quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Metrô

Às vezes me dá uma sensação de perda, esta viagem. Como se tudo que eu tivesse conquistado ao longo destes últimos anos agora tivesse se perdido. O dragão de bronze, o bonsai de jabuticaba, os livros – cuidadosamente empilhados um a um, com muito carinho, na estante –, o apartamento confortável e aconchegante. Ficou tudo pra trás. Junto com os amigos e com a família, que é o que realmente faz falta. Ficou tudo pra trás. Eu vim pra cá com nada nas mãos e um punhado de esperanças tolas no coração. É burrice, eu sei. Mas era preciso. Uma nova cidade, um novo país, um novo idioma. Mas tem dias em que eu me pergunto o quanto era preciso. Dias como o de hoje, em que depois de várias horas de caminhadas inúteis e buscas frustradas, eu me enfio embaixo da terra e tomo um metrô lotado. Então, no meio daquela falta de oxigênio e pressões por todos os lados, me vem uma espécie de revelação, e eu penso se tudo isto era realmente necessário. Ao ver a minha estação passando e perceber a minha total imobilidade, sabendo que terei que descer na última estação e caminhar até em casa, eu que já estou tão cansado, tão cansado, tão cansado, sou tomado por uma raiva cega, que tira forças sei lá de onde, e subo escadas correndo e cruzo viadutos em meio ao trânsito caótico correndo e amaldiçôo a decisão de ter saído da minha vida confortável com cama macia e bons vinhos chilenos, amaldiçôo o fato de eu estar aqui. Quando percebo estou na porta de casa, quando dou por mim estou no meu quarto, exausto, sentado na cama, cabeça enterrada entre as mãos, lágrimas correndo. Estou tão cansado que nem sei mais porque choro. Talvez eu chore por tudo que se perdeu. Mas o mais provável é que eu chore por tudo que ainda se perderá. Estou exausto desta vida. Tiro os tênis, deito na cama. Não para dormir. Para esquecer. A vida é cruel, a vida destrói. E tem dias em que eu não sou forte o suficiente para agüentar. Mas da próxima vez que um destes dias vier, eu vou lembrar de não pegar o metrô.

6 comentários:

Anônimo disse...

Ontem eu cheguei em casa de meio-dia para almoçar. Cheguei chutando portas, pufes e geladeiras.
Todo o meu crédito [$] havia acabado. E eu amaldiçoei a vida. E almadiçoei a todos e tudo. E chutei tudo que fosse chutável [e não quebrável].

No fim [desta rápida e intensa crise] eu só lembrei que a vida é dura. E isso me reconfortou.

Unknown disse...

Normal, tudo isso: tu tens claustrofobia, como eu. Mas nada é em vão. Persista, agora já foi, tinha que ser. amanhã será bem melhor.
te amo.
beijo.

Falando de Rock disse...

Fantástico!

Crazy Mary disse...

É, amanhã é outro dia. É uma desculpa, mas pelo menos tira o peso do dia de hoje. Boa viagem.

Carla disse...

Tenho saudades de alguém que só ouvi a voz. Que só vi o rosto por foto. Que só conheci através da leitura.

A vida é dura, e gosta de mostrar isso na primeira chance que tem. FORÇA. Se eu te disser que estou com inveja, tu acreditas?

Não vou conseguir ir á Buenos Aires pro show da Madonna, mas queria ir no verão.
Se precisares de ajuda, tenho uns contatos, é só falar.

;*

Nandia Moranga disse...

Aproveita ao máximo tudo isso, e tu sabe que quando tu voltar pra cá, todos vão estar esperando por ti, adoro você e só quero o melhor pra ti.. Beijo :]