quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dia cotidiano

Na Porto Alegre suja e poluída do século XXI é possível passar por mendigos bêbados, enxames de grevistas, assaltantes que não temem a luz do dia e trapos humanos com cachimbos de crack. Pode-se ver tudo isso nos poucos metros que um ônibus velho consegue percorrer no trânsito caótico desta cidade em um dia de chuva. As pichações se confundem com o cheiro de esgoto e com a multidão de desconhecidos, que parecem sem rosto sob a garoa fina.

É por este contexto caótico que um estudante tem que passar todos os dias ao se dirigir do centro à PUCRS. Uma realidade de misérias humana variadas passa lenta pela janela, enquanto no meio do congestionamento eu ouço Gardel no mp4 e penso no café com baunilha que me espera na PUCRS.

Confesso, nunca gostei de escrever crônicas. Sempre fui criticado pela minha falta de consciência social. A miséria nunca me comoveu. Mas o que me incomoda neste trajeto diário é a feiúra. Como escritor, sempre me guiei pelo instinto de beleza; sempre procurei ver a arte no cotidiano. Mas isso parece impossível em dias de chuva, preso no trânsito caótico, em uma cidade suja, podendo ver apenas a miséria pela janela.

3 comentários:

Samla disse...

Não é só em Porto Alegre, é em todo lugar.

Yêda Maria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Yêda Maria disse...

Forte sua coloção, vc não se comove com a miséria...é respeito as várias visões de mundo. Você não é o único com essa leitura. Moro em Salvador, onde existem lugares belíssimos, ricos e luxuosos. Os lugares feios da minha cidade são sempre miseráveis, fruto da indiferença de quem está no poder.