percepção exagerada – o exagerado é mau, nós convencionamos. Tudo são percepções. Tudo são ilusões.

Tudo é maya / ilusão ou samsara / círculo vicioso.

De resto, é seguir em frente, sempre com os olhos fechados e com muita calma. Mas cego eu nunca fui e calma eu nunca tive. Um trem desgovernado e sem freio. Um trem sem qualquer controle e que nada nem ninguém possa parar. É essa a imagem que me vem a mente sempre que eu penso em mim mesmo. Um trem. E nestes trilhos – que são a vida – tudo é possível. Mas como não há controle, a sorte e o destino se fundem, e nada é previsível. O que eu quero dizer é que não basta viver, há que se sentir o caos penetrando fundo na carne. Há que se sentir a vertigem. Há que se sentir o vento nos cabelos durante a queda no abismo. Há que se degustar com todo o deleite os momentos que precedem o momento final. E todos os momentos são finais.
A vida acaba aqui.

Um comentário:

Carla disse...

Sabe aqueles aliviosos [?] momentos que a gente percebe que não está sozinho?

Tu não estás sozinho. Nem nunca estará. Por mais sozinho que estejas.

E acho que só tu consegue entender.