domingo, 9 de março de 2008

Uma fábula

Era uma vez uma menininha passeando pela floresta. Ela ia indo feliz e saltitante, abanando seus cachos ruivos, sem medo de lobo mau e bicho papão. A certa altura do caminho, ela encontrou um coelhinho, bonitinho, de pelo branquinho, olhinhos vermelhinhos, todo fofinho e que também saltitava por ali.

– Oi seu Coelho. O que faz por aqui?

– Nada de mais. Estou só dando um passeio pela floresta. E você, menina estranha do cabelo vermelho, o que faz aqui na floresta? Este não é o seu lugar...

– Ah, sabe seu Coelho, eu vim dar uma volta, assim, por um lugar diferente, pra ver e conhecer umas coisas diferentes, sabe... Lá onde eu vivo é tudo sempre muito cinza e muito igual e muito monótono. Eu vim aqui, pra essa floresta linda e colorida, ver se eu acho alguma coisa que me faça sentir... sentir qualquer coisa, que não aquele tédio cinza de sempre...

– Então olha ali o Lobo...

O Lobo estava deitado, cinzento e entediado, em meio à floresta colorida.

– O Lobo não vai me pegar?

– Não, ele não pega mais ninguém. Ele está assim, deitado e cinzento, há muito tempo, nem consigo lembrar desde quando...

– Por que ele está assim? O que aconteceu com ele?

– Ele se decepcionou. Vivia correndo atrás dos animaizinhos, e quando os comeu, viu que o gosto não era tão bom, e viu que estava sozinho e que todo mundo fugia dele. Desde que ele percebeu isso, ele fica ali, deitado, não come nada e não fala com ninguém. É como se fosse uma pedra cinzenta no meio da floresta...

– Mas como ele pode ser triste no meio desta floresta colorida?

– A floresta é cinzenta pra ele, assim como o teu lugar é cinzento pra ti. Todo lugar depende dos olhos que o vê...

– Eu vou falar com ele.

– Pode ir. Não vai adiantar mesmo...

– Oi...

O Lobo não respondeu.

– Olha só, não tem porque você ficar triste e cinzento aqui no meio dessa floresta colorida. Eu daria a minha vida pra viver aqui, eu queria fugir pra cá todos os dias!

– E o que é que tem aqui? – Perguntou o Lobo.

– Tudo! Árvores, flores, pássaros, alegria, felicidade...

– Não... Aqui só tem mato e solidão...

– Não! Tu não vês?!

– Sim, eu vejo. Tu vês, aqui, nesta floresta, apenas o que tu sente por ela. Assim como eu. Isto aqui é bom pra ti, porque é a tua fuga, não a tua realidade. Mas é a minha realidade...

A menina voltou para o seu mundo cinza pensando no que o Lobo lhe dissera.

Então, no dia seguinte, saindo de casa, em meio a todo aquele cinza e barulho e sujeira, ela viu um passarinho vermelho pousado em uma árvore verde, bem em frente a sua casa. E depois ela viu flores amarelas. E assim ela foi vendo vendo vendo. Vendo tudo diferente. Sentindo tudo diferente. Colorido.

Quando ela percebeu, seu mundo não era mais cinza, era colorido como a floresta, e o sentimento em seu peito não era mais cinza-opaco-apagado, tinha agora cor. Vermelho, como os seus cabelos.

Foi correndo de volta à floresta para falar com o Lobo. Ela estava muito feliz. Quando chegou lá, o Lobo não estava no seu lugar de costume. Correu pela floresta até encontrar o Coelho, e esbaforida perguntou-lhe:

– Seu coelho, onde está o Lobo?

– O Lobo morreu.

2 comentários:

tiago. disse...

lobos cinzas morrem, meninas enchergam o mundo colorido. esta é a lógica da vida. (?)

Anônimo disse...

\o/ surpreendente

gostei