quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Morte do Amor Romântico

O Amor Romântico deixou de existir há muito tempo, simplesmente porque não há mais possibilidades de que exista o seu objeto de idolatria na nossa sociedade. O Amor Romântico pressupunha um ideal, algo (sentimento) ou/e alguém (pessoa) a ser alcançado. Esta pessoa era elevada através dos mais altos níveis de idealismo, e o sentimento tornava-se mais intenso na proporção inversa das possibilidades de concretizá-lo. Todas as histórias de Amor sempre foram histórias de buscas, de jornadas, de lutas. O “...e foram felizes para sempre” é sempre o final, pois ao se concretizar o sentimento, nada mais há: perde-se tudo, inclusive o próprio sentimento. As histórias de Amores Românticos sempre foram histórias de sentimentos inconcretizáveis.

O que ocorre hoje é justamente o contrário: há a concretização, mas não há o sentimento. Existe o desejo, e a satisfação imediata deste desejo. E caso não haja esta satisfação com o objeto/pessoa desejada, este desejo direciona-se à outra pessoa/objeto, afinal, nossas vidas são muito corridas para perdermos tempo com situações que não se definem/concretizam. Hoje tudo é muito rápido, muito imediato. E todo este imediatismo não permite que haja tempo para se construir um ideal a partir de uma pessoa. Não buscamos mais ideais: buscamos a satisfação dos nossos desejos. E é aí que está: o Amor Romântico sempre foi um ideal. Ao perder-se o ideal, perde-se tudo.

Veja bem, não estou dizendo que não existam relacionamentos, até porque relacionamentos nada têm a ver com Amor, nunca tiveram (salvo raras exceções). Um bom relacionamento é composto por vários fatores, e Amor não é necessariamente um deles. Os relacionamentos sempre foram – e continuam sendo – instituições sociais. A humanidade possui um longo – milenar – histórico de casamentos arranjados. Casamentos duradouros e “felizes”. Com Amor? Duvido muito. Acontece que a nossa sociedade, historicamente, é a mais hipócrita que já existiu: teoricamente somos livres para fazermos o que quisermos. Podemos transar alucinadamente com cinco desconhecidos em qualquer festa, mas ao falarmos de sexo em público devemos ser mais puritanos que Joseph Ratzinger. E isso vale também para qualquer outro assunto “polêmico” – leia-se sério e coberto de hipocrisias.

Neste contexto de sociedade caótica, hipócrita e vertiginosamente acelerada, é impossível que exista o Amor Romântico. Este tipo de sentimento exige tempo e crença. Crença em si mesmo, no outro e no próprio sentimento. E no nosso mundo de ceticismos, a crença não passa de outra instituição social. Hoje um relacionamento e uma crença são duas belas coisas para se mostrar aos amigos num domingo.

E quanto ao Amor Romântico? Bem, esse já virou his(es)tória...




Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste

Eu não existo sem você - Tom Jobim & Vinícius de Moraes

2 comentários:

Carla disse...

Perfeitamente bem colocado.
Eu nunca tinha parado pra pensar nisso. xD

E.. babacas são pessoas que se escondem atrás de possibilidades de anonimato.

;*

Anônimo disse...

E acho que ainda faltou dizer que falta o Amor até no ato de conservar-se o Amor. Os relacionamentos, como vc disse, são cada vez mais fugazes. Vez ou outra, vc tem a visitação do Amor, mas, porque o outro chegou um dia atrasado, isso começa a deteriorar. Você pode dizer "mas, se deteriorou é pq não é Amor". Talvez, eu discorde. Uma coisa que sei e sei pq eu vivo isso nas minhas veias, é que o Amor é, de empréstimo ao Drummond, privilégio de poucos, é algo que vem tarde, chega até a ser envelhecido. E o que está acontecendo é que hoje as pessoas não deixam os relacionamentos envelhecerem... Elas o assassinam logo mais, porque, como conta o novo jargão "A fila anda..." Nessas horas, a despeito de tudo, só me resta perguntar "E em qual parte da fila você há de colocar a sua alma"?
É isso!