sexta-feira, 3 de julho de 2009

sobre a descrença & minhas duas mulheres

Às vezes eu me pego pensando “por que eu não consigo me envolver? Por que eu não consigo amar alguém? Por que eu não consigo me apaixonar?” O motivo essencial, creio eu, é a descrença. Muitas decepções ao longo da vida, o coração calejado. Fica difícil acreditar em tudo o que já se perdeu, em todas as ilusões – sejam passadas ou futuras. Mas além da descrença, eu vejo dois motivos secundários, duas razões/situações que me impedem de me envolver – me entregar? – com outra pessoa.

A primeira delas é uma eterna relação mal-resolvida que, entre idas e vindas, já dura lá seus dois anos e pouco. Para mim, seria a relação perfeita, se não fosse por um pequeno detalhe: eu não sou apaixonado por ela. Poderia até dizer que a amo, e isso talvez fosse verdade; mas não sou apaixonado por ela. Temos uma convivência harmônica – o que comigo é quase impossível –, e em alguns momentos ela até ajuda a balancear o meu frágil equilíbrio. Só não há paixão. A relação (quase) perfeita.

A outra razão/situação – não menos importante – é o eterno fantasma da mulher perfeita. Da mulher perfeita pra mim. Fantasma esse que me assombra há, creio eu, uns dois anos e pouco, quase três. Sempre ali, como uma possibilidade, como uma presença, como uma ausência, como poesia. O drama sangrento em cores vivas no meio da minha vida cinza e vazia. Tudo o que eu sonhei pra mim – eu que odeio clichês. O fantasma da mulher perfeita, sempre bailando a uma distância segura. Sempre em meus pensamentos; sempre em meus sentimentos – hoje tão raros.

Não sei exatamente à que conclusão chegar. Não sei o que pensar da minha descrença no amor e destas duas situações paralelas. A única certeza que eu tenho é a de que enquanto estas situações não se resolverem, eu serei incapaz de me apaixonar novamente. E quanto à descrença... bem, a descrença, creio eu, é insolúvel. Ou quase.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amigo, encontrei este teu texto e fiquei impressionado com o nuance que a descrença no amor pode ter.

Me sinto em situação similar, diferente no pensamento que temos. Você no dilema da mulher perfeita, eu no dilema que todas mulheres não querem outra coisa senão dinheiro e/ou poder, não há sentimento real por mim (ao menos nas mulheres que conheci) e, depois se separado, e tantas e tantas sacaneadas que tomei - e recentemente também dei algumas nelas - me sinto assim, anestesiado e descrente de amor, de diversão, nas mulheres... envolto numa solidão gigante...

Quis dividir isto com alguém que, ainda virtual e que não me conheça, talvez compreenda o que digo.

Abraços e obrigado pelo seu texto.