quinta-feira, 3 de abril de 2008

Por favor, chame as fadas e toque o piano

Qual é a sensação? Vazio. Um grande vazio. Todas estas vozes e todas estas pessoas borbulhando à sua volta e ele ali: parado no meio daquilo tudo, vazio. Não sabe o que fazer, não sabe o que pensar, não sabe o que sentir. Não quer fazer pensar sentir. Permanece ali parado, vazio. Procura alguma identificação com alguém, com alguma coisa. Não encontra. Tem vontade de tentar. Não é uma vontade intrínseca, mas quase como algo que lhe é imposto. Como se tivesse o dever de tentar. Não tentava. Não era por mal que não tentava, não era por simples vontade de contrariar as pessoas - embora achasse isso muito divertido. Era simplesmente pelo fato de não ver sentido naquela tentativa. Tentar pra quê? Por quê? Pra quem? Por fim, não tenta. Sente-se alienado pela incompreensão do mundo em relação à sua pessoa. Queria explicar para o mundo: "olha, eu sou assim, e não há nenhum mal nisso". Mas não tinha forças. Talvez até tivesse, mas não tinha vontade. Tinha preguiça de se fazer compreender. Afinal, o mundo exterior à sua pessoa não tinha nenhuma importância. Por que deveria ter? Todos os caminhos são interiores e não exteriores. O mundo à sua volta era apenas mera ilusão de sua consciência, então não via motivos para se procupar com ele. Aquele turbilhão à sua volta não fazia sentido nenhum. Levantou e saiu. Queria encontrar alguma lugar calmo e tranquilo, mas parecia que o mundo o perseguia. Queria fugir deste mundo. Era perseguido, encurralado, forçado a viver uma vida que não era a sua. Fugiu fugiu fugiu. Quando, já exausto, parou e olhou à sua volta, viu o mesmo mundo e a mesma vida. Turbilhão. Fervilhava à sua volta. E ele, sem perceber, fervilhava junto. Tentando fugir ele fervilhava e fazia o turbilhão girar e girar e girar vertiginosamente. Já estava tonto e enjoado. Queria perder-se alguns minutos em um conto de fadas, mas havia já muito tempo que ele havia crescido e que as fadas o haviam habandonado. Fadas não viviam em meio à turbilhões. Nem ele. Ele existia. Estava ali para os outros verem. Mas não vivia. Não de verdade. Afinal, viver sem fadas esvoaçantes e um piano ao fundo, não é viver.

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