sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ausência

– Eu acho que eu te amo.

Eu sorri.

– Eu deixei de acreditar no amor há cinco decepções atrás.
– Teu sorriso é sempre tão triste.

E era mesmo. Mas eu não podia fazer nada sobre aquilo.
Estávamos os dois deitados, nus, na cama encharcada com o nosso suor e com o nosso gozo. Era uma noite de verão. As janelas estavam fechadas e estava tudo escuro. Só havia aquele cheiro forte.

– Um cheiro misturado, de união.

Isso era o que ela dizia. Eu só sentia o cheiro dela. Sempre foi assim comigo. Eu só conseguia sentir o cheiro das minhas mulheres. Acho que no fundo isso é bom. Não há lógica nenhuma em querer sentir o seu próprio cheiro. Mas o que me incomodava era ela falando desse “cheiro misturado”.

– Como se nossas almas se fundissem.

Eu nunca acreditei nessa merda. Pra mim almas sempre foram egocentricamente isoladas de todo o resto – incluam-se aí outras almas & menininhas de pernas abertas. E além do mais, não me parecia que o cheiro do nosso gozo revelasse nossas almas. Ou parecia?

Permanecemos deitados no escuro, em silêncio.

– Na nossa atmosfera de amor, como uma bolha.

Pra mim a atmosfera era apenas de exaustão sexual. Mas que parecia uma bolha, isso parecia.

– Eu já te disse que eu não acredito no amor.

Depois do gozo sempre me vem um vazio. Mas às vezes esse vazio é calmo e sereno e melhor que todo o resto.

– Se tu não acreditasse no amor tu não tava aqui comigo.

Às vezes eu fico me perguntando se as mulheres são realmente burras ou se elas definitivamente não querem enxergar. Acabo optando pela segunda. Quase sempre.

– Tu estás aqui para suprir o meu desejo sexual.

(Silêncio)

Às vezes a crueza é o melhor remédio. Um pouco de realidade pra estragar O Amor Romântico Idealizado.

– É só isso que eu sou pra ti? Um objeto sexual?

Fiquei pensando. A maioria delas era só isso mesmo. Mas ela talvez não fosse. Percebi que era com ela que eu compartilhava os meus momentos. Compartilhava tudo. Os livros, os filmes, as músicas, o sexo. Ela me ouvia pacientemente. Me idolatrava em silêncio. Eu sentia aquilo e me orgulhava em segredo.

Quando consegui aquele filme existencialista japonês ela já tinha ido embora. Eu estava muito empolgado com aquele filme. Assisti em estado de êxtase. Queria falar horas sobre ele, queria mostrá-lo para alguém. E foi aí que eu percebi que estava sozinho. Não havia com quem falar. Não havia com quem assistir o filme. Ela havia ido embora. E o mais engraçado é que fui eu que provoquei isso. Solidão pacientemente construída.

– Vai lá. Garanto que até o natal tu tá de volta.

E ela foi. E já há pinheirinhos pelas ruas e ela não voltou. Sempre há mulheres na minha cama. Mas não há mais companhia.

– Se ao menos tu tivesse dito “fica”...

Mas eu não disse. Não diria nunca. Até porque a minha vontade também era de ir-me para um lugar bem longe, um lugar qualquer distante daqui. Talvez voltar pra Buenos Aires. Talvez ir meditar e lutar contra os chineses no Tibet. Sei lá, pra qualquer lugar que não seja aqui.

O verão continua quente e abafado, exceto por algumas noites frias na semana passada. Noites de um bom vinho no meio da solidão.
E eu continuo nesse estado de suspensão da vida. Sozinho. Hibernando. Esperando.

– Tu ainda vai ser um grande escritor.

Pelo menos ela acreditava em mim. E, às vezes, isso faz toda a diferença.

3 comentários:

Anônimo disse...

Por que não disse "fica"???
Por que deixou que eu saísse da sua casa sem olhar pra trás para não correr o risco de tu me ver chorar??

Mas me fala do filme, fique horas falando a seu respeito... Estou aqui pra te escutar... Me conta o que houve contigo nesses últimos dias... Eu nunca te deixei sozinho. E ainda te acompanho se quiser.

Eu confio em ti... Acredito em ti... E... Tu será um grande escritor sim, tenho certeza...

Anônimo disse...

Quer ir pra Buenos Aires comigo?

Anônimo disse...

Estava enganada a seu respeito,infelizmente vc n sabe o que é amor...

Realmente o prazer carnal é forte,tão forte que engana,achas tu que só existe isso no mundo,achas tu que não existe amor...
o olhar q é o espelho da alma ,pode revelar se existe amor entre o homem e a mulher...
Mais essa sensação é rara só existe uma pessoa para cada ser ,se não encontraste ,não é pq não existe ,é pq é uma perola rara...
Mais gostei de sua objetividade
foi verdadeiro com a moça,se fosse amor vc não pensaria ,sentiria e não duvidaria