terça-feira, 19 de maio de 2009

Fernanda (da série "Memórias de Antes de Tudo Acontecer")

A história de Fernanda não é uma história trágica como a de Beatriz, a estrelete. Trágica talvez, só para mim. Fernanda que me amou e a quem eu amei. Amei quando ainda tinha a capacidade de amar. Amar é uma faculdade do espírito, que às vezes se perde no meio do caminho. A minha se perdeu depois de Fernanda, e depois de tantas outras mulheres que passaram pela minha vida. Quanto a mim e Fernanda, nos perdemos um do outro pelo caminho. O destino não quis, de alguma forma misteriosa e sublime. Um espírito maligno soprou-lhe no delicado ouvido o desejo de se ver livre de mim, e ela atendeu com devoção; imersa na dúvida, mas com o ímpeto furioso de sempre. Mulher do signo de Áries. Elemento fogo. Indomável. No fim, a função essencial do fogo é a destruição, fazer com que tudo arda até só restarem cinzas. “A cinza é mais digna que a matéria intacta.” E nós destruímos um ao outro, nos devoramos em chamas. De mim, só restaram cinzas; dela, nada sei. Perdemo-nos um do outro. O destino não quis. “O destino desfolhou.” O fogo ardeu. Foi demais pra ela. Foi demais pra nós. O fogo. O amor.

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