sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Nosso Amor

Estava deitado ouvindo Arcade Fire pensando no que acontecia. De fato, acontecia muita coisa, mas eu não conseguia dispô-las em uma organização lógica em minha mente, afim de uma análise um pouco mais elaborada. Tentava: primeiramente havia um amor – ou algo que eu acreditava ser um amor; ou, em última instância, algo que eu convencionava chamar de amor. Aquilo que havia, o objeto ontológico de análise, aquilo que prescindia o nome “amor”, sem o nome não era nada – apesar de ser tudo. Então eu pensava primeiramente sobre o amor. Mas não sobre o sentimento universal grandiloqüente que todos convencionamos chamar de amor – eu pensava em um amor específico [eu e ela]. Logo, eu pensava nela. Mas novamente, não nela enquanto ela mesma, mas sim na minha visão dela. Como podem perceber, é tudo uma questão de semiótica, problemas lingüísticos, significante & significado. Mas o fato é que a partir do amor [aquele específico] e dela [aquela minha visão dela], eu definia a percepção que eu tinha de mim mesmo [ou uma delas – talvez a principal]. Assim eu me definia: eu era parte integrante e [talvez] indivisível do amor que havia entre eu e ela. É claro que este prisma apresenta vários problemas. Ver a si mesmo sob uma perspectiva que não é única e exclusivamente interna [e não são todas?] é sempre algo problemático. Mas eu partia do pressuposto que ela [parte integrante e indivisível do nosso amor, logo, de mim mesmo] também visse a si mesma, e ao nosso amor e, por conseqüência, a mim, sob o mesmo prisma – o que permitiria uma comunicação mais verdadeira entre nós. Mas veja bem, tudo isso acontece dentro da minha percepção interna [como um delírio, alucinação], podendo não significar nada fora deste contexto e, em último caso, ser uma completa farsa – uma mentira. Logo, não é difícil perceber que toda esta minha divagação é inútil. Eu deveria apagar a luz, desligar o som, deitar a cabeça no travesseiro e dormir. Mas sei que não farei isso por diversos motivos: 1) Eu não durmo à noite. 2) Este não é o meu travesseiro. 3) Esta não é minha cama. 4) Esta não é minha casa. 5) Eu continuo pensando nela e no nosso amor. O que é engraçado, pois o conceito de “nosso amor” remete à idéia de Amor Romântico Idealizado, o que não é o caso. O “nosso amor” é mais como uma guerra – uma eterna disputa de poder; um cabo de guerra metafísico. O “nosso amor” exige violência e disputa. Amamo-nos na mesma medida em que odiamo-nos, e desejamos viver um para o outro na mesma medida em que desejamos matarmo-nos. O “nosso amor” possui um duplo; um lado negro. Vida e morte. Eu e ela. O “nosso amor” doentio. Como um câncer, uma metástase espiritual devorando-nos mutuamente, simetricamente, igualmente – um amor duvidoso de si mesmo, duvidoso de nós [tão suspeitosos e duvidosos que sempre fomos]. Este amor deformado como nosso filho, disforme em seu esplendor – cego e carente. E nós o alimentando com beijos e violências. Nosso filho. “Nosso amor”. Nossa vida perdida nesta prisão de estarmos eternamente ligados um ao outro – estas algemas imaginárias, que do prazer passam à dor, do amor ao ódio; eternamente ligado nesta união maldita. Eu adormecia pensando nela e no “nosso amor”. Ela adormecia longe de mim. Eu sentia sua respiração no sono. Estava morto. Estava enlouquecendo. Estava amando. Estava odiando. Estava preso. Preso. Preso. Eternamente preso...

3 comentários:

Unknown disse...

Gostei do nome do seu blog, bem legal.
http://nossasviagenspelobrasil.blogspot.com/

Moleca disse...

Assim é o amor!
Algo a se sentir, inexplicável ... uma confusão clara de sentidos!

http://clikmoleca.blogspot.com/

P.S.: Adorei o blog!

Waliane

...Guga... disse...

O amor não passa de uma escolha.
O Amor verdadeiro compreende sim, disputas e dissabores.

A palavra é EQUILÍBRIO.

Que tipo de existência enfadonha seria a nossa se não houvesse prós e contras?

Se você escolheu ama-la o primeiro passo foi dado.
Se você reconhece que há equilíbrio, karma, ying e yang, saiba que é verdade esse sentimento.

Se não houvesse disputa, não seria concreto.

parafrasenado.

"Amor só é bom se doer"